Não foram responsáveis pelo 7 de outubro, quando o Hamas atacou Israel, fazendo 1,2 mil mortos e mais de 240 reféns. Ainda assim, as crianças e os adolescentes da Faixa de Gaza são as principais vitimas da represália levado a cabo pelo Estado Judeu. Em seis meses de guerra, representam 44% dos mais de 33 mil mortos, ou seja, 14 mil vítimas, revela uma reportagem do jornal O Globo.
O jornal brasileiro cita informações divulgados pela Unicef, que revelam que as crianças e adolescentes são cerca de metade dos 2,2 milhões de habitantes do enclave. A taxa de fecundidade é de 3,38 filhos por mulher, segundo The World Factbook, da Agência Central de Inteligência americana (CIA). “Foram registados mais de 26 mil nascimentos desde o inicio do conflito. Nesses 180 dias, o Gabinete de Comunicação Social de Gaza contabilizou 14.500 menores mortos”, estima.
Para o porta-voz desta agência das Nações Unidas, Ricardo Pires, esta é uma guerra contra as crianças. “As crianças são as que estão mais expostas às consequências dessa guerra”, destacou, indicando que a predominância de menores entre as vítimas não é apenas condicional, mas uma consequência que transformou Gaza num terreno mortal para elas.
Cita, a titulo de exemplo dos direitos das crianças desrespeitados, o bloqueio imposto por Israel em 2007, que fechou o trânsito marítimo, aéreo e terrestre de Gaza. Todas as crianças e adolescentes que hoje vivem a guerra nasceram e cresceram sob esse cerco. E pelo menos 800 mil crianças — três em cada quatro — foram identificadas com necessidade urgente de ajuda com a saúde mental.
As fronteiras fechadas impedem principalmente a fuga e a busca por abrigo em outros países. E a situação se agravou com o “cerco total” imposto por Israel a 9 de outubro, dois dias após o ataque. A medida agravou a crise humanitária de uma Gaza já abalada ao diminuir e dificultar a entrada de alimentos, água, combustível e outros tipos de suprimentos, como os hospitalares e os chamados alimentos terapêuticos prontos para uso, usados para tratamento de desnutrição aguda severa, enviados por organizações humanitárias, entre eles o Unicef.
A fome é eminente no norte, segundo a organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e 28 crianças morreram de desnutrição e desidratação até 1º de abril, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Os palestinos, aponta o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha), representam 80% de todas as pessoas que enfrentam a fome grave no mundo, e pelo menos 50,4 mil crianças com menos de 5 anos sofrem de desnutrição aguda no norte do enclave. O Ocha afirma que, dos 36 hospitais de Gaza, apenas dez estão operando parcialmente.
São também seis meses sem estudar porque pelo menos 53 escolas foram “totalmente destruídas” desde o início da guerra e, desde meados de fevereiro, foi registrado um aumento de quase 9% nos ataques contra esses edifícios, segundo relatório do Unicef e das ONGs Education Cluster e Save the Children, pontua O Globo.
Resoluções apelando à maior assistência humanitária e proteção aos civis foram aprovadas, mas até o momento não surtiram efeitos. Israel, inclusive, ignorou a última resolução aprovada no fim de março, que exige um cessar-fogo imediato. E isso numa altura em que a Unicef é categórica em afirmar, através do seu porta-voz, que “toda a criança vivendo em Gaza está traumatizada”