Por Paulino Dias
Os últimos dados sobre a COVID-19 aqui em Cabo Verde são bastante animadores. Sem, contudo, baixarmos ainda totalmente a guarda, há que reconhecer que o Governo conseguiu cumprir a sua promessa de termos mais de 70% da população vacinada com pelo menos a primeira dose, ainda este ano. Apesar de um ou outro percalço inicial, o ambicioso programa de vacinação parece estar a produzir resultados concretos. Palmas ao Governo!
Mas a crise está longe de estar completamente superada. Depois da sua primeira onda (crise sanitária) e da segunda (crise económica, que ainda persiste), está a chegar a terceira (crise da inflação) e mais à frente virá uma quarta (crise da dívida pública).
Sem querer ser alarmista, mas esta terceira onda (aumento generalizado de preços nos próximos meses), vai ser dolorosa. Especialmente para a população de baixa renda e a classe média. Este é um problema global e que, logicamente, vai afetar com mais intensidade pequenos países estruturalmente frágeis e altamente dependentes da importação, como é o caso de Cabo Verde.
A agravar, num contexto de um Estado já por demais endividado, as margens de manobra são bastante estreitas. Pouco se pode fazer, ou para subsidiar preços de produtos e serviços, ou para aumentar o rendimento das famílias através de aumentos salariais (quer no Estado, endividado, quer no setor privado, debilitado pela crise COVID).
Mas havemos de superar mais esta crise. Sempre fomos um povo resiliente. Com uma visão comum e partilhada, com união, com criatividade, com coragem. Este é um momento que precisaremos – todos! – colocar Cabo Verde em primeiríssimo lugar.
Do Governo, requer-se mais e melhor liderança efetiva na mobilização de vontades coletivas, de forma mais inclusiva e menos fragmentária/segregacionista (este não é, definitivamente, um momento de “nós” versus “eles”…). Requer-se mais clareza e honestidade nas comunicações, mais coerência e parcimónia nos gastos públicos, mais humildade para ouvir e engajar pensamentos diferentes e construir consensos absolutamente necessários. Nunca precisamos tanto de todos como agora.
Da oposição espera-se mais foco no que é essencial, mais responsabilidade e sentido de Estado, mais abertura – e também humildade – para a construção dos tais consensos, menos dispersão de energias vitais em “guerrilhas” secundárias, mais pragmatismo e abordagens construtivas e focalizadas no presente e no futuro.
De cada um de nós – sim, eu, tu que lês estas linhas, todos nós – espera-se ainda mais força e coragem, espírito positivo, também foco no que é essencial, consciência mais apurada do contexto que estamos a atravessar, cidadania ativa e construtiva, solidariedade partilhada. E acreditar. Acreditarmos todos que, unidos, iremos, sim senhor!, navegar estas ondas e chegar a bom porto. Eu acredito!