Começou a trabalhar na Fábrica de Calçados Socal com apenas 16 anos. Esta unidade fabril, que marcou uma época em São Vicente, fechou as portas em 1992 e, desde então, Fernando Monteiro, mais conhecido por Nando d´nhe Domingas, realiza o sonho de fazer sapatos com desenhos exclusivos e ao gosto dos clientes. Apesar de alguns percalços da vida, este sapateiro da Ribeira Bote está a retomar a sua actividade e já vende as suas peças em S. Vicente, envia alguns dos seus calçados para as ilhas e para a diáspora.
A produção é pequena, até para garantir a singularidade do seu trabalho, facto que orgulha este sapateiro, de 54 anos. “Antes de ir para trabalhar na Socal não sabia nada de sapatos. Tudo o que sei aprendi naquela fábrica e hoje uso estes conhecimentos para criar calçados únicos. Sou um apaixonado por sapatos. Gosto de criar modelos únicos e de surpreender as pessoas. É um trabalho que me deu vida. É dele que tira o meu sustento”, afirma.
Mas, a semelhança de outras profissões consideradas mais artísticas, Nando admite que também foi afectado pela pandemia da Covid-19. Foi obrigado a fechar as portas do seu atelier e suspender a actividade, após um aviso da polícia. Recomeçou agora a produção e está confiante de que as coisas vão melhorar. “Os meus sapatos são originais, ou seja, não podem ser encontrados nas lojas. Este é o meu diferencial, para além de usar produtos de qualidade.”
Faz sapatos para homens, mulheres e crianças. Inicialmente os seus modelos eram apenas para homens. Acreditava que não havia espaço para colocar sapatos de mulheres e crianças, tendo em conta a quantidade de lojas a comercializar os mesmos produtos. “A pedido de amigos, comecei a arriscar fazer sapatos de mulher e percebi que também posso produzir e vender sapatos para todos, homens, mulheres e crianças. E têm tido muito boa saída. As vezes recebo pedidos de sapatos de tamanhos extra grande, inclusive de mulheres. É gratificante poder atender.”
Foi adquirindo os equipamentos necessários ao longo dos anos. E hoje orgulha-se de ter um atelier “muito bem equipado”. “Ainda falta alguma coisa, mas os equipamentos que tenho dão para fazer um trabalho com qualidade. Agora, conseguir matéria-prima é que é mais difícil”, lamenta Nando, realçando que antes comprava em Portugal, mas agora vê-se obrigado a recorrer a lojas em S. Vicente e na Praia e ser muito criativo.
“Antes comprava os materiais necessários em Portugal, mas neste momento os preços dispararam e está mais difícil viajar. Tenho uma filha a residir naquele país e ainda envio dinheiro para ela comprar alguma coisa, mas a maior parte dos materiais que usso agora compro aqui mesmo na ilha de São Vicente ou na Praia”, revela Nando, que se orgulha de ser procurado pelas pessoas interessadas em ter um sapato sob medida. “São 38 anos a fazer sapatos. As pessoas já conhecem o meu trabalho e confiam na sua qualidade e originalidade.”
Reconhece alguma incerteza na profissão de sapateiro. As vezes a procura é muita e outras vezes nem tanto. Mas, afirma, dá para viver. “Foi graças a minha profissão que criei os meus filhos, hoje com 34 e 28 anos. São Vicente tem muitos sapateiros, mas o trabalho de cada um é diferente. Tenho muito orgulho daquilo que sou e faço”, remata.