Aos 101 anos, Hazel McCallion viu o seu contrato ser renovado em três anos para continuar a cumprir funções num dos maiores aeroportos do Canadá. Conhecida como “Furacão Hazel”, Hazel trabalha como diretora no conselho de administração da Autoridade dos Aeroportos da Grande Toronto (GTAA, na sigla em inglês), e a sua função é “supervisionar e orientar a administração nas atividades”.
A extensão do contrato foi anunciada na semana passada, menos de um mês depois da Furacão Hazel ter renovado o seu papel como consultora especial da Universidade de Toronto Mississauga, cidade onde foi ‘Mayor’ entre 1974 e 2014, com a instituição a deixar elogios pelo seu “conhecimento enciclopédico de política”. O ministro dos Transportes, Omar Alghabra, congratulou a centenária pelo seu marco “histórico”, deixando elogios pelo serviço comunitário prestado nas últimas quatro décadas e desejou boa sorte para o futuro “a supervisionar e orientar o maior aeroporto do Canadá”.
Conhecida como “furacão político”, Hazel nasceu antes da Grande Depressão no município de Port-Daniel Gascons, no Quebeque, em fevereiro de 1921, no seio de uma família onde o pai era dono de uma empresa de pescas e conservas e a mãe era dona de casa e responsável por tomar conta da quinta da família. Era a mais nova de cinco irmãos. Estudou numa escola de negócios no Quebeque, contudo, não chegou a frequentar o ensino superior uma vez que a família não conseguia suportar os custos.
Impossibilitada de continuar os estudos, começou a trabalhar numa empresa da produtora de cereais da Kellogg’s. Em 1942, foi transferida para Toronto, onde ajudou a fundar um escritório local. Foi neste período, Hazel começou a revelar o furacão dentro de si, trabalhando também como jogadora de hóquei, ganhando cinco dólares canadianos por jogo (atualmente, valeria algo como 73 euros), tornando-se, como voluntária, presidente da Associação de Jovens Anglicanos do Canadá. Foi também comissária distrital com as Escuteiras do Canadá e conheceu o seu marido, Sam McCallion, em 1951, durante uma missa da igreja anglicana de Toronto, acabando por se casar nesse mesmo ano. Permaneceriam casados até 1997 até o marido morrer devido à doença de Alzheimer.
A canadiana abandonaria o seu posto na empresa produtora de cereais em 1964 para iniciar a sua carreira política. Ocupou diversos cargos municipais até 1978, ano em que foi eleita pela primeira vez presidente de Mississauga, derrotando o popular ‘mayor’ Ron Searle, por três mil votos, que sugeriu que o “seu género era uma fraqueza”. Sobre a influência da centenária, o professor de ciência política da Universidade de Cape Breton e autor da biografia de Hazel, Tom Urbaniak, explicou que a “Furacão” “tem uma grande importância na política de Ontário, muito além do que se esperaria simplesmente ao ler os estatutos sobre os poderes de um presidente”.
“Um ex-primeiro-ministro comentou: ‘Ela é a única política em Ontário que me assusta pra caramba’”, cita o Guardian. “Portanto”, diz Urbaniak, “sempre que Hazel quer se pronunciar sobre um assunto, até ao dia de hoje, isso é notado”. Ao descrever o estilo político da ex-presidente de Mississauga, o professor explica que esta é uma “populista pragmática com uma capacidade incrível para sentir o pulso do público, mesmo antes que o público o perceba”, recordando como a Furacão Hazel fazia as suas compras em diferentes mercearias todas as semanas para perceber melhor as frustrações dos seus eleitores, utilizando, mais tarde, nos seus discursos, queixas dos cidadãos nos seus discursos. “Esse é um talento que ela nunca perdeu”, explicou.
Contudo, apesar do seu percurso que a elevou a um ícone da política canadiana, o seu trajeto político não se fez sem controvérsias. Em 1982, foi acusada de quebrar a regra do conflito de interesses, durante o planeamento do Tribunal Superior de Justiça de Ontário, uma vez que não se ausentou de uma reunião do conselho sobre um assunto no qual ela tinha interesse. A Lei Municipal de Conflitos de Interesses, aprovada no ano seguinte, teria exigido que esta abandonasse o cargo e proibiria de voltar a concorrer a outro mandato.
Em 2009, voltou a enfrentar o mesmo tipo de acusações uma vez que uma proposta para criar um centro de convenções e um hotel de luxo poderiam beneficiar o seu filho, cuja empresa tinha uma participação financeira no projeto no valor de milhões. Um juiz acabou por concluir que as acções de Hazel representavam “conflito de interesse real e aparente”, contudo a presidente insistiu que não tinha feito nada de errado e o caso acabou por ser arquivado em 2013.
Apesar de ter abandonado o cargo em 2014, deixou um enorme legado nesta região, com uma escola, uma biblioteca, uma parada, uma equipa de basebol a adotarem o seu nome e, agora, em homenagem ao seu 101º aniversário, vai ter também uma linha aérea com o seu nome, a Linha Hazel McCallion.
C/Sol.pt