Um grupo de antigas operárias da extinta confecção Cape Verde Clothing voltou a reunir-se ontem, 18 anos depois de terem sido enviadas para casa para serem posteriormente chamadas para trabalhar, para pedir explicação sobre a venda da fábrica e respectiva indemnização. Alegam que existe um processo no Tribunal da Comarca de São Vicente, mas não foram tidas e nem achadas.
A indignação do grupo é perceptível nas vozes de Bega da Silva e Arlinda Paris, que falaram à imprensa em nome dos colegas. “Somos antigas funcionarias da CV Clothing no Lazareto, Soubemos que a fabrica foi vendida e queremos que nos deem uma explicação como fica a nossa situação. No meu caso, trabalhei seis anos na empresa, fui para casa de férias e nunca mais voltei”, desabafa Bega, que critica sobretudo os seus representantes sindicais, que alegadamente não souberam discutir os seus direitos.
“Na altura, procuramos os responsáveis do Sindicato da Industria, Comércio e Serviços (SICS), Virtulino Castro e Zeca, que nos garantiram que tinham dado entrada a um processo no tribunal. Desde então estávamos à espera de uma decisão. Fomos surpreendidas com a notícia da venda porque ninguém nos procurou. Vou por isso que decidimos reunir para exigir explicações e os nossos direitos”, pontua.
Esta deixa entretanto claro que, apesar de ter suspensa as suas actividades, a fábrica nunca deixou de facturar porque chegou a alugar o pavilhão à NATO, a quanto dos exercícios militares em Cabo Verde. Posteriormente, a unidade foi novamente arrendada à uma empresa de produção de papel higiênico e fraldas descartáveis e, mais recentemente, era utilizado como canil pela associação Simabô.
“Soubemos que a fábrica estava sob a responsabilidade do BCA. O que queremos saber é como fica a nossa situação. Estivemos seis anos a trabalhar na fabrica e fomos para casa de mãos a abanar. Entretanto, soubemos que existe um processo no tribunal intentado por pouco mais de 100 trabalhadores, quando na verdade trabalhavam na CV Clothing mais de 800 pessoas. E o advogado da empresa já veio avisar que, se tiverem de pagar indemnização, apenas estes serão contemplados.”
Arlinda Paris mostra-se particularmente inconformada por terem sido ignoradas no processo de venda do pavilhão e com a possibilidade de não ser contemplada, caso a empresa vier a pagar indemnização, tendo em conta que o seu nome também não consta da lista. “Estive oito anos a trabalhar na fabrica e, quando resolveram fechar, pagaram os nossos salários parcelados. Fomos para casa com a promessa de voltar, o que nunca aconteceu. Mas a empresa tinha todo o seu recheio quando fechou e, mesmo com um processo no tribunal, conseguiram retirar tudo. Não há nada nas instalações.”
Inconformada, esta revela que procuraram o tribunal para informar e limitaram a confirmar que o espaço já está vendido. “Durante todo este tempo que estivemos em casa, a empresa sempre esteve no activo, ainda que de outra forma. Não produzia, mas lucrava. Agora foi vendida e nem o sindicato, nem o tribunal nos disseram nada. Queremos saber como fica a nossa situação?” questiona Arlinda Paris, que acusa ainda o sindicato de escolher e excluir os nomes dos funcionários que processaram a empresa mas que espera, mesmo assim, ser ressarcida pelos oito anos de trabalho na Cape Verde Clothing.