Pub.
Pub.
CulturaEscolha do Editor

Mindelact já tem data marcada e volta ao formato mais curto de nove dias

O Festival Internacional de Teatro Mindelact 2020 vai acontecer de 6 a 14 de Novembro, ou seja, terá a duração de nove dias, voltando assim ao formato inicial, depois de em 2018 ter alargado para 10 dias e, em 2019, para 11. O edital está aberto e, de acordo com o presidente da Associação Artística e Cultural Mindelact, João Branco, recebeu na primeira semana cerca de 50 candidaturas, sendo que nesta fase as propostas são principalmente de companhias internacionais. A expectativa é de que possa ultrapassar o número recorde do ano passado, que foi de 350 candidaturas.

“Temos recebido muitas propostas e o edital vai continuar aberto até finais de Abril, pelo que pensamos ultrapassar o número de 350 candidaturas recebidas. Os critérios têm a ver com a proposta artística. Sabemos que a qualidade artísticas é difícil de medir, mas as vezes há pessoas que viram os espectáculos. Também podemos fazer analises de imagens, tendo em conta que quase todas as companhias enviam excertos ou mesmo o trabalho completo em video, ou pesquisar criticas online”, explica este encenador, realçando o facto de, actualmente existir muita informação a circular pelo que, facilmente, se percebe se um espectáculo tem qualidade para corresponder aos padrões artísticos do Festival de Teatro Mindelact. 

Publicidade

João Branco deixa claro que este certame nunca elegeu um tema especifico e nem nomeou qualquer pais como tema. Ou seja, mantém-se aberto a quaisquer propostas. No entanto, admite que nos últimos três anos tem prioridade espectáculos que levantam questões que tem a ver com a realidade complexa dos dias de hoje. “Há coisas complicadas a acontecer e as vezes em países que nos são próximos, como o Brasil. Temos o Luanda Leaks com Isabel dos Santos, que também envolve Cabo Verde, a situação dos EUA, a temática da imigração com centenas de mortes a ocorrerem no Mediterrâneo com pessoas que apenas tentar ter uma vida melhor.”

Plataforma de lutas

Ao trazer estes espectáculos para Cabo Verde, Branco acredita que se está a levar as pessoas a reflectir sobre temas relacionadas com a luta contra o preconceito, o racismo, a imigração, a violência baseada no género, a misoginia, de entre outros. “Sabemos que os mindelenses gostam de comédia. Mas a boa comédia também pode levantar estas questões. Queremos é evitar a comédia ligeira porque achamos que os dias de hoje não estão para brincadeira. É importante fazer do Mindelact uma plataforma de luta. É bonito dizer que temos um festival de ‘ Arte, alma e afectos’. mas, se não houve liberdade, não há arte, alma e afectos”, pontua.

Publicidade

Por isso a opção por espectáculos fortes e que inquietam. João Branco cita, a titulo de exemplo, duas peças apresentadas no ano passado, um de Portugal e outro do Japão, que tinham nus assumidos e frontais e que foram recebidos com naturalidade. “É verdade que o nu não estava lá apenas para provocar. Fazia parte de um objectivo artístico e narrativo. Mesmo assim, sentimo-nos orgulhosos com a forma absolutamente descomplexada como os mindelenses receberam e aceitaram estas propostas mais ousadas”. 

Questionado se o número menor de dias não irá afectar a programação, Joao Branco admite que é provável haja menos espectáculos. Garante, no entanto, que o festival manterá a sua estrutura, ou seja, Palco 1 com espectáculos de maior dimensão, Palco 2 com peças mais intimistas, o Festival Off para companhias nacionais, Teatro na Praça, Mostra de Performances, Extensão na cidade da Praia e um leque alargado de oficinas.  “Mindelo, que é cidade com maior dinâmica cultural, deverá passar por uma fase um pouco difícil, tendo em conta que quatro dos principais dinamizadores do teatro da ilha, estão fora em formação. Mas vejo isso como um investimento para o futuro porque todas estão a estudar teatro.”

Publicidade

O presidente do Mindelact espera colmatar esta falha com companhias que, não sendo nacionais, tenham envolvência de cabo-verdianos, seja através de co-produções ou com atores e atrizes do país. Neste sentido, esta edição deverá contar com duas co-produções entre grupos nacionais, sendo um do Mindelo e outro da ilha do Sal. Branco justifica esta modalidade com a preocupação, depois de 25 anos, em manter a fasquia elevada. “Sendo menor o número de dias, a responsabilidade é maior porque a escolha dos grupos também vai ser mais difícil. Mas, felizmente temos recebido algumas propostas interessantes, inclusive de países que nunca estiveram no Mindelact, caso por exemplo do México e da Ruanda”, finaliza. 

Constança de Pina

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo