David Leite
Como muita gente, não consigo deixar de pensar nessa pobre senhora de avançada idade nas mãos de três bárbaros selvagens numa noite de Sexta-feira da Paixão.
Sei que muitos, como eu, se esforçam para calar o ódio que lhes vai na alma para não dizer como gostariam de ver sentenciados esses carrascos, cujo acto ignóbil mexe com as consciências mais empedernidas. Três matulões, três brutos furiosos capazes de torturar uma inofensiva idosa de 85 anos até deixá-la inconsciente, certamente abdicaram da sua condição de ser humano. E não sendo humanos, deveriam ser tratados como os monstros ferozes que são. Direitos humanos, é para pessoas humanas, não para monstros e cães raivosos!
Os três agressores
Fonte próxima da família me narrou o calvário de Nha Ninha nessa noite trágica de sexta-feira para sábado. E disseram-me quem eram os três criminosos. O primeiro, Walter, era um jovem protegido da D. Ninha, seu vizinho no mesmo prédio porque vivia num dos quartos que a velha dama aluga no andar superior. Walter, que antes vivia no Calhau, fazia-se grande amigo de Nha Ninha, muito solícito e diligente com a simpática idosa, ajudando-a até nas lides da casa. Assim foi ganhando a confiança de Nha Ninha enquanto preparava o seu abraço de cobra.
Porém, na sua aparente gentileza, o patife dissimulava o seu passado de perigoso delinquente com uma longa estadia na Ribeirinha. Só depois do trágico episódio é que a família ficou a saber, pela polícia, que o assaltante já tinha cinco anos de cadeia no seu cadastro criminal por ter violado uma mulher em S. Antão, ficando com o dinheiro de um porco que a sua vítima lhe confiara para vender.
Nessa fatídica noite de Sexta-feira Santa, 18 de abril, o perverso Walter levou consigo dois amigos, um tal Franky e um outro conhecido por “Óleo”. Não podia ter escolhido melhor os seus comparsas para a sua empresa criminosa. Ambos são conhecidos como delinquentes na zona de Cruz João Évora, agindo com total liberdade por causa dos temores que inspiram nos moradores. Certamente houve denúncias, porém convém notar que muitas pessoas já não apresentam queixa nas esquadras porque não acreditam na polícia e perderam a fé na justiça. Por todo o Cabo Verde se ouve à boca pequena que as leis são demasiado indulgentes, que não raras vezes se traduzem em impunidade para os amigos do alheio e outros malfeitores.
O calvário de uma idosa indefesa (sem detalhes)
Tendo roubado as chaves à D. Ninha, Walter e seus dois capangas entraram pelas traseiras da sia casa, no Madeiralzinho, surpreendendo a pobre senhora indefesa
com uma brutalidade feroz. Com uma faca apontada ao pescoço, imobilizaram-na com uma corda e silenciaram-na com fita adesiva. Levaram-lhe o seu ouro e dinheiro, certamente a economia de uma vida “ta vendê na baloi” quando ainda trabalhava.
Os três meliantes chegaram às 22 horas e só bateram com a porta às 5 da manhã. Por piedade e por respeito, não entrarei em detalhes sobre o calvário infligido à pobre senhora durante essas longas e angustiantes sete horas de terror. Faço pois um interregno até ao momento em que foi encontrada inconsciente, com um joelho partido, o rosto tumefacto, várias equimoses e marcas de faca no pescoço. E só lhe foi poupada a vida porque quando aparentavam que iam estrangulá-la com uma corda, um dos criminosos se condoeu dela. Já meio inconsciente, ainda pôde ouvir uma voz, que não reconheceu: – “amoch no ka mestê matal, el ê um senhora drêt”.
Consta que os agentes da Polícia Judiciária ficaram comovidos até às lágrimas com este crime hediondo e brutal.
“Advogados do diabo”
À hora desta publicação, apenas Franky estava preso, continuando Walter e “Óleo” fugitivos. Aguardo notícias que venham confirmar quanto antes a prisão desses temiveis criminosos.
Também fico aqui à espera que alguém me diga que esses malfeitores não devem ser retidos porque não foram apanhados em flagrante delito e não foi encontrado na sua posse nenhum objeto ou dinheiro roubado!
Fico aqui à espera desses “advogados do diabo”, que venham de punho erguido pleiteando os direitos dos bandidos que a polícia apanha e que a Justiça manda para casa sem inquérito e sem sequer ouvir as vítimas. Porque, para essa gente, as “vítimas” não somos nós – são eles, os malfeitores! Vítimas do sistema, dizem!
“Vítimas do sistema”? Então, pergunto: e as pessoas que trabalham, que são agredidas e roubadas, espoliadas dos seus bens por malfeitores, privadas dos seus direitos por uma “justiça” injusta, não são, também elas, vítimas do sistema?
Ora, não se pode pedir a esses advogados do mal que sejam solidários para com as vítimas – mas, convenhamos, um pouco de respeito já seria de bom tamanho!