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Estado sem noção ou Nação sem Estado

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Na última sessão parlamentar, sobre o “Estado da Nação”, assistiu-se ao espetáculo de sempre, baseado numa comédia de equívocos, encenada pelos mesmos atores que teimosamente continuam a não perceber o enredo. Reproduziu-se a reza de uma Nação próspera, de um Estado robusto, e de um Cabo Verde que floresce mesmo sem chover. Mas, olhando para o espelho da nossa Nação, a imagem que se projeta é o reflexo de um espelho escacado, onde a silhueta da esperança luta para não perder entre os pedaços da realidade.

Por: Emanuel Spencer

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Os nossos auto-iluminados continuam a navegar num balão de fantasias, desconectados das realidades diárias do povo, esquecendo-se de que o verdadeiro Estado só se constrói com ações concretas e sensíveis às necessidades das pessoas, e não com discursos que falam mais do que dizem. As suas afirmações flutuam como folhas secas num palácio precário, cada uma representando uma aspiração, uma reforma, ou uma mudança, sem alicerces.

Como é possível, num país onde nas ruas se assiste cada vez mais a coreografias do descontentamento, o Estado da Nação ser assim tão positivo? Vejamos alguns dados apresentados: “Média de Crescimento de 5%; Taxa de Desemprego reduzida quase a 1 dígito; Erradicação da Pobreza Extrema a caminho, (Taxa de Pobreza reduzida a 11%); Dívida Pública caiu de 130% do PIB p 110%; Investimentos significativos em infraestrutura habitacional e de saúde, em requalificação urbana e ambiental; Transformação de cidades, vilas e aldeias, melhoria significativa da qualidade de vida das pessoas e fortalecimento das economias locais; Padrões Educacionais elevados; Melhorias na Segurança, redução de ocorrências criminais e homicídios; Nos Transportes conseguiu-se manter a operacionalidade e a expansão do aéreo, e promover o marítimo.”

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Se o Estado está sem noção, o que será da nossa Nação sem o Estado? Uma Nação não é apenas um território delimitado por linhas invisíveis no mapa, mas sim um conjunto de pessoas unidas por uma identidade, uma história, uma cultura e devidamente conduzidos por um Estado. A nossa criatividade, visando superar os desafios da natureza, tem sido a nossa marca indelével mas, sem um Estado com noção, a nossa Nação pode esvaziar de significados, ver a sua identidade fragmentada, passar a ser um corpo sem alma, uma entidade sem substância, vagueando sem rumo num mar de incertezas. Assim, é necessário procurar evitar que o nosso orgulho nacional dê lugar a frustrações e, a nossa harmonia e passividade se dissolva em descontentamentos.

Precisamos urgente de um despertar coletivo. O Parlamento, palco onde se deve definir o destino da Nação, não pode continuar a ser um teatro de promessas vazias e disputas partidárias. As vozes que ali ecoam precisam ressoar com a verdade das ruas, com as preocupações reais dos cidadãos, e com o compromisso de construir um Cabo Verde forte, justo e inclusivo. As ações políticas não podem continuar a ser alinhavadas em salas isoladas, distantes dos nossos bairros poeirentos e dos rostos que procuram apenas por uma vida digna. É necessário redefinir prioridades, reconectar com o povo e restabelecer a confiança nas instituições. Um novo pacto social, baseado na transparência, responsabilidade e participação cidadã, é urgente e essencial. 

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Não podemos permitir que o destino de Cabo Verde seja submisso a um “Estado sem Noção” para não ter de assumir as consequências de uma “Nação sem Estado”. Precisamos, juntos, reescrever essa história, com coragem e determinação, p q as futuras gerações possam se orgulhar de um país que, de facto, pertence a todos. “Um kré continuá ta senti feliz, por ter nascido cabo-verdiano!”

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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