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Desporto

Centenário do Mindelense: Ganhar é a marca dos “Leões do Norte”, vencedores de 51 títulos regionais e 21 nacionais

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O Clube Sportivo Mindelense celebra este sábado, 25, o 1º centenário da sua criação – 1919/2019 – com um jogo importante para as aspirações deste emblema para esta época, frente aos Onze Estrelas da Boa Vista. Apesar de não fazer prognósticos, o presidente Daniel Jesus admite que a maior prenda seria uma vitória nesses dois jogos que faltam para concluir a temporada, garantindo assim mais um troféu na sua galeria, que já conta com 51 regionais, 21 nacionais e um número ainda por inventariar de taças ganhas em torneios e amistosos. Uma estatística que, de acordo com Jesus, faz com que o Mindelense seja, sem sombra de dúvidas, o mais antigo, o maior e o melhor clube de Cabo Verde. “Ganhar é uma imagem de marca e uma obrigação deste emblema.”

Por Constânça de Pina

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Esta é uma data ímpar, mas as metas fixadas para esta época desportiva – conquista dos campeonatos regional e nacional – retardaram as actividades do Mindelense, que só hoje divulga o seu programa dos 100 anos. Arranca na manhã deste sábado, 25, com o hastear da bandeira por uma velha glória, seguido de uma missa na Paróquia de Nossa Sra da Luz em memória dos já falecidos jogadores, dirigentes, sócios e de todos aqueles que abraçaram este símbolo desportivo. “Este programa espelha o Mindelense. É uma passagem de testemunho de gerações. Então, nada melhor do que recordar os que por aqui passaram e que nos permitiram atingir esta magnitude”, diz Daniel “Nhela” Jesus, que destaca ainda um leque de actividades, que vão desde torneios de velhas glórias, futebol feminino, corridas, entre outros.

Para além destas provas, o clube encarnado decidiu integrar o Kavala Fresk Feastival, evento que de ano para ano vem ganhando relevância e que ocupa toda a mítica Avenida Marginal, abarcando, com isso, as instalações do Clube Sportivo Mindelense na famosa Rua de Praia. “Mas o nosso programa prolonga-se até o final deste ano, com alguns pontos altos, de entre os quais a Festa do Vermelho, que vai acontecer no próximo dia 27 de Julho. Esta é uma festa que queremos fazer para todas as pessoas afectas ao Mindelense. Não é fácil porque temos uma massa associativa enorme, mas a nossa expectativa é que seja um convívio de arromba”, elenca.

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Do calendário, consta ainda torneios de futebol feminino e internacional, com participação de um clube angolano, diz o presidente, que lamenta, no entanto, as limitações económicas e financeiras, o que, frisa, vai demandar um maior envolvimento dos convidados. Mas nada que desanime Jesus, que não tem dúvidas que o Mindelense é o mais antigo, o maior e o melhor clube de Cabo Verde, como atestam as estatísticas. São 51 títulos regionais, 21 nacionais e um número por contabilizar de trofeus e taças. Este é, aliás, um trabalho que está a ser feito neste momento por esta direcção.

Fundado por ingleses, emblema igual aMiddlesbrough

Reza a história que as origens do Mindelense, ao contrário da crença popular, são inglesas. Foi criado em 1919 por funcionários do Italcable, originários do Middlesbrough da Inglaterra. E a prova é que os dois clubes têm emblemas iguais. Mas esta não é a única ligação à história desta ilha. Segundo Jesus, há relatos de vários jogos com equipas europeias, sobretudo inglesas, que passaram por S. Vicente. Um dos exemplos mais marcantes é um jogo entre o Mindelense e o Arsenal, equipa que fez uma paragem na cidade do Mindelo, a caminho da África do Sul. “São factos relevantes, que infelizmente não estão escritos. Temos referências verbais de arquivos vivos, caso de Valentim Neves e do Danny Mariano, por via de histórias que ouviu do pai Dante Mariano, João Dóia e outros, que queremos registar para não perderem”.

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Logos do Mindelense e Middlesbrough

Outro facto mais recente foi a vinda de uma mulher de Luxemburgo, que veio procurar as suas raízes em S. Vicente. A única referência que tinha era que o pai jogou no Mindelense. De acordo com Jesus, iniciou-se uma busca que foi desembocar numa sapataria antiga. Lá encontraram uma fotografia do Mindelense, datada de 1935. “Foi a única referência que encontramos do pai da mulher e confirmou-se que, de facto, este jogou no Mindelense. A foto foi tirada antes de uma partida no Salina. Já não resta nenhum sobrevivente daquela época. Mas isso mostrou, uma vez mais, que a história do Mindelense se confunde com a de São Vicente e suas gentes.”

Por causa disso de outros marcos, ninguém dúvida que o Mindelense seja o clube com maior massa associativa em São Vicente e Cabo Verde. E isto ficou patente agora no campeonato nacional em que os jogos dos “leões encarnados” são sempre os com maior audiência, inclusive nas partidas fora de casa. “Mindelense é um clube verdadeiramente nacional. Na viagem recente ao Porto Novo arrastamos muitas pessoas e nos sentimos em casa. Também na deslocação a Boa Vista , na semana passada, tivemos a maior enchente deste nacional. Isso mostra a dimensão do nosso clube. Sempre que jogamos em casa, no Adérito Sena, batemos recordes. Esperamos amanhã ultrapassar a fasquia de três mil pessoas no estádio. Esta particularidade e simbolismo do Mindelense são únicos e cabe-nos a nós fazer com que isso perdure.”

Turbulências económicas e financeiras

Se a nível desportivo não há razões de queixas, no plano económico e organizativo o clube viveu no fio da navalha durante largos anos. Daniel Jesus conta que, quando assumiu a gestão do Mindelense, encontrou uma situação difícil. Não havia estabilidade em termos directivos e foram apuradas falhas graves na relação com os sócios e com a massa adepta. Além disso, havia encargos financeiros pendentes que colocavam em risco o próprio património físico do clube. Por isso, as primeiras medidas foram no sentido de arrumar a casa em termos organizativos e aproximar o clube dos sócios.

Foto mais antiga de uma equipa do Mndelense na posse direcção

“Temos um clube com cerca de 1300 sócios, dos quais 10% são pagantes. A nossa massa adepta ronda as 50 mil pessoas. É frustrante quando fazemos uma assembleia-geral para prestar contas e estimular as pessoas a se aproximarem e envolverem-se na vida do clube e a aparece pouco mais de uma dezena e meia de sócios. Sempre os mesmos e por vezes nem todos imbuídos do espírito de fazer avançar o clube. Se tivéssemos mais mil ou dois mil sócios, e todos pagassem suas cotas, não teríamos problemas financeiros.”

Paralelamente, a actual direcção está a travar uma outra batalha para resolver os problemas resultante do passivo do clube junto da banca, fornecedores e colaboradores. Segundo Jesus, em quatro anos de mandato foram liquidadas dívidas na ordem dos 10 mil contos, resultantes de despedimentos sem justa causa, com fornecedores de curto e médio prazo, rendas de espaços para albergar atletas, Finanças, INPS, etc. No entanto, o maior obstáculo é uma dívida para com um banco, que se arrasta há 20 anos.

“Na época, a direcção teve a ambição de arranjar instalações à altura para o clube e recorreu à banca, mas depois não teve condições de cumprir. Hoje temos responsabilidades com a equipa de futebol e com os colaboradores, mas também com a banca e demais fornecedores. Temos uma responsabilidade mensal com jogadores, equipa técnica e empregados à volta dos 500 contos e rendimentos fixos – aluguer de espaço – na ordem dos 400 contos. Isto quer dizer que temos um défice mensal de 100 contos.”

E isso sem contar o compromisso com a banca, cuja prestação mensal ultrapassa os 150 contos. A situação é difícil, admite o entrevistado, que diz com esta exposição pretender dar a conhecer aos adeptos a real situação do clube, o que obriga a uma contenção de gasto e de maximização de cobranças. Para complicar ainda mais as contas, há dois anos que o Mindelense está sem patrocinador, por opção, mas também porque não conseguiram angariar um que compreende-se a sua dimensão.

“O Mindelense é uma marca e precisa ter um patrocinador que sinta que vale a pena investir no clube. Por outro lado, não podemos hipotecar o espaço publicitário apenas para constar. Fizemos algumas tentativas, mas não houve entendimento. Esperamos angariar um patrocinador à altura do clube porque o equilíbrio do nosso orçamento também passa por isso”, pontua.

Futebol, modalidade rainha

É também por causa dos apertos financeiros que o clube não diversifica as modalidades. Neste momento conta apenas com futebol sénior masculino, mesclado com o sénior feminino, sendo que este último resulta de uma parceria com a escola Epif, que garante alguma autonomia à equipa. Mas Daniel Jesus deixa claro que, no dia em que o clube conseguir estabilizar as suas contas, delineará novos desafios, sendo o primeiro o futebol de formação, mantendo sempre a fasquia elevada, que é uma imagem do Mindelense.

“Já tivemos uma equipa de Voleibol, que inclusive foi campeão nacional. Quando decidirmos avançar para outras modalidades, vamos manter o nível de exigência e um patamar com a cultura desportiva de ganhar. Se não for assim, não vale a pena. Ganhar é uma obrigação deste emblema. Temos a noção do nosso peso e responsabilidade, o que explica a mística deste clube. Isso não se explica. Sente-se e é passado de geração em geração. Todos os que estão no Mindelense têm de encarnar a ideia de ser um ´Leão do Norte`”.

Mas Daniel “Nhela” Jesus deixa clara que o Mindelense não pretende ganhar a todo custo e nem usar estratagemas, como por vezes se quer fazer crer. Aliás, afirma, este é um clube que respeita a ética desportiva e os adversários. Basta dizer que, de 2015 a 2018 o CSM ganhou quatro títulos nacionais. Isso sem contar o célebre caso de São Nicolau, em que a equipa foi afastada da final. Se vencer amanhã, significa que em sete anos disputou seis finais. “Isso é obra e ninguém pode tirar este mérito ao clube. Sem bazofaria e sem vaidade, mas com noção da realidade, podemos dizer que somos o maior e o melhor clube de Cabo Verde”, conclui este dirigente.

Constânça de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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2 Comentários

  1. Parabéns Mindelense. Parabens S.Vicente.
    Oscar Santos pa tchupa limon.

    Parabens pelo artigo também, está muito e que apresenta a fala de S.Vicente.

  2. Parabéns Mindelense, epecialmente ao Sr. Presidente Daniel Jesus a quem “tiro o chapéu” pela sua dedicação ao clube e elevação da marca Mindelense. Acredito que consigo no leme, aliado à sua garra de um verdadeiro Leão do Norte, atracaremos em porto seguro.

    “Mindelense, Mindelense
    A força encarnada do leão”
    ….

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