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O cidadão cuida do seu cão!

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Tenho um filho com cinco anos que tem uma afinidade e facilidade de contacto com os animais que impressiona. Onde há animais, ele ignora as pessoas. Por ele, a nossa casa seria um jardim zoológico com todos: répteis, insetos, os domésticos e até selvagens. Diz-me ele que quando crescer quer ser “dotor d’animais”… e já foi mordido por cães, arranhado por gatos e picado por insetos, o que não lhe traumatiza.

Por: Nelson Faria

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Obviamente, a vontade dele é incomportável. Não há como adotar todos os animais que ele nos propõe, por não termos espaço e tempo adequado para os cuidados e atenção que merecem. Fazê-lo entender isto é circunstancialmente difícil, mas, depois passa. O máximo que conseguimos, onde moramos, foi adotar uma gata pelas boas características dos gatos. Futuramente, com mais espaço e tempo, quem sabe, um cão. Por agora, até eu que não tinha afinidade com gatos, passei a adorar.

Das minhas memórias com os cães, marcou-me profundamente a perda de um cão quando era criança, por ter sido envenenado, “dód bocód”, por num dia ter saído de casa sem acompanhamento. Foi como perder um parente, tal era a ligação e afeição que tinha ao animal, pois, a ligação que estabelecemos com os animais, se os conseguimos sentir, está no mesmo nível ou até mais profundo que muitas que estabelecemos com seres humanos com quem nos relacionamos.

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Por isso, ver maus tratos nos animais custa-me profundamente e incomoda-me muito pela memória de infância que carrego. Quando digo maus tratos não me refiro apenas às imagens recentes do Canil Municipal e da forma como os cães têm sido apanhados e transportados. Refiro-me também à irresponsabilidade cidadã na forma como não cuidam dos animais. Os cães, assim como outros animais, não são nossa propriedade, são seres vivos, nossos companheiros de jornada que fazem parte do ecossistema que vivemos e carecem de melhor tratamento por parte de quem se propõe a “ter” animais domésticos.  Não são brinquedos, não são matéria de ostentação, não existem para propósitos outros que não seja cuidar, amar e permiti-los viver da melhor forma.

Concordo que a condição de recolha e tratamento dos cães vadios em São Vicente tenha de ser melhorada, concordo que deve a Câmara Municipal cooperar com associações e especialistas num projeto de contenção do aumento da população canina que vagueia pelas ruas da cidade, o que é deveras um problema de saúde e segurança pública. Contudo, nada disto terá efeito a longo prazo se os cidadãos não se responsabilizarem pela forma como tratam os animais, ou melhor, maltratam os
animais.

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Mesmo com intervenção municipal e especializada sobre o assunto, se a mentalidade e a forma de trato dos animais for a que temos hoje, ciclicamente risco do problema persistirá. A questão de fundo, quanto a mim, é educação e responsabilidade individual. Responsabilidade cidadã precisa-se na adoção e cuidado de animais, particularmente cães.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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