Rony Wahnon*
Muitas vezes, ao conversar com jovens e adultos em São Vicente sobre empreendedorismo, ouve-se a mesma frase: “Quero abrir um negócio, mas não tenho dinheiro.” Essa ideia, repetida quase como uma verdade absoluta, revela uma mentalidade enraizada de escassez. Mas será mesmo o dinheiro o maior problema para empreender?
Na prática, não é, o verdadeiro desafio está noutras dimensões, mais silenciosas, mas muito mais decisivas, a falta de disciplina financeira, o fraco planeamento, a ausência de acompanhamento contínuo e, principalmente, uma mentalidade limitada, que associa sempre sucesso com dinheiro
imediato.
Muitos negócios em Cabo Verde nascem sem estrutura, as pessoas investem o pouco que têm sem um plano de negócios sólido, sem estudar o mercado, sem definir metas claras ou prever riscos. O resultado é previsível, quando surgem dificuldades, (que são naturais em qualquer negócio), o desânimo e o fracasso tomam conta.
Outro ponto crucial é a falta de disciplina financeira. Há quem misture as finanças pessoais com as do negócio, quem gaste os primeiros lucros sem reinvestir, ou quem não saiba gerir o fluxo de caixa, sem educação financeira básica, até um negócio com potencial se perde no caminho.
Além disso, falta acompanhamento e apoio contínuo. Não basta abrir a empresa, é preciso crescer, adaptar-se, aprender com os erros. Muitos empreendedores iniciam sozinhos e continuam sozinhos, sem mentoria, sem orientação técnica e sem redes de apoio. Isso enfraquece o processo e torna o caminho muito mais duro.
E há ainda o fator mais invisível, mas talvez o mais limitador: a mentalidade de escassez. Uma forma de pensar que foca no que falta (“não tenho dinheiro”, “ninguém apoia”, “o sistema não ajuda”) em vez de explorar o que já existe, talento, criatividade, rede de contactos, acesso à internet, ou até pequenos fundos e apoios locais. Essa mentalidade bloqueia o empreendedor antes mesmo de começar.
É preciso mudar o discurso: o problema não é (só) o dinheiro, o problema é começar mal. Um bom projeto, com planeamento, educação financeira e persistência, pode nascer com pouco e crescer com consistência. Cabo Verde precisa de empreendedores preparados, e não apenas financiados.
Empreender é um caminho difícil, sim, mas com a mentalidade certa, é possível trilhar esse caminho mesmo sem muito dinheiro. Porque no fim das contas, dinheiro sem visão é desperdício, mas visão com disciplina pode atrair dinheiro.
*Vencedor Premio Empreendedor do ano 2024