Por Nelson Faria
Como é sabido, com as eleições legislativas agendadas para o dia 18 de Abril, oficialmente, a campanha eleitoral deveria iniciar-se no dia 1 de Abril… Que dia mais apropriado(!) dirão alguns, não obstante outros constatarem que há muito o produto de campanha está em uso e andamento, sendo que nas plataformas digitais é constante e permanente.
Mas, imaginemos se por um momento, os aspirantes aos cargos políticos tivessem a ciência e consciência para falarem a verdade ao eleitorado de forma séria, sem manipulação, nivelando expectativas para a realidade que aí está e vai piorar nos próximos tempos? Se por um momento a verdade brilhasse no dia da mentira e seguintes?
Dito e analisado por especialistas dos riscos globais, também nacionais, as sequelas sanitárias e económicas do COVID 19, particularmente as económicas, estão para durar. As desigualdades económicas, sociais, digitais são visíveis no momento e também estão para ficar. Muitos negócios e muito da economia vai simplesmente morrer por inadequação aos tempos que vivemos e vem aí. A recessão económica e o desemprego são palpáveis. Crises de subsistência, com pessoas a necessitarem do básico para se manterem vivos. E quando conseguem deseja-se que não tenham sequelas na saúde mental. Os hábitos de consumo já estão em mudança e com isso a economia. Com a quebra da economia, como a conhecemos até 2019, teremos sequelas nas finanças públicas com aumento exponencial do endividamento publico, se não der em problemas de liquidez, sequelas nos sistemas de segurança social e no sector financeiro, que indiciam que recursos não estarão tão disponíveis como até agora. E, mesmo estando alguns, terão de ser direcionados para prioridades verdadeiramente essenciais. O essencial deve ser o foco nos próximos tempos, em detrimento de desejos e vontades e da megalomania existente em muitas prioridades invertidas, as vezes convenientes, na governação.
Se a isto adicionarmos os já conhecidos riscos associados ao ambiente, aos novos riscos da tecnologia, desigualdade de acesso e ataques cibernéticos, a desilusão da juventude e erosão da coesão social, a democracia e suas instituições em xeque, poderemos ter um ambiente fértil para convulsões sociais e ao incitamento do anarquismo. Tudo o que não se quer, acho eu.
Por isso, mais do que nunca, apela-se aos políticos que eles também se adaptem ao tempo. Inovem! Façam política pedagógica com verdade e não demagógica para manipulação com o objectivo poder. A forma como agem hoje, em campanha eleitoral, concorrerá contra vós no pós eleições. Pior, pode concorrer contra a democracia, a paz e coesão social, como até aqui. O apelo também é feito ao cidadão comum. A sua capacidade de ver e analisar a realidade. A capacidade de saber que não é tempo de se iludir, deixar-se manipular e muito menos alimentar utopias. Vai ser duro! Aceitemos. Vamos, nos próximos tempos, efetivamente, viver num mundo diferente do que vivemos até 2019. É um erro tremendo pensar que por haver uma expectativa de vacina, depressa voltaremos ao que tínhamos no maravilhoso ano 2019. Cliché: “Éramos felizes e não sabíamos”. O mundo é outro e será outro, tendencialmente mais duro, sobretudo do ponto de vista económico, nos próximos tempos.
Será um tempo para lideranças que falem a verdade, que agreguem, que unem, que tenham empatia, um tempo de cidadãos conscientes, cooperantes e resilientes, um tempo que, repito, não deve ser de manipulação, de mentiras, de prioridades invertidas no uso de recursos, sobretudo os públicos, como temos verificado em muitos casos.
Apesar de ser terreno fértil para dogmas, demagogia pura e crua, populismo reles, como temos verificado nas armas usadas nesta dita pré-campanha, reforço o meu apelo de cidadão para o cidadão: mantenha-se lúcido, ciente e consciente do mundo que vivemos, do país que temos e das manobras eleitoralistas. Não se deixe levar. Tenha o bom-senso e o equilíbrio ligados. Facto: alguém há de governar, mas que seja com base na verdade, para o bem, com expectativas aproximadas a realidade dos tempos, equilibradas, que não levem a frustração e a depressão e, por favor, não me falem de felicidade porque a realidade não vai ser lá muito superior as expectativas reais do momento.
Neste contexto, tenho apenas um único desejo para o dia da mentira, 1 de Abril: que se torne da verdade. Quer no discurso político quer da consciência do eleitor… Se calhar, mais uma utopia minha. Mas, não custa tentar.