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Cultura

Mandingas de Fonte Felipe: Renovar para manter a tradição


Os mandingas de Fonte Felipe estão nas ruas do Mindelo religiosamente todos os domingos para anunciar o Carnaval nesta ilha. É um dos grupos mais antigos de São Vicente, que tem na sua génese nomes como Djunga, um dos pioneiros dos mandingas, Páscoa, Xanda, Miguel e tantos outros. Hoje esta “bandeira” é levantada por um grupo de jovens, encabeçados por Jandir “Sass” Gomes, que decidiu renovar os mandingas de Fonte Felipe para manter a tradição.

“Os mandingas de Fonte Felipe surgiram há anos. Crescemos vendo o Djunga trajado de mandinga. Era um grupo de máscaras, com uma ou duas pessoas trajadas de mandingas. Ficávamos assustados quando riscavam o chão com suas espadas, mas também admirados. Foram os percursores dos mandingas em São Vicente. Foi para dar continuidade a esta tradição que, em 2006, assumimos a direcção dos mandingas de Fonte Felipe”, conta Sass.

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Desde então o grupo começou a expandir, muito por iniciativa do então presidente, Fernando, que era um admirador dos mandingas. “Todos os domingos o grupo percorria as zonas com máscaras, que era uma tradição em São Vicente nas semanas que antecediam o carnaval. O Fernando começou a instigar mais pessoas a desfilar trajados de mandingas, com medo desta tradição se perder. A moda pegou e mais pessoas nos pediam para vestir-se de mandinga e o grupo começou a crescer”, diz Sass, que também se assume como um admirador dos primeiros mandingas de Fonte Felipe.

Actualmente, os mandingas de Fonte Felipe são dinamizados por dez jovens, que estão a trabalhar para fazer este grupo crescer. E uma das decisões que vingou foi introduzir mulheres nos assaltos. “Antes os mandingas eram apenas homens, que tinham de fazer uma cara de mau para incutir receio às pessoas. Hoje temos muitas mulheres connosco na rua todos os domingos. E todos os dias recebemos propostas de mais mulheres que querem desfilar. Isto é muito positivo e os mindelenses aceitaram bem. Os mandingas recebem todos os que querem brincar o carnaval.”

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Preparativos

Apesar da aparente espontaneidade, existe toda uma organização por detrás dos mandingas. Segundo Sass, o grupo reúne-se todos os sábados para acertar os ponteiros. No domingo vão para o estaleiro, em Fonte Felipe, por volta das 12 horas. “Preparamos os adereços e trituramos o carvão, que depois é misturado com óleo de cozinha e de bebé para fazer as pinturas. Antigamente utilizávamos pólvora que extraíamos das pilhas, mas algumas pessoas apresentavam reacções na pele. Hoje as pinturas são feitas sobretudo com carvão triturado. É mais saudável e sai com detergente ou sabão”, conta.

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Por volta das 15 horas, o grupo deixa o estaleiro. Primeiro percorre as ruas de Fonte Felipe e depois espalha-se pela periferia de São Vicente. “Ao contrário do que as pessoas pensam, não existe rivalidade entre os mandingas. As direcções fazem um acerto prévio por forma a que, em cada domingo, os mandingas estejam presentes em todas as zonas periféricas e centro da cidade, até por volta das 18 horas, quando regressam aos estaleiros”, pontua.

Este é algo que fazem com alegria. O único constrangimento que por vezes periga os desfiles é a falta de apoio. “Não temos apoios. Somos mandingas porque gostamos. Todos os anos enviamos cartas para as empresas solicitando ajuda, mas são poucas as que respondem. A Câmara é a nossa principalmente parceira. Mas precisamos de apoio porque não é fácil colocar os mandingas na rua. Por exemplo, antes e depois dos desfiles oferecemos uma refeição às pessoas. Também precisamos de instrumentos.”

Inicialmente, de acordo com Sass, o grupo recorria a empréstimos ou aluguel de instrumentos. Felizmente, contaram com a ajuda do maestro Mick Lima, que costuma ceder-lhes os instrumentos de percussão. “Recentemente resolvemos angariar fundo para adquirir os nossos instrumentos. Infelizmente, as peles para os tambores são caras e precisam ser trocadas com frequência. Têm de ser importadas do Brasil ou compradas aqui. Quando as peles se deterioram é mais uma despesa para o grupo. Por isso, apelamos as pessoas para nos ajudarem porque a falta de instrumentos é um enorme constrangimento.”

Apesar deste e outros constrangimentos, faça chuva ou vento, os mandingas de Fonte Felipe prometem estar na rua todos os domingos, até ao Carnaval.

Constânça de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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2 Comentários

  1. E os outros mandingas? Para além dos mandingas de Rbera Bote e de Fonte Felipe costumam desfilar ainda os mandingas de Monte Sossego, de Fonte Frances, de Bela Vista, de Lombe de Tanque, de Rbirinha, de Espia, de Cruz, de Maderalsim, de Txãn d’Licrim, de Pedra Rolada, d’Areia Branca, Mandinga Azul? (Peço desculpas se me esqueci de algum). Porque é que não são também entrevistados para podermos conhecê-los a todos. Os seus projectos, as suas dificuldades e preocupações?? Eles deviam criar uma “Associação dos mandindas de S.Vicente”, para terem mais força.

  2. Força e vontade de lutar e brincar o carnaval com disciplina é o que não falta em nós Mendingas de F,.Flipe. Obdo Sass e todos os outros colegas que me receberam no vosso gp com braços abertos mesmo sabendo que sou doutra zona(Lombo Tanque/BelaVista). Mesmo longe, estou perto e orgulhosa de vós. Apelo aos de direito (Cultura) e outros demais a apoiarem os todos os mendingas de S.V pq afinal faz parte da tradição e enriquece a nossa cultura.

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