Já o conhecia dos tempos do futebol de “cata assá”. Era um dos que retardava o início dos jogos com a malta da Bela Vista, a espera que Jack e Baiassa saíssem do trabalho. Nos duelos adolescentes com esses craques, fomos endurecendo o nosso jogo e criando laços.
Por: João Delgado da Cruz
Sempre que encontro o Manelas, há aquela empatia, uma ligação mágica entre amantes das coisas simples. Vim a saber o nome e a alma num daqueles momentos de aprendizagem que levamos para toda a vida. Foi no Hospital Baptista de Sousa. Os nossos pais encontravam-se em leitos vizinhos depois de cirurgia de amputação de perna.
O meu pai por causa do Diabetes Mellitus, o pai do Manelas por causa da Elefantíase. Foram amputados no mesmo dia, a alegria do pai do Manelas contrastava com a revolta pressentida nos olhos do meu pai. Nas nossas conversas, aprendi mais que em toda a minha vida. Havia pontos comuns, mas a história do Manelas tem uma grandeza inigualável.
Aprendi um amor tardio, um amor filial, com a história do Manelas. Era a primeira vez que falava com o meu pai, olhos nos olhos. Ficava a espera das cinco horas para conversar com ele e com o meu AMIGO. Este contou-me que o pai tinha sido mordido por um mosquito nas Roças de São Tomé. Durante muitos anos o pai viveu arrastando uma perna mais pesada que a pobreza e a solidão.
O meu amigo fez das tripas coração, comprou uma passagem e foi até São Tomé buscar esse pai que não conhecia. Via-se nas palavras do Manelas a pureza de um SER HUMANO. Via-se nos olhos do pai do Manelas a alegria do alívio de um peso e uma solidão de trinta e quatro anos. Entrevia-se nas palavras do meu pai, apesar da tristeza, o orgulho de sentir o acordar de um amor paterno adormecido. Os nossos pais hoje moram no céu.
Nunca mais vi o Manelas, mas sempre, em dias como hoje em que penso no sentido da vida, lembro-me das suas palavras “Nha broda, denhere te sirvi ê pe ês coza li”.
Muita saúde, MEU AMIGO Manelass Brito Brito, o teu coração é GRANDE!