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PAICV: Momento Delicado e Desafiante

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No quadro da eleição para o cargo de Presidente, o PAICV está a viver um momento, simultaneamente, delicado e desafiante.  

Por: Basílio Mosso Ramos

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Delicado porque, não raras vezes, a experiência de disputas internas tem sido negativa, devido, entre outras, a dificuldades na gestão do processo, dando lugar a zangas, dissensões, fragilização da organização e derrotas nas eleições para órgãos do estado. Desafiante porque, se for gerido com equilíbrio e bom-senso, com foco no partido e não no ego de cada um, poderá funcionar como factor de motivação dos militantes, reforço da coesão interna, melhoria da imagem pública e criação de uma dinâmica ganhadora nas próximas legislativas de 2026.

O momento é ainda caracterizado pela existência no seio dos militantes de um sentimento de satisfação e elevada auto-estima, decorrente da recente vitória nas autárquicas, mas também de apreensão quanto ao futuro próximo, pois têm a consciência de que o fortalecimento do partido, com vista à obtenção de bons resultados nas legislativas, dependerá, em grande medida, da forma como for gerido o processo eleitoral interno, dando lugar ao reforço da coesão ou ao surgimento de dissensões.

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Por me situar entre aqueles que estão satisfeitos, mas apreensivos, defendi que o ideal seria que os candidatos, com base nos respectivos projectos, consensualizassem um nome, com a assunção do compromisso de que todos cooperariam para melhorar a gestão e assegurar o triunfo do partido em 2026.

Entretanto, os dados disponíveis sugerem que não vai haver consenso e o mais provável é que haja disputa, o que implica que esta seja naturalizada, prevalecendo o entendimento de que o debate deve centrar-se nos projectos e nas ideias, feito com elevação, urbanidade e espírito de camaradagem, evitando-se excessos, crispações e dissensões passiveis de provocar o afastamento de militantes e a fragilização do partido. 

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Contrariamente ao que seria de esperar, já há sinais preocupantes decorrentes de determinados pronunciamentos, posts, comentários, factos políticos, práticas que a persistirem dificilmente nos conduzirão a bom porto, pois só contribuirão para aumentar a tensão e inquinar o ambiente.

Não esqueçamos que as eleições legislativas estão próximas, sendo curto o tempo para sarar eventuais feridas e promover a reconciliação. Se falharmos nas eleições internas, teremos poucas hipóteses de triunfar nas externas, com todas as consequências daí advenientes, nomeadamente a de ficarmos com um partido dividido. 

Se é verdade que cada militante é responsável pelo desempenho do partido, não é menos certo de que, neste momento, é de capital importância a responsabilidade dos candidatos que devem comportar-se como líderes, dando o exemplo e orientando os seus apoiantes no sentido de colocarem o foco na defesa e valorização da imagem do PAICV, sem, no entanto, deixarem de apoiar a respectiva candidatura.     

Inspiremo-nos no bom exemplo da disputa de 2000, na sequência da qual o PAICV ganhou as legislativas de 2001, 2006 e 2011, feito inédito em Cabo Verde, e façamos da presente eleição interna um vigorante tónico para o fortalecimento do partido e um catalisador para as próximas legislativas. Não percamos esta oportunidade.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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