Por Dann Andrade
Adam Smith, economista liberal do século XVIII, considerado, por muitos, o pai da economia moderna, foi quem utilizou pela primeira vez o termo “mão invisível”. Ele o fez em contexto completamente diferente do atual e era alusivo à dicotomia económica da oferta e procura. Para Smith, que defendia a não intervenção do estado na economia, em qualquer que seja o estágio de desordem que ela se encontra, uma mão invisível acabaria sempre por equilibrar o mercado. Desta forma, segundo este precursor do liberalismo económico, o preço dos produtos sempre irá se regularizar conforme a maior ou menor oferta do momento e a reciprocidade da procura.
Esta minha reflexão porém, não versa sobre a mão mercantilista de Smith, mas sobre uma mão divina, invisível, que possui total domínio sobre a sua criação: a natureza. Não descarto, entretanto, uma relação entre essas duas alusões semânticas.
Mas vamos por partes.
Os fenómenos que ocorrem em todo o universo e a dinâmica que os envolve visem criar uma harmonia que facilita a vivência entre os seres vivos tanto do campo da zoologia como da botânica, numa base que pode ser sólida, líquida ou gasosa.
Isso não é novidade para ninguém. Também não constitui novidade o facto de que o ser humano atingiu um patamar de desenvolvimento intelectual para a produção que começa a sobrepor a sua racionalidade e o impele para a autodestruição. O pior de tudo é que quem detêm as maiores capacidades de produção possui, em mesma medida uma obsessão pela riqueza que lhe tolda a visão, a ponto de não enxergar que a sua ação desmedida coloca o planeta em estado de sofrimento e com ele os seres que o habitam.
É a lei do capital colocando-se acima da lei da vida. Ou seja, aqueles que detêm o capital não se importem com a destruição da camada de ozónio ou com o mar sem cardumes, com o desmatamento desenfreado, com a ameaça de extinção de espécies ou com a redução de oxigénio, sem o qual não se vive. Atingimos um estado de destruição do planeta de tal monta que o homem, por si só e pelo andar da carruagem, já não consegue parar esse frenesim alimentado e estimulado por uma elite insensível às questões ambientais e humanistas.
A despeito dos maus tratos perpetrados ininterruptamente e impiedosamente contra a natureza, o homem se auto-mutila ou ataca aqueles que não comungam da mesma opinião ou são partidários do bom senso, da boa conduta, dos valores humanísticos e das causas naturalistas.
Enfim estamos perante uma anarquia globalizada, legalizada e institucionalizada em todos os países do mundo. Um status quo que os países mais ricos e as instituições financeiras internacionais preferem manter incólume.
E diante desta força gigantesca, anti-natura, só a mão invisível de Deus será capaz de reordenar e reorganizar o planeta.
Destarte, com o advento do COVID-19 que não poupou nenhum país no mundo, estaremos perante uma mão invisível com uma abrangência mais lata do que a de Adam Smith para reorganizar o caus? Estaremos perante uma nova abordagem do conceito de messias, ou Deus estará aplicando tratamento de choque para que os homens percebam, de uma vez por todas, que a vida deve sobrepor-se a qualquer outro bem material? Ou será o prelúdio do derradeiro apocalipse anunciado na Bíblia? Esperemos que não.
O facto é que o mundo foi obrigado a parar, literalmente. As fronteiras fecharam-se e o tráfico aéreo reduziu-se drasticamente. As maiores economias curvaram-se diante deste fenómeno estranho e o medo estimulou uma produção de adrenalina jamais vista nas hostes do G20 e do grupo dos BRICS, que determinou uma corrida desenfreada para a criação de uma vacina.
As famílias foram obrigadas àquela comunhão que havia perdido inexoravelmente no tempo e durante os dois ou três meses de confinamento respirou-se ar puro.
Toda esta gama de ocorrências, que ultrapassam a mera compreensão humana, nos interpela e leva-nos a depreender que uma mão invisível esteja a operar numa dimensão superior, uma vez que, eu tenho a firme convicção de que a existência não se encerra no mundo sensível.