Prestigiada revista americana publica Recensão Crítica do romance “Acushnet Avenue – Pelos Caminhos de Chiquinho” de José J. Cabral

A revista Gávea, da Brown University, publicou uma resenha literária do livro “Acushnet Avenue – Pelos Caminhos de Chiquinho”, do escritor sanicolauense José J. Cabral, obra que, segundo o autor dá continuação ao maior romance cabo-verdiano “Chiquinho”, escrito por Baltazar Lopes da Silva, através da qual retrata a presença dos cabo-verdianos nos Estados Unidos, desde os tempos da baleação, até 1962 quando Chiquinho regressa para se estabelecer definitivamente em Caleijão, onde ainda vive.
Em declarações ao Mindelinsite, Zé Cabral assume que a publicação na revista Gávea constitui o reconhecimento do trabalho que tem vindo a desenvolver e que já o tinha sido anteriormente pelo Mayor da cidade de Bridgeport, nos Estados Unidos. “Na altura, recebi da mão de um Senador Estadual, convidado pelo autarca, um diploma de reconhecimento pela promoção que tenho vindo a desenvolver sobre o conhecimento da diáspora cabo-verdiana na América,” declarou.
Na recensão de autoria do professor universitário polaco, Wlodzimierz J. Szymaniak, este diz que existem “livros de história” e existem “livros com histórias”, e que o livro de José J. Cabral pertence a esta última categoria, a dos livros com histórias. “Pelos Caminhos de Chiquinho” é uma continuação das desventuras de Chiquinho, romance emblemático escrito por Baltasar Lopes (1947). Trata-se, sem dúvida, de uma experiência literária e linguística em que o autor “ressuscita” uma obra literária setenta anos após a sua publicação, oferecendo ao leitor a oportunidade de acompanhar a vida dos principais
protagonistas”, analisa.
Este recorda Chiquinho, que considera ser uma saga da identidade cabo-verdiana, aproveitando as vivências em Cabo Verde. Acompanha a vida de um jovem ambicioso, primeiro durante a sua infância na zona rural de São Nicolau, depois durante os seus estudos em São Vicente, o regresso a São Nicolau, a carreira como professor primário, os seus anseios perante a seca e a fome e, finalmente, a escolha pela emigração. Já o livro de Cabral recupera o dilema da emigração, hiperbolizado pelo amor entre Chiquinho e Nuninha.
“A carta de Nuninha, já incluída no romance de José J. Cabral, constitui um elo simbólico entre os dois livros, prenunciando a fatídica rutura de sentimentos, entre a pátria e o emigrante,” refere o artigo, acrescentando que, de alguma forma, a carta resume o drama da emigração, com o seu impacto emocional, dilemas, complexos, preconceitos e até superstições. A mulher amada é uma metáfora para o dilema do ilhéu: “partir ou ficar?”.

Para o Wlodzimierz, o romance de Baltazar Lopes termina no momento do embarque no porto de Preguiça, mas Cabral teve a coragem de embarcar em uma viagem literária muito arriscada, conseguiu acompanhar Chiquinho por terras da Merca e ao redor do mundo e o trouxe de volta à sua ilha natal.
Refira-se que, a par desta publicação e da distinção, Zé Cabral foi selecionado pela Fundação Calouste Gulbenkian para frequentar uma formação em Curadoria Avançada para o desenvolvimento destinada a profissionais de curadoria e agentes culturais dos PALOPs. Ocorreu simultaneamente com a seleção do autor pelo Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), para beneficiar de uma bolsa de “Residência Literária” em Portugal, e que contemplou também Amosse Mucavele, natural de Maputo, que vai a São Tomé, Nunes Sitoe, residente na cidade de Xai-Xai, Moçambique que virá a Praia, Cabo
Verde, onde escreverá o conto provisoriamente intitulado “Caminho de Dois Sóis”. Por sua vez, a escritora portuguesa Joana Bértholo, autora de vasta e premiada obra literária, escolheu a cidade do Mindelo como cenário da sua “residência”.
Recorde-se, José J. Cabral foi agraciado com o prémio Arnaldo França 2022, pela Imprensa Nacional Casa da Moeda de Portugal, com o romance “Destino Aziago” que fecha a trilogia de Chiquinho, e que tem despertado interesse de instituições internacionais, entre outras, as Universidades romanas de La Sapienza e Università degli Studi Internazionali, que através das Cátedras portuguesas que albergam,
formularam convite para ir apresentar as referidas obras, convites que todavia vai protelando em virtude de se encontrar profissionalmente ativo, sem disponibilidade para se dedicar a estas lides, para as quais os escritores-artistas não gozam ainda de qualquer estatuto que os facilite.