O Comité Olímpico Cabo-verdiano reagiu com “orgulho” pela entrega da atleta Márcia Lopes, 19 anos, na representação das cores nacionais nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020. A jovem terminou a sua participação nesta competição com a pontuação geral de 42.850 em todos os aparelhos. “A atleta de Ginástica Rítmica é a terceira cabo-verdiana a estar presente nos Jogos Olímpicos. Parabéns Márcia estamos orgulhosos pela tua entrega na representação das cores nacionais!”, escreveu o COC, numa curta mensagem publicada sua página no Facebook.
Já a atleta Wania Monteiro, que representou Cabo Verde nos JO de Atenas, diz ter ficado pasma com o relato feito numa perspectiva negativa por um jornalista na rádio, que preferiu destacar a “diferença abismal” entre a actuação de Márcia Lopes e das demais atletas concorrentes. “Gostaria de felicitar a Márcia Lopes, a professora Elena, os pais da Márcia, os treinadores e dirigentes da Associação de Ginástica da Praia, da Associação de Ginástica de São Vicente e Clube Mindelgina e do Ginásio Clube Português. Todos são responsáveis pela bela e corajosa participação da Márcia nos Jogos de Tokyo!”, começou por escrever, num longo desabafo na sua conta pessoal.
Fazendo um recuo no tempo, esta antiga atleta olímpica diz recordar a sua participação em Atenas, em que o título da notícia em um jornal sobre a sua participação foi “Wânia Monteiro fica em último lugar”. “Das outras atuações nestes Jogos ouvimos: 1) esteve lado a lado com os grandes da sua modalidade; 2) é uma grande esperança para Cabo Verde; 3) há que investir neste jovem… e por aí adiante. Gostaria de ter ouvido estes comentários também para a Márcia, uma orgulhosa atleta que quer continuar a dar o seu suor e sangue pelo país ainda durante alguns anos”, acrescentou.
Para Monteiro, é preciso alterar a narrativa e começar a apontar os pontos cruciais que afetam o atleta e toda a sua preparação até chegar às grandes competições. Neste sentido, afirma, qualquer atleta e treinador cabo-verdiano que chega aos Jogos Olímpicos deve ser felicitado pela sua participação e pelo seu esforço. “Os resultados são as consequências do trabalho do país que representa, e não o espelho do esforço do atleta. Sim, a diferença é abismal, mas lembrem-se que todas as ginastas que estiveram presentes nos Jogos, mesmo em cenário de pandemia, participaram em pelo menos seis competições ao longo dos últimos 6 meses. As competições, obviamente, são parte fundamental para a preparação física e psicológica do atleta. Em quantas participou a Márcia?”, interroga.
Lembra ainda que todas as ginastas que estiveram nos JO são de países onde, em maior ou menor escala, existem políticas que favorecem o desenvolvimento do desporto e incentivos aos atletas, aos treinadores e aos dirigentes, e desafia os cabo-verdianos a indicar as políticas que, durante a carreira da Márcia, estiveram em vigor (na prática!) e que favoreceram a sua carreira enquanto atleta. “As circunstâncias são diferentes e a diferença, esta é, sim, abismal!”.
Foi um momento histórico para a jovem ginasta, de apenas 19 anos, que se estreava nas Olimpíadas, depois de já ter estado em muitas competições internacionais como campeonatos do mundo (duas vezes), campeonatos africanos e outros torneios.
De um total de 26 ginastas de diferentes países, Márcia foi a primeira apresentar. Foram quatro rondas, de quatro elementos cada: bola, arco, fita e a maça. Cabo Verde e Egipto foram os únicos países a representar o continente africano na modalidade, com Márcia a ficar distante da prestação das outras concorrentes em termos de pontuação.