Pub.
Opinião
Tendência

Olhar crítico da Praia da Laginha, em S. Vicente: Recordando os tempos bons d’outrora

Pub.

Abel Almada

Remontando ao passado da Praia da Laginha, a que se deslocava muita gente para convívio, nadar, conversar com os amigos em particular, me sinto no meu dever cívico de relembrar-vos os bons momentos vividos por mim, no passado, nela, com as suas características naturais, em face das actuais artificiais, resultantes da sua expansão mais para o interesse turístico.

Publicidade

Quem não se lembra da Praia da Laginha, portadora da sua invejável areia preta fina, desde o antanho Estado Novo Português de Salazar/Caetano, que sobreveio a 5 de julho de 1975, data da independência do arquipélago de Cabo Verde até à data de 2017, em que se deu a sua expansão, com a introdução da areia branca, extraída do fundo do mar da Baia do Porto Grande do Mindelo?

Quem não se lembra naquela altura, das crianças a brincar com os baldinhos, enchendo areia ou água do mar, em divertimento que as estimulavam ao desenvolvimento cognitivo e emocional? Por vezes, ora elas construíram lindos castelos de areia, ora cavaram, simplesmente. buracos na areia, nos quais enchia a água do mar.

Publicidade

Quem não se lembra do passado, em que os banhistas se deslizaram nas pranchas sobre as ondas do mar, executando os movimentos com o equilíbrio, a agilidade e muita manobrabilidade, ou, nadando sobre elas com a elegância? De outros, com os braços estendidos para frente, em favor das ondas que se formaram distantes pela acção de vento, se deslizando sobre elas em direcção à praia.

Quem não se lembra, outrossim, dos banhistas a jogar o vólei, o futebol ou a praticar outras actividades recreativas nessa emblemática praia são-vicentina, principalmente, aos fins de semana?

Publicidade

Quem não se lembra, também, dos banhistas, moldando a areia do mar para fazer bonecos? Sabendo-se que os banhistas os executaram com muita criatividade e com um profundo conhecimento prático e sabedoria.

Quem não se lembra dos banhistas, movidos pela sua própria vontade e desejo de cavar buracos, onde ficaram soterrados, por algum tempo, pela areia? De outros, deitados de costas ou de barriga sobre a areia ou, na hora de ir para casa, ficaram de pé sobre as pedrinhas do mar, enquanto aguardaram o secar do corpo, para se vestirem depois?

Nessa ordem de perguntas, fazendo a análise do estado actual da Praia da Laginha, diria que já não é mais aquela praia do mar que antes encantara os banhistas, em virtude da beleza das suas areias, pretas e finas, e de suas águas serem cristalinas. É pena que foi, deliberadamente, destruída pela acção humana, no ano 2017, em prejuízo de interesse público. Sobre ela foram despejadas grandes quantidades de metros cúbicos de areia grossa, extraídas do fundo do mar, aquando da construção pela Enapor – Empresa Nacional Portuária, do Terminal de Contentores do Porto Grande do Mindelo, em São Vicente.

Consequentemente, isto causou impactos ambientais, afectando, directamente, a vida das tartarugas que procuravam essa praia para desovarem, além de destruição de banco de corais e, possivelmente, o desaparecimento de peixes, que frequentavam, então, a orla marítima da Praia da Laginha.

Portanto, essa praia perdeu as suas características próprias devidas ao desaparecimento da areia preta e fina, bem como, a decoração com as pedrinhas pretas e brancas do mar que se encontravam nas suas margens. Muitas delas eram recolhidas por seus frequentadores, para decoração de objectos nas suas habitações. Mas hoje, isso já não existe, lamentavelmente, devido à grande extensão da praia que os encobriu, até ao ponto de ondas do mar pararem de quebrar na praia.

Quando chove, essa praia encoberta de areia branca, fica literalmente destruída, chegando a abrir buracos que atinjam um ou mais metros de altura. E, como se não bastasse, as terras removidas da limpeza da Avenida Marginal, devido às enxurradas, são, infelizmente, nela despejadas.

Com a destruição da Praia da Lajinha, causada pelas areias que são levadas para o mar pelas águas pluviais, a Câmara Municipal de São Vicente sempre intervém para a sua reabilitação, porque a orla marítima é da sua jurisdição administrativa, e não do Governo, normalmente, com a ajuda financeira da Enapor, empresa estatal.

Consequentemente, perante o fustigar dessa praia pelas chuvas torrenciais de 11 de Agosto de 2025 (tempestade ERIN), vai chegar um tempo em que ela irá exigir a reposição de mais areias, com certeza, com elevados custos e de alguns benefícios.

É caso para pensar, se não seria melhor a Camara Municipal de São Vicente remover, de uma vez por todas, essa areia grossa e de má qualidade e depositar nela areia preta, rustica, com atracão turística diferente das praias de areia branca, natural, das ilhas do Sal e de Boavista.

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo