Já se passaram oito anos desde que o PAICV deixou o poder. No entanto, o atual Primeiro-ministro, Ulisses Correia da Silva, continua a culpar o anterior Governo do PAICV, liderado pelo atual Presidente da República, por tudo o “que de mal acontece em Cabo Verde”, nomeadamente pelo descalabro económico e social que o país está a atravessar.
Por: António Santos
Apesar dos inúmeros erros que podem ter sido cometidos pelos governos do PAICV, Ulisses Correia não pode continuar, ao fim destes anos todos, a tentar encobrir os erros da sua (des) governação, lançando as culpas para o seu antecessor, José Maria Neves.
O que vale é que o PAICV e José Maria Neves têm costas largas. Mas Ulisses Correia esquece que o povo, que o elegeu, está atento à sua desgovernação e não esquece que Cabo Verde registou um crescimento da pobreza e, também, da pobreza extrema. As pessoas estão sem dinheiro para comprarem alimentos.
No meio deste caos social que se vive em Cabo Verde já são muitas as vozes que pedem a demissão do executivo. Até porque são constantes os falhanços na governação da República de Cabo Verde, mas o povo soberano não gosta que façam dele “parvo” e, por isso, acha que a desculpa “esfarrapada” que tudo, que é mau, se deve ao período imediato de antes de 2016, já “não cola”.
Esta teoria só pode colher frutos junto dos militantes e simpatizantes do MpD, que acreditam piamente que a culpa de tudo, oito anos após estar no Poder, é da governação anterior. Cada vez mais se vai respaldando esta inverdade.
Tudo isto vem a propósito das afirmações do Sr. Primeiro-ministro que diz que o caos nos transportes vem desde o Governo do PAICV. O que não é verdade! A situação era crítica, sim, mas não caótica.
Um facto é que o PAICV foi castigado por não ter feito nada, mas não enganou os cabo-verdianos. Enquanto, Ulisses prometeu mundos e fundo aos cabo-verdianos, incluindo a melhoria dos transportes. E agora! Oito anos passados, a situação é dramática. A culpa, ainda, é do PAICV? Ou o PAICV perdeu o direito de exigir e de perspetivar um Cabo Verde melhor?
Na minha perspetiva, estas afirmações de Ulisses Correia são uma “declaração de guerra” ao Presidente da República que, há poucos dias, afirmou que a situação dos transportes aéreos no país é
“caótica”.
Em resposta, numa intervenção no parlamento, no arranque do debate sobre a descentralização e desenvolvimento local, o primeiro-ministro afirmou: “o caos tem o seu momento de localização muito clara e tem os seus responsáveis”, os mesmos que o criaram e que “hoje falam de caos nos transportes”, responsabilizando diretamente José Maria Neves pelo caos nos transportes aéreos.
A declaração de José Maria Neves, que liderou um Governo do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, atualmente na oposição), foi feita um dia antes de a companhia aérea angolana BestFly anunciar que vai deixar a concessão de voos inter-ilhas no arquipélago.
Independentemente de reconhecer que os transportes “continuam a ser um constrangimento do desenvolvimento regional”, Ulisses Correia insiste que a situação era pior até 2016, quando assumiu a governação do país, agora suportada pelo Movimento para a Democracia (MpD), partido de que também é presidente.
Correia e Silva afirma que, no consulado de José Maria Neves, havia “aviões arrestados”, os Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), companhia estatal, estava “em falência, e havia “navios obsoletos”, a “naufragarem de uma forma permanente” e “sem capacidade operacional”.
Em jeito de solução, o primeiro-ministro garante que o Governo vai “vencer o combate” dos transportes aéreos e marítimos em Cabo Verde e, para isso, pediu “tranquilidade e confiança” e que “não se lance gasolina” sobre o assunto, depois de ter sido ele a lançar gasolina para a fogueira da “guerra” institucional que se “advinha”, entre o Governo e a Presidência da República.
É uma questão de aguardarmos para ver os próximos capítulos de uma “telenovela” que só agora
começou… “Considero fundamental que as autoridades competentes deem uma satisfação, tendo em atenção a gravidade, que põe em causa não só a economia nacional, mas também a própria segurança nacional”, afirmou José Maria Neves na segunda-feira, face ao cancelamento de voos domésticos.
O Governo decide pela subsidiação da nova empresa que vai ocupar-se dos transportes aéreos internos. O Ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos garante que o Estado vai impor a obrigação de um serviço público à nova empresa que vai operar nos transportes aéreos domésticos e recusa a ideia do governo estar a adoptar uma prática que vinha sendo utilizada até 2016.
A TACV nas ligações domésticas é apenas uma medida transitória, o Governo quer mesmo é criar uma empresa nacional para se ocupar das ligações inter ilhas. O Ministro Carlos Santos fala da obrigação do serviço público no domínio dos transportes aéreos mediante uma indemnização compensatória.
Ou seja, o regresso da subsidiação – um mecanismo de financiamento de empresas estatais, muito criticada pelos parceiros do orçamento de Cabo Verde. Para o Ministro, esta é uma prática comum.
Carlos Santos nega qualquer comparação com o quadro que existia em 2016, em que o Governo do PAICV também subsidiava os transportes aéreos. O titular da pasta dos transportes recusa que este Governo tenha falhado na decisão de encerrar a TACV, vertente doméstica.
Até a criação da nova empresa, espera-se que a estabilidade reine-se no sector dos transportes aéreos interilhas em Cabo Verde.