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A política é um espelho: cuidado com o que reflete!

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Em tempos pós festas, muitas festas, permitam-me voltar a falar de política. Imaginemos a política como uma grande festa de casamento. Para acontecer, certamente há quem se esforce para organizar tudo com perfeição, do bolo aos talheres, quem apareça apenas para comer e reclamar que o pudim está doce demais, e, claro, aqueles que fogem com o champanhe ou parte da comida e culpam o DJ pela falta de animação. A questão é: quem convidamos para essa festa e quem escolhemos como organizadores?

Por: Nelson Faria

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 A política, não é um universo paralelo cheio de seres alienígenas, mesmo que às vezes parece. A política, em sentido lato, resulta da necessidade que temos de viver numa sociedade organizada que direciona e gere a vida comum para o bem de todos, em todos os domínios, mormente nos principais: a saúde, a educação, a proteção social, a alimentação, a formação, a habitação, entre outros. Por isso, querendo ou não, todos somos e fazemos parte da política. Dos partidos, é escolha de cada um, mas da política nenhum de nós está ausente. Para que a política exista como atividade necessária, ela precisa de organizações políticas, dos partidos e dos políticos.

Os políticos são oriundos da mesma sociedade a que todos nós pertencemos, são pessoas que conhecemos e que acabamos por interagir na sociedade, como amigos, conhecidos ou mesmo familiares. Portanto, de certa forma, os políticos refletem o que somos enquanto sociedade, uma mistura de pessoas honestas, felizmente, acho eu, a maior parte, e outros trapaceiros, trabalhadores e preguiçosos, visionários e acomodados.

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Dizer que “todos os políticos são iguais” é o equivalente a dizer que não há individualidade, basta entrar na classe para se ser “desonesta”, porque assim é fácil para a sociedade desresponsabilizar no que permite, é dizer que as cachupas são feitas da mesma forma, que não há distinção entre pães das diferentes padarias. Claro, pode haver semelhanças, mas experimente trocar uma canja de galinha bem-feita por uma canja de galinha, sem o ingrediente principal, torna o prato diferente. Nem todos os políticos são criados iguais, não coadunam dos mesmos princípios, valores e prioridades, não, lamento informar a quem diz: “os políticos não são todos iguais!” Não são! Há os que lutam por um futuro melhor e aqueles que só querem a sua colherada, o seu status ou a salvaguarda de interesses egoístas e isto também está na nossa sociedade, nos diferentes ramos de atividade.

E de quem é a responsabilidade da possibilidade do poder estar na mão de maus políticos? Nós! Sim, a sociedade como um todo, todos que apontam o dedo aos políticos, todos que não cumprem deveres como cidadão, que desresponsabilizam na certeza que será mais fácil julgar os políticos de forma generalista e simplista. Os políticos não caem do céu nem nascem da terra. Em bom rigor, são escolhidos, e quem os escolhe? O cidadão. Mesmo p​or aqueles que acham que o voto “não importa” ou que decide no último minuto baseando-se no jogo “dám um tá dób” e em promessas do tipo “vamos ter internet grátis no meio do mar da laginha”.

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A política é consequência direta das escolhas que fazemos. Quando escolhemos líderes competentes, sérios e honestos, teremos avanços, desenvolvimento e, possivelmente, até um aumento no número de sorrisos no supermercado em tempos em que a vida está cada vez mais cara. Por outro lado, quando escolhemos quem só sabe prometer, ou as promessas não são adequadas à realidade vivida e às reais necessidades da sociedade, o que ganhamos? Arrependimento e memes nas redes sociais.

Antes de apontar o dedo e gritar “políticos são todos iguais!”, que tal uma introspecção básica? Se queremos políticos melhores, precisamos começar por nós mesmos. Não adianta criticar a festa sem pensar em quem escolheu o organizador. Talvez esteja na hora de observarmos melhor a sociedade e, mais importante, agirmos como cidadãos responsáveis.

Não esqueçamos que a política é um espelho. Se não gostamos do que vemos, talvez seja hora de limpar o reflexo. Afinal, um casamento com um bolo mal feito não é culpa apenas do confeiteiro, mas de quem o escolheu.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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