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Quanto custa o preço da especulação?

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  • Por: Nelson Faria

Como se já não bastasse a seca severa que atravessamos, a nossa limitação na capacidade produtiva, as consequências económicas da Covid-19 na relação com o espetro inflacionista que já verificávamos, vem agora a guerra na Europa inflar ainda mais este contexto. Portanto, dentro da realidade que é o mundo atual, o aumento de preços é natural.

Infelizmente, super impactante no nosso país, muito por sermos um país de desenvolvimento médio baixo, com inúmeras fragilidades e sujeito às volatilidades do mundo. Mundo esse cada vez mais complexo e instável, diferente do mundo que tivemos até 2020.

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A baixa renda, ou nenhuma, de boa parte da nossa população não permite visualizar um cenário animador nos próximos tempos. Por isso, é de supra prioridade atuação para atenuar o sofrimento dos mais vulneráveis, dentro do que for suportável pelo país, procurando apoios e auxílios internacionais onde pudermos. A solidariedade comunitária será reivindicação deste tempo ao qual o papel da cidadania será muito importante.

Não obstante os referidos aumentos de preços, naturais deste contexto que se perspetiva conjuntural, embora não se vislumbre o seu final, uma prática oportunista tem-se verificado em alguns sectores e comerciantes que, especulando aumentos, têm açambarcado e aumentado lucros exorbitantes sobre stocks de produtos adquiridos a preços mais baixos, elevando-os como se tivessem sido adquiridos à data de hoje. Bom senso! Justiça nos preços, é necessário.

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Se por um lado devemos aceitar a naturalidade dos aumentos nesse contexto, por outro pede-se sensatez, empatia e solidariedade a quem define e beneficia com os preços dos produtos. Claro que não se espera que percam valores, o negócio e o serviço, para continuidade de existência demandam que haja margem de lucro para os comerciantes, o que não se deseja é o enriquecimento à custa da “exploração” das necessidades de uma população que sofre as agruras do mundo atual. Acredito que muito contribuiria a oportuna e necessária atenuação de taxas aduaneiras neste cenário para produtos alimentares, mormente os de primeira necessidade, quer importados pelo sector do comércio, quer das ajudas familiares advinda dos nossos emigrantes. O que não deve ser aceitável é mesmo o custo da especulação oportunista de alguns…

Contudo, penso que, por um mundo diferente do que tínhamos até 2020, não tão estável, demasiado complexo em vários domínios, novas formas de pensar e de agir, em todos os sectores, particularmente na política, são vitais para atenuar o sofrimento dos mais desfavorecidos. A nossa sobrevivência enquanto nação, a capacidade de suportar e ultrapassar as crises atuais e, eventualmente, outras futuras, demandam lideranças capazes, formas de agir inovadoras, adaptáveis aos contextos, flexíveis, empáticas e, realmente, democráticas. Onde a participação, inclusão, interação, capacidade de ouvir o diferente absorvendo boas ideias contraditórias, basicamente humildade, são necessárias. Onde todos, solidariamente, entendem os desafios e, subsidiariamente, fazem parte da sua solução.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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