A Associação de Boxe de São Vicente marcou a eleição do seu novo corpo directivo e do próximo presidente para o dia 26 de abril. Desmotivado com a falta de apoio dos seus pares, o actual presidente garante que não tem pretensão de disputar um terceiro mandato, apesar de até o momento não ter conhecimento de nenhuma lista, pelo que antevê a criação de uma comissão de gestão para gerir a modalidade, no ano em que a ilha sedia o campeonato nacional de boxe.
Ao Mindelinsite, Valdo Reis explica que assumiu o cargo em 2018 de forma voluntária devido a falta de alternativa. “As candidaturas são escassas no boxe e a prova disso é que, a um mês das eleições, ainda não recebemos nenhuma lista. Mas não pretendo candidatar. Sinto-me desgastado devido a falta de apoio e críticas que afetaram o meu bom nome. Há muita ingratidão por parte de alguns dirigentes, apesar de tudo o que fiz para o boxe de São Vicente desde que assumi o cargo de presidente.”
Este dirigente desportivo garante que, em 2018, assumiu a presidência, contra a sua vontade porque a sua paixão é ser treinador. “Na altura, avancei por falta de alternativa e para não deixar a modalidade morrer em São Vicente, ilha que tem tradição da pratica do boxe. Estivemos dois anos parados por causa da Covid-19 mas, desde que retomamos as atividades, acredito que houve muitas mudanças. As bases do boxe estão consolidadas, mas algumas pessoas sabem apenas criticar”, desabafa Valdo Reis, que diz já ter comunicado aos dirigentes dos clubes a intenção de, em princípio, não voltar a concorrer.
Não havendo nenhuma candidatura até 21 de abril, será criada uma comissão para gerir a modalidade em S. Vicente, lamenta o ainda presidente, sobretudo porque, afirma, isto acontece no ano em que a ilha assume o campeonato nacional de boxe, depois de dez anos, e outras atividades. “O problema é que este é um cargo voluntário e temos de disponibilizar tempo e muitas vezes recursos próprios para promover atividades. E ainda somos criticados. As pessoas não estão disponíveis para isso,” desabafa.
Apesar dos obstáculos que teve de ultrapassar ao longo dos dois mandatos, Valdo Reis orgulha-se de deixar obra feita. “Quando assumi, havia apenas um clube oficial – Comando da Primeira Região Militar. Hoje temos em São Vicente seis clubes oficiais seniores (masculino e feminino) e um que se dedica às crianças, o LL Academy Kits. Temos um clube em Chã de Marinha, o Comando Militar, LL Academy e outros quatros que treinam no Polivalente da Ribeira Bote, espaço cedido pela Câmara de S. Vicente.”
Trata-se de um feito que faz da Associação de Boxe de São Vicente a única em Cabo Verde inscrita na Federação a representar sete clubes. Entretanto, em termos de praticantes, admite houve uma redução significativa após a pandemia da Covid-19, o que obrigou a associação a se apresentar no nacional, em 2024, apenas com atletas sem experiência. “Mesmo assim conquistamos o segundo lugar”, sublinhou.
Mas foram sobretudo os atletas do sexo feminino que abandonaram a modalidade. Mas não por culpa da associação, garante Para Valdo Reis, para quem o facto de treinarem para participar no nacional e, sistematicamente, serem suspensas as competições desmotiva e afasta as atletas. “Todos os anos, nas vésperas do campeonato nacional, que é o sonho de qualquer atleta independente da modalidade, recebemos informações que as provas femininas foram suspensas. É desanimador. E já aconteceu por 3/4 anos consecutivos. Por isso, muitas mulheres acabaram por abandonar a prática do boxe.”
Mas Valdo Reis acredita que dias melhores virão, sobretudo em termos de formação de novos atletas, sobretudo após a criação do Centro de Alto Rendimento Desportivo. “Foi uma grande aposta do Governo e penso que, já no próximo ano, teremos mais atletas jovens prontos para competir.”
Questionado se o boxe em São Vicente está “estagnado”, o ainda presidente da Associação de Boxe nega categoricamente, deixando claro que os clubes e a própria direção têm feito o possível para que a modalidade continue viva. A prova disso é que, afirma, no ano passado formaram 22 treinadores, com apoio do Instituto do Desporto e da Juventude e, antes, tinham capacitado os árbitros.
Agora é trabalhar na motivação de atletas, defende, reconhecendo que não será uma tarefa fácil, tendo em conta que o esforço dos atletas não é recompensado. Em termos concretos, diz, a associação não tem condições de atribuir prémios monetários nas competições, apenas medalhas e troféus.