O mês de setembro marca indelevelmente a passagem brilhante de António Aurélio Gonçalves pelas ruas do Mindelo. Nasceu a 25 e morreu a 30. Nestes dias, convém celebrar esta figura incontornável da Cultura Cabo-verdiana.
Por: João Delgado Cruz
Lembro-me com agrado de ser convidado para uma atividade organizada pelo Instituto Camões denominada “Passeios com Histórias”. Guiei um grupo de aficionados pelos caminhos da Vida e Obra deste filósofo e escritor. O escritor que nos mostra de forma extraordinária a mulher como o rosto da sociedade cabo-verdiana.
Jorge Tolentino, num opúsculo publicado em 2014, diz-nos que ele construiu o seu discurso “elegendo as mulheres como as suas personagens predilectas, Gonçalves desnuda, pelos dramas por elas vividos, os sofrimentos da terra. E é com Aurélio Gonçalves que a mulher destas ilhas adquire, de uma vez para sempre, direitos de cidadania na literatura cabo-verdiana.”
E, mais à frente, sublinha ainda isto: “Na verdade, Aurélio Gonçalves tinha os pés devidamente fincados na terra. Se assim não fosse, como poderia ele ter produzido uma obra tão preocupada com os mais humildes da sua terra?”
Já Manuel Ferreira identificava a humildade do autor de Virgens Loucas, “Corrigia mentalmente e, ao cabo, escrevia as suas histórias. E só então, calma, calmamente, emendava, melhorava, sem pressas e sem ambições imediatas, denotando um desdém absoluto pela publicidade e pela conquista fácil. Tímido, organicamente avesso ao espectacular, fugia ao protocolo como o diabo foge da cruz.”
Salve, Nhô Roque! As almas puras brilham na eternidade.