Pub.
Opinião
Tendência

A tempestade Erin e o Estádio Adérito Sena 

Pub.

José Manuel Araújo

A destruição provocada pela tempestade ERIN teve repercussões em quase todas as frentes da vida são-vicentina, não poupando logicamente, também as infraestruturas, entre estas o principal estádio de futebol da ilha, o Adérito Sena, que ficou quase completamente destruído.

Publicidade

E se os de sempre, embora em número inexpressivo foram expeditos em manipular supostas exibições filantrópicas com o fito de deixarem de forma dissimulada, o registo da sua satisfação com a destruição da ilha, seja através de oportunistas lições de moral ou por outras vias, a verdade é que o contentamento desses eternos rançosos foi literalmente esmagado pela avalanche de amor e solidariedade para com a ilha manifestada pela grande maioria da comunidade nacional e internacional.

E não poderia haver melhor maneira de S.Vicente responder a esse nobre gesto generalizado, que se deixando levar pelo seu próprio instinto idiossincrático, numa reação de valentia e altruísmo como sempre foi seu timbre, com a iniciativa espontânea de agarrar das fraquezas com as suas próprias mãos e dar início de imediato à sua recuperação, mesmo antes de esperar pela manifestação de qualquer apoio do exterior.

Publicidade

Neste processo de recuperação que também envolve as entidades com obrigação institucional na matéria, onde se destaca desde logo o governo do país, para além da ideia que se tem falado repetidamente de recolocar S.Vicente na condição em que se encontrava antes da tempestade, parece-me mais justo que se trabalhe para colocar S.Vicente na condição onde deveria estar hoje, caso a tempestade não tivesse acontecido. Isso significa que o apoio institucional, particularmente por parte do governo, deve ser pensado não só para recuperar a ilha como também, para devolver-lhe a sua posição competitiva já por si recorrentemente debilitada pelo centralismo.

Nunca esquecendo que caberá às instituições para tal vocacionadas a responsabilidade primeira de elaborar a listagem e o modo de efetivação dessas intervenções, na qualidade de cidadão quero aqui deixar o meu contributo no que tange à recuperação do Estádio Adérito Sena.

Publicidade

A minha ideia assenta fundamentalmente sobre alguns aspetos importantíssimos para a colocação séria e sem complexos do problema: 

(I) O Estádio Adérito Sena foi recentemente objeto de grandes intervenções com o propósito de o qualificar e certificar para a realização de jogos internacionais incluindo os jogos da nossa seleção, uma honraria que todas as ilhas merecem ter, mas que por várias e conhecidas razões, S.Vicente estaria sempre na primeira linha para receber tais intervenções;

(II) Porém, as mesmas ficaram tão aquém do que foi projetado e prometido que mesmo antes de sentirmos o gosto da novidade, o estádio já estava de novo interditado a jogos internacionais; 

(III) Do momento dessa interdição a esta parte nunca mais se ouviu falar de qualquer iniciativa ou vontade nacional para recuperar essa certificação perdida; 

(IV) Por falta de visão da área disponível existente no local vista sempre como pequena, o Estádio Adérito Sena foi recentemente obrigado a receber uma pista de Tartan com menos faixas de corrida do que o exigido para competições internacionais; 

(V) O Estádio Adérito Sena tem um estatuto adquirido por mérito próprio ao ser o recinto onde, ao longo de toda a história do futebol cabo-verdiano, destacadamente, sempre morou a região desportiva e desfilaram as equipas com o maior palmarés no futebol Nacional, e, reconhecer e mencionar este aspeto nesse contexto de recuperação da ilha, não deve ser entendido como tentativa de apoucar, falta de modéstia ou de elegância desportiva já culturalmente instalados no país, mas, simplesmente como a observação da realidade com o realismo conveniente para que assim se possa agir em consequência da forma mais correta e útil; 

(VI) As chuvas de 11 de Agosto acabaram por colocar tudo na estaca zero.

Com este quadro assim desenhado, estas chuvas que destruíram tudo, podem também ser o ponto de partida para a re-aurora tão esperada para o desporto (futebol e atletismo) mindelense e para tal, é necessário que estejam reunidas duas condições:

(I) A vontade política em reconhecer que a ilha merece um investimento sério nesta área e que os mindelenses, particularmente os seus representantes locais e nacionais têm a obrigação de provocar essa vontade política às autoridades;

(II) Ser-se duma vez por todas, capaz de descobrir que o local tão criticado por falta de espaço, possui afinal uma área disponível mais do que suficiente para se construir um belo estádio, uma pista de Tartan e maior quantidade de bancadas, tudo para responder a todas as exigências internacionais. 

Não sendo eu arquiteto nem engenheiro, estou, entretanto, disponível a demostrar o que digo a qualquer responsável interessado. Para tal, é preciso paciência e dinheiro. Paciência para se pensar e fazer tudo da forma mais consciente, consistente e correta possível. E para se obter o dinheiro necessário, é preciso vontade e bem-querer. Depois, o resto é com os técnicos.

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo