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As Lajes da Lajinha 

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A malta da minha geração lembra-se da Matiota. Era o meu lugar preferido. Quando não estava na escola ou a jogar futebol, sentia o chamamento do mar da Matiota. 

Por: João Delgado da Cruz

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Ao lado, havia a praia da Lajinha. Não gostava muito daquela praia devido as ondas e as placas perigosas de pedra que a água encobria. Ainda hoje tenho uma cicatriz, uma lembrança agridoce das visitas furtivas que nós fazíamos à Lajinha. Os rapazes de Funde de Jonzona tinham o mar na cabeça. 

Ao regressar à casa, tinha de entrar às escondidas. O lato de Bia Zizi não perdoava, “Lajinha ê perigoso, óia uke contsê que Moisés de Basila”. 

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Daquela vez, não pude esconder, o sangue marca mais que o salitre!

Essas placas de pedra são denominadas de LAJE. Para o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.  

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la·je, substantivo feminino, de origem controversa, pode significar: 

1. Pedra chata ou mosaico com que se cobrem pavimentos;

2. Pedra de sepultura;

3. Rocha de superfície plana;

4. Camada de betão armado que corresponde ao pavimento e ao tecto de um andar, de um edifício ou de outra estrutura semelhante = PLACA.

A origem do topónimo Lajinha está no vocábulo LAJE mais o sufixo -INHA.

Os sufixos diminutivos “-inho, -inha” “-zinho, -zinha” são usados quando a palavra básica termina por vogal átona ou consoante (exceto “s” e “z”), é o caso de lajinha. 

Nota-se a generalização do uso da grafia LAGINHA com algumas exceções, mas a forma correta é LAJINHA.

Tudo isto porque apeteceu-me, agora, um banho na Lajinha. 

Dentro da água ecoam as palavras do Mar da Lajinha de Germano Almeida: 

“O tempo corre manso na tranquila praia da Lajinha. […] um grupo de banhistas aí se encontra para uma (nem sempre) amena cavaqueira, em que todas as grandes e as pequenas novidades são trocadas com minúcia de pormenores e fantasiosos exageros, e para um revigorante banho de mar”.

Matiota já não existe, mas também as lajes desapareceram da Lajinha do nosso contentamento. A grande verdade é que o prazer do banho continua igual. Ficou na memória as entradas LAJÓDE em casa, e as ameaças do irmãozinho Koyalves Delgado “Djão se bô que levam manhã, um te dzê mamã”.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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