O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento foi atribuído a Ilham Tohti, um economista e defensor dos direitos dos uigure, uma minoria étnica e religiosa perseguida pelo Governo da China. Atribuído pelo Parlamento Europeu todos os anos desde 1988, este prémio distingue indivíduos e organizações que se destacam na defesa das liberdades fundamentais e na luta pelos direitos humanos. “Ao atribuir este prémio, instamos vivamente o Governo chinês a libertar Tohti e apelamos ao respeito pelos direitos das minorias“, afirmou o presidente do Parlamento Europeu.
A semelhança das edições anteriores, o premiado não estará presente na cerimonia de entrega da distinção, marcada para 18 de Dezembro em Estrasburgo. Ilham Thoti esta preso desde 2014. Foi condenado a pena de prisão perpetua por promover o separatismo da província de Xinjiang e de recrutar pessoas para um “grupo criminoso”, num julgamento que decorreu a porta fechada e que os europeus classificaram como “fantoche”.
“O caso de Ilham Tohti coloca questões cruciais a nível internacional e preocupações ligadas ao respeito pelos direitos humanos: a promoção de valores islâmicos moderados face à repressão religiosa estatal; os esforços para abrir o dialogo entre uma minoria muçulmana e uma população maioritariamente não muçulmana; e a supressão da dissidência não violenta por um Estado autoritário”, assinalou o júri do premio.
Professor de Teoria Econômica no Centro Minzu da Universidade de Pequim, Ilham Tohti trabalha há duas décadas para promover o dialogo entre a minoria da qual faz parte e o Governo de Pequim. Já recebeu o Premio PEN/Barbara Goldsmith Freedom to Write (2014), o Premio Martin Ennals (2016) e o Premio para a Liberdade da Internacional Liberal (2017). Foi nomeada para o Nobel da Paz este ano.
Ilham foi detido em sua casa. A polícia confiscou-lhe um computador, telefones e os trabalhos dos alunos. Depois de meses incontactável, foi acusado de separatismo, com base em publicações que fez no seu site Uighur Online e em conteúdos das suas aulas.
Na sua página na Internet, além de criticar a exclusão dos uigure do desenvolvimento do país, e de reclamar a aplicação das leis de autonomia regional da China, promovia o diálogo e a compreensão entre as comunidades. “Apesar do que sofreu, continua a ser uma voz da moderação e da reconciliação”, sublinhou o Parlamento Europeu, realçando os uigure são muçulmanos e falam uma lingua de origem turca, mas acusam o Governo de Pequim de perseguição ao não permitir que pratiquem a sua religião ou falem a sua lingua.
O premio Sakharov, refira-se, já foi atribuído a dissidentes politicos, jornalistas, escritores, promotores da paz e dos direitos humanos, casos de Nelson Mandela e as Mães da Praça de Marco, associação de mães argentinas cujos filhos a ditadura assassinou ou fez desaparecer.
C/Publico.pt
Foto: Euronews