O sector do turismo em Cabo Verde está mergulhada em profunda crise e as agencias de viagens estão a enfrentar tempos difíceis e não há certezas em relação ao futuro. Quem o diz é o presidente da Associação das Agências de Viagens e Turismo (AAVT), Mário Sanches, num exclusivo ao Mindelinsite.
Para Sanches, o mundo do turismo e transportes vive um momento unico e sem precedente, resultado da crise provocada pela pandemia da covid-19. “As agências de viagens atravessam tempos difíceis e inusitados e o pior é que não existe certeza de nada em relação ao futuro. As atividades das agências de viagens reduziram-se a zero! Não há negócio, não há rendimento! Tem sido uma missão hercúlea manter as portas abertas”.
Sem rendimento, com as fronteiras fechadas e muitas das companhias aéreas em terra, Sanches admite que os prejuízos são enormes. Mas, pelo menos por enquanto, afirma, é difícil avançar dados concretos ou quantificar as perdas. Porém a situação é tão precária que, afirma, logo no primeiro lay off, várias agencias aderiram. “No segundo existem clausulas que podem afastar as agências. Uma delas tem a ver com a proibição de despedimentos dos funcionários nos próximos 120 dias findo o lay-off, para além da proibição dos gerentes acederem a esta medida”, detalha.
O presidente da AAVT aproveita ainda para criticar a excessiva carga burocrática do processo do lay-off. “Por exemplo, para nós não devia ser necessário provar algo que todos sabemos, ou seja, não entendemos a necessidade do Estado solicitar um comprovativo da perda de rendimento em 40%, quando a perda é de aproximadamente 100%”, desabafa.
Pagar salários
Instado a explicar como tem feito para arcar com os salários e outros compromissos financeiros, Mário Sanches confessa que tem sido uma tarefa hercúlea. “As agências de viagens têm que se reinventarem todos os dias para manter as portas abertas e arcar com as despesas fixas. Os instrumentos criados pelo governo acabaram por funcionar como uma almofada para as empresas. Todavia, achamos que deve haver mais celeridade na operacionalização destes instrumentos. Falamos particularmente na concepção de crédito para apoio à tesouraria e pagamentos de dívidas pendentes por parte do cliente-Estado”, sugere.
Perante este cenário, sair desta crise não será fácil, mas é preciso lutar. O presidente da AAVT vê a realização dos voos essenciais Lisboa, Praia e Mindelo como uma luz no fundo do túnel. Mesmo assim, diz, enquanto não se abrem as fronteiras, a aposta deverá ser no turismo interno.
“Nesta fase, o mercado interno é a nossa tábua de salvação. As agencias de viagens precisam de algo para se agarrarem a curto prazo e que lhes garanta a sustentabilidade no futuro. Se antes era visto apenas como uma forma de fazer face à sazonalidade do turismo externo, agora é visto como salvação. E isso vale, também, para os hotéis, restaurantes, companhias aéreas domésticas, empresas de transportes, guias de turismo e.t.c”, frisa.
A ideia, segundo Mário Sanches, é aproveitar e explorar a atractividade de cada uma das ilhas do país. Mas, para tirar proveito do mosaico que é Cabo Verde, alerta para a necessidade de os operadores se organizem. Também terão de organizar a oferta turística e apresentar um circuito que servirá, numa segunda fase de atrativo, também, para turistas internacionais. “A AAVT está a trabalhar com o Governo, através do Ministério do Turismo e Transportes, no sentido de ultrapassar outras questões que impactam o desenvolvimento do turismo interno, tais como a periodicidade no tocante aos transportes marítimos, o elevado preço dos bilhetes aéreos e para incutir no cabo-verdiano a cultura de viajar pelas ilhas”, explica este responsável.
Paralelamente, a AAVT está a trabalhar com outras associações empresariais, nomeadamente a Câmara de Turismo, a Associação de Turismo de Santiago, operadores económicos e outras associações do turismo do país, no sentido de por de pé este projeto do turismo interno, tendo sempre a questão sanitária como condição primeira. Para Sanches, a redução dos preços dos transportes aéreos e criação da tarifa do operador é fundamental. Neste quesito, diz, já apresentaram ao governo uma proposta que passa pela redução das taxas de aeroporto e de embarque, sendo que a própria agência de viagens isenta a sua taxa de serviço numa primeira fase.
Futuro incerto
Em relação ao futuro, prefere ver a situação como um processo dinâmico em que, alega, nem os melhores experts conseguem ver mais à frente. Mesmo assim, enquanto associação empresarial, diz que a AAVT vai continuar a acompanhar a evolução do mercado, os seus associados e, em função disso, tomar as melhores decisões sempre na defesa dos seus associados e do negocio das viagens e turismo em Cabo Verde.
Sanches termina apelando aos cabo-verdianos a cumprirem as regras estabelecidas pelas autoridades para a contenção da Covid-19, sob pena de não se conseguir resolver o problema do turismo. Admite, no entanto, que o negócio de viagens e turismo nunca mais será igual.