Jaqueline Fortes emocionada com homenagem feita pelo Grupo Serenata
A cantora cabo-verdiana Jaqueline Fortes está emocionada com o concerto que vai acontecer este sábado no Mindelo, promovido pelo Grupo Serenata, naquela que é a sua primeira homenagem em São Vicente. Num exclusivo ao Mindelinsite, a artista explica que são estas acções que lhe dão força para continuar. “Sou filha de pais cabo-verdianos, nascidos em São Vicente, como diz a música Monte Sossego Mama, Craca de Rua de Morguine, que escrevi para os meus”, diz Jaqueline, que se mostra também agradavelmente surpreendida com o talento dos jovens cantores que estão a surgir, caso da Cremilda, Gabriela, Eliana Rosa, Ludy Fortes, de entre tantos outros.
A cantora destaca, igualmente a reação das pessoas com quem diz ter falado desde que chegou a São Vicente. Dizem que esta é uma homenagem mais do que merecida. “A recção das pessoas de todas as pessoas tem sido positiva. Isso me deixa muito satisfeita. Estamos no mês da Mulher e vou fazer 65 anos em breve e, tudo isso, para mim tem tido um grande impacto. A homenagem não poderia ter chegado numa melhor altura e, para mim, São Vicente é especial. Cresci amando esta ilha. A minha mãe contava-me as histórias de Monte Sossego. Quando vim pela primeira vez, em 1979, me apaixonei”, diz.
Na altura, de acordo com a cantora, actuou com o Grupo Kings, que estava no seu auge. Foi uma experiência que espera repetir amanhã. “Vou trazer para este show aquilo que o povo já conhece. São as músicas que me marcaram. Até hoje as pessoas ainda me falam do meu primeiro disco, que lancei em 1981 e que me tornou conhecida aqui no país. Tenho também o ´Marido Exemplar”, de 1987. São estas músicas que vou cantar no concerto, que é uma homenagem ao meu percurso e um reconhecimento. Então tenho de cantar aquilo que me identifica e mostrar que ainda estou aqui”.
Vão estar com Jaqueline no palco Tete Alhinho, Carmen Silva, Eliana Rosa, Duda Teixeira, Ludy Fortes, Gabriela Mendes e Ceuzany Pires. Alguns destes nomes são suas conhecidas, outras conheceu agora e ficou impressionada. “Estas jovens dão-me esperança de que a nossa música não vai morrer. Ver tantos jovens interessados nos ritmos da nossa terra é revigorante. Cremilda é um exemplo maravilhoso. Mas há outros como Eliana Rosa e Ludy Fortes. Acompanhei os seus ensaios e fiquei muito satisfeita”, conta Jaqueline Fortes, que diz estar com o mesmo espírito de quando começou, há 40 anos, e com o conhecimento de quem sempre conviveu com a música.
“Na minha casa, no Senegal, sempre se ouviu música. Qualquer festa ou aniversários era um pretexto para o meu pai e minha mãe tocarem guitarra. Eu tinha 11/12 anos e já tinha o meu caderno de músicas e cantava. Era fã do Bana, Roberto Carlos e Djosinha. Ouvia muita música antiga, inclusive a poucos dias num concerto promovido pela Morabeza Records na Holanda, cantei uma morna antiga do Djosinha e muita gente ficou surpresa”, revela a artista, que tem entre os seus familiares grandes nomes da música de Cabo Verde, caso por exemplo do Toy de Bibia, que é pai da cantora Mariana Ramos. E ainda Lela Preciosa e Grace Évora, este último seu primo-irmão.
Jaqueline que admite que, entre dez irmãos, foi o único que “calhou” ser cantora e conseguiu realizar o seu sonho de ser “profissional”. Integrou vários grupos musicais no Senegal e cantava em vários idiomas: inglês, francês, espanhol e crioulo. Mas foram a sua preferência sempre foi a música de Cabo Verde. Entre os compositores, elege Júnior Faria, que escreveu a música que lançou a sua carreira, Marido Exemplar, e Manuel d´Novas. Mas também gosta de escrever as suas músicas, um dom que diz ter descoberto “muito tarde”. Por isso mesmo, encoraja os artistas mais novos a investirem também na composição.
“Vou continuar a cantar porquanto enquanto há vida, há lida. Os jovens precisam também começar a compor porque há talento. Sem que um dos problemas em Cabo Verde é a falta de produtor e manager. Acho que ninguém quer arriscar. Há pessoas com recursos que poderiam lançar novos cantores em Cabo Verde e lá fora. Estes têm de ser um trabalho feito porque quem entende do metiê. Isso não aconteceu com meu CD. Não houve promoção do meu trabalho, o que me deixou muito triste. Mas isso não me desencorajou. Muito pelo contrário.”
Do seu curriculum constam os discos “Seis anos na Tarrafal”, editado em 1981, “Diálogo”, tema que dá nome ao disco e que ficou conhecido por “Marido exemplar”, “Coraçon calma” em 1990 e “Valor di Amor” em 1996. Após uma paragem, Jaqueline regressou aos discos com “Terra d´nhas Gente”, com 12 temas inéditos, sendo oito da sua autoria.
Constânça de Pina