Pub.
Pub.
Cultura

Regresso às origens: Uma viagem gastronómica por São Nicolau

O “Regresso às Origens” começou no carnaval de 2011 como um encontro entre irmãos que vivem espalhados pelas ilhas e outros países, quando tiveram a ideia de se reunirem na propriedade dos pais, em Fajã, onde também passaram boa parte de sua infância. A partir de um encontro de família e amigos, nasceu um ritual de acolhimento e convivência, ao ar livre e o mais natural possível, que hoje chama a atenção de muitas pessoas e leva nacionais e estrangeiros à localidade de Fajã, todos os sábados antes do carnaval. Uma oportunidade para reviver e ressaborear sabres e costumes típicos da ilha, como o famoso Modje de Capode, ou então relembrar o ritual de reparação da tradicional farinha de pau.

SONY DSC

A ideia partiu de Iolanda Soares, operadora turística, que encontrou nesta iniciativa uma forma de preservar a memória da mãe, que sempre recebeu os amigos dos treze filhos na sua casa, com muita hospitalidade e carinho. “O carnaval de São Nicolau é uma festa popular, geralmente aproveitada para a reunião de familiares. Assim, pensamos reunir toda a família e fazer uma única festa. Geralmente, no sábado, as pessoas não tinham muita coisa para fazer ou onde ir, enquanto se preparava os últimos detalhes do carnaval. Foi aí que pensamos na tradição de matar um porco, sempre que chega um familiar de fora. Reunimo-nos em Fajã, com os irmãos, primos e amigo, numa época que também havia muita mandioca, o que induziu também a ideia de fazer uma demostração da produção de farinha de pau”, explica Iolanda.

Publicidade
SONY DSC

Na sua nona edição, o “Regresso às Origens”, recebe os visitantes que chegam mais cedo com um café da manhã tradicional, com cachupa guisada, acompanhada de sanfana ou botxada de porco (chouriço de sangue), cuscuz quente, entre outras iguarias da ilha. Em simultâneo, várias mulheres dão início aos preparativos para o almoço, dedicado aos sabores típicos de São Nicolau. Modje de capode, cherém, frijnod, feijão pedra, ervilha seco e batata-doce são alguns dos pratos principais, tudo confeccionado de forma tradicional, com recurso à lenha.

Enquanto esperam o almoço ficar pronto, os visitantes podem saborear o torresmo de porco feito na hora, acompanhado do grogue da ilha, ponche de maracujá e sumos naturais. Uma viagem pela culinária da ilha, complementada pela habitual demonstração do ritual de feitura da tradicional farinha de pau (farinha de mandioca), passo a passo, para que os visitantes possam conhecer cada fase desta transformação, desde descascar a mandioca, que de seguida é ralada e secada por horas numa esteira. A seguir a farinha é torrada numa fogueira preparada logo ao lado, com cuidado para ficar no ponto certo. Dizem os locais que a farinha de pau é uma grande fonte de proteínas para se desfrutar no café da manhã.

Publicidade
SONY DSC

“É algo que nós fazemos com muito carinho, pois gostamos de acolher as pessoas e queremos que elas se sintam bem aqui. Que se sintam em casa. Porque não apreciar este ambiente natural, com comida genuína de Fajã e uma boa música ao vivo, tocada por amigos que vêm aqui e o fazem com muito prazer”, conta Iolanda, para quem este encontro é um preparativo para, mais tarde, festejar o carnaval na Vila da Ribeira Brava.

Apesar da imponente casa, construída no meio do pomar, a natureza é o expoente máximo do Regresso às Origens. As mesas ficam do lado de fora, aproveitado a fresca sombra das árvores e uma vista verdejante que se vê em todos os ângulos possíveis. Mangueiras, bananeiras, cana-de-açúcar e árvores fruteiras embelezam o espaço aleatoriamente. Um convite para conviver com amigos e com a natureza, numa combinação perfeita entre sabores e aromas de São Nicolau.

Publicidade

Turismo em São Nicolau

Para além do pontual encontro no Regresso às origens, Iolanda Soares é operadora turística na ilha, com a agência Zebra Travel Turismo e Viagens. Para Iolanda Soares, ainda há muito a fazer para o desenvolvimento do turismo em São Nicolau, considerando, entretanto, que estão caminhando no sentido certo. Este ano, os operadores criaram uma associação e foi assinada um protocolo com as Câmaras Municipais a fim de poderem “avançar alguma coisa em São Nicolau”, como explica Soares.

Já cumprimos um programa, o Walk it Saniclau, iniciado em Novembro de 2018 e o próximo também já está agendado para Novembro deste ano. Estamos agora a aproveitar o carnaval e a nossa gastronomia para promover São Nicolau, uma ilha muito rica neste aspecto e sabemos que temos condições de promove-la com qualidade.”

Uma questão qua ainda representa um entrave para o desenvolvimento turístico e económico de São Nicolau, segundo Iolanda Soares, é a fraca ligação aérea e marítima. Um problema que pensa estar a ser solucionado no momento, principalmente a nível marítimo. “O Governo tem essa consciência e sabe do que nós precisamos aqui.” Iolanda considera ainda que a ilha já tem a sua potencialidade. Precisa agora de um melhor investimento a nível financeiro e de marketing na promoção destas potencialidades e de tudo o que existe para ser explorado.

Natalina Andrade (Estagiária)

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo