Três atletas internacionais de andebol de férias em São Vicente – Flávio “Fêtê” Fortes, Ivo Santos e Rafael “Rafa” Andrade – vão estar hoje e amanhã em conversa e prática com estudantes, jogadores, treinadores, professores e amantes do andebol. Os encontros vão acontecer no auditório do Liceu Ludgero Lima e no Polidesportivo de Oeiras, numa iniciativa do Instituto do Desporto e da Juventude e da Associação de Andebol de São Vicente.
Em conversa com Mindelinsite, “Fêtê” mostrou-se satisfeito com esta iniciativa do IDJ e convidou todos os interessados e amantes do andebol a participarem nestes dois encontros, hoje basicamente para conversar e descrever o percurso no andebol até chegar ao alto nível e, amanhã, para uma demostração prática. “Vamos tentar trazer alguns pontos importantes para o andebol em São Vicente. Por exemplo, vamos falar da forma de jogar e dos métodos de treino, voltado sobretudo para a minha experiência lá fora. Ou seja, não vou falar propriamente do andebol, mas sim da minha vivência enquanto jogador profissional em Portugal, Espanha e agora em França”, descreve este ex-atleta do FC Batuque.
O propósito, diz, é mostrar como a modalidade difere de país para país. “Temos também o Ivo que jogou em Portugal, Áustria e Alemanha e Rafa que está em Portugal. Vamos descrever o percurso de cada um de nós e também mostrar as diferenças de estilo dos treinadores. Por exemplo, mesmo em Portugal, treinadores do Norte são muito diferentes de os de Lisboa; os espanhóis têm também as suas especificidades”, exemplifica, destacando ainda as características de um atleta de alto nível para além do treino, que passa por ser um exemplo tanto no desporto como na vida pessoal.
Neste sentido, segundo “Fêtê”, vão deixar o seu testemunho também sobre a parte invisível do que é ser um “atleta internacional” e que poucas vezes merece importância das pessoas. “Sou internacional desde sub-16 e estou neste momento com 28 anos. Há 12 anos que represento Cabo Verde ao mais alto nível. Então, acredito que tenho muito para partilhar, sendo que a modalidade sofreu muitas alterações. O jogo está mais rápido, os atletas aprimoram por sua inteligência e capacidades individuais. Hoje o aspecto físico não é o mais importante. O andebol é uma modalidade em constante evolução”, pontua este atleta que, embora distante, diz ter o sentimento de que o andebol regrediu em S. Vicente.
Igual entendimento tem Rafa, que fala em poder de decisão de um jogador e posicionamento em campo como trunfos no novo andebol que se joga lá fora. “O nosso andebol ainda está muito longe daquilo que se pratica actualmente lá fora. Mesmo o andebol em Portugal está aquém, comparado com outras paragens. Precisamos começar cada vez mais cedo, nas escolas. Começar com 17/18 anos, ficaremos sempre para trás. É muito tarde em relação a outros países”, declara este atleta, para quem, mesmo na Selecção de Cabo Verde, foi preciso esperar cinco a seis anos para se atingir o nível actual. “Ainda o nosso nível não é tão elevado porque iniciamos demasiado tarde”.
Para Rafa, a grande diferença entre os atletas nacionais e os estrangeiros é que estes iniciam muito cedo e, por isso, conseguem ir muito longe. “Conheci jogadores que, com cinco anos, já estavam com bola nas mãos, enquanto nós temos um primeiro contacto com a modalidade muito mais tarde. Esta vai ser a minha mensagem. Quanto a prática que iremos fazer no sábado, espero mostrar a diferença entre o andebol que se joga aqui em São Vicente e o que se pratica lá fora. Vamos mostrar na prática aquilo que iremos transmitir hoje na conversa”, acrescenta este atleta internacional.
E é com base na sua experiência passada que se mostra expectante. Rafa conta que começou a jogar andebol na Escola Secundária José Augusto Pinto, com Aquilino Fortes. Passou pelo Atlético do Mindelo, onde foi treinado por Adelino Duarte e Kim-zé Brito. Hoje, no nível em que se encontra, acredita que é preciso acertar alguns pormenores na forma como se ensina o andebol no país, não obstante reconhecer o mérito destes treinadores.