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Escritora Jessica Fortes publica livro “La bambina dai piedi scalzi” (A menina dos pés descalços)

Nos últimos anos, a segunda geração da nossa comunidade em Itália tem sido distinguida pelo nível médio-alto de estudos e formação profissional. Hoje é fácil encontrar uma boa parte desses jovens inseridos em vários sectores do mercado de trabalho com grande satisfação e gratificação dos pais, que agradecem pelo sacrifício para que um dia os filhos pudessem ter uma vida melhor na ‘terra de gente’, nessa Europa cada vez mais isolacionista, discriminatória, quando não racista.

Por: Maria de Lourdes Jesus

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Mas confio muito nesta segunda que se distingue pela postura (às vezes provocatória), típica do cidadão consciente de todos os seus direitos, acompanhado com uma certa segurança na linguagem que só a língua materna garante. Aprecio muito essa manifestação expressa na atitude dos nossos jovens, sobretudo através da linguagem, a resgatar o ponto fraco da primeira geração. A reforçar e completar essa bela imagem, surge a publicação do livro “La bambina dai piedi scalzi” de Jessica Fortes que vamos aqui apresentar, começando pela autora.

MLJ – Quem é Jessica Fortes?

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JF- Tenho 28 anos. Sou diplomata em acolhimento turístico e agora estou a tentar ser escritora. É a profissão que gostaria de exercer juntamente com o meu interesse pela música. Sou filha de pais cabo-verdianos: a minha mãe, Lucia Dos Santos, é originária de São Nicolau. O meu pai, Antonio Luis Fortes da Cruz é da ilha do Sal. Chegaram respectivamente à Itália em 1975 e 1972. Minha mãe é uma empresária e o meu pai artesão.

MLJ- Como nasceu esta paixão pela escrita?

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JF- A paixão pela escrita nasceu por volta dos 7-8 anos, assim que descobri o Microsoft Word, comecei a escrever na escola e em casa. Foi o início de histórias breves e mais tarde a compor canções. Nasci numa época em que já existia o uso de computadores, nunca escrevia no papel, a não ser na escola. É confortável, prático e ainda utilizo.

– Qual é a tua relação com a escrita? E a tua família, como se relaciona com a escritora?

– Acho que escrever é um presente que Deus confeccionou para mim. Vou dormir, mas pensando na hora de me levantar para iniciar a escrever no dia seguinte. A minha família sempre me apoiou, na escola os meus professores sabiam que eu adorava escrever e as redações de italiano eram os trabalhos de casa preferidos. Gosto de inventar histórias, personagens e dar vida a algo que seja lindo, bom e útil. Escrever me emociona muito, é o meu propósito de vida. Escrevia sempre, seja na escola que em casa. Sempre sonhei ser uma escritora.

– Fala-nos agora do título do livro?

“La bambina dai piedi scalzi” é um livro que nasceu por acaso, pois nunca tinha escrito histórias infantis. Uma amiga enviou-me um anúncio de uma livraria, em busca de escritores infantis. Enviei a minha primeira história “O Tesouro de Terra Boa”, (título do meu primeiro conto), mas não obtive resposta. Nesse meio tempo decidi recolher os contos numa coleção e escrevi mais outros nove. Os contos narram a história da amizade e das aventuras de três crianças e um burro.

-E o título do livro?

– O título é inspirado em Cesária Évora, já que a protagonista, Julinha, adora ficar descalça. O livro contém ainda 7 imagens coloridas desenhadas em papel por minha tia, Ismênia dos Santos Gomes, e depois reproduzidas digitalmente por um profissional. A história que narra o livro é ambientada na ilha do Sal e os protagonistas também são da mesma ilha. É a ilha onde vive a maioria da minha família e foi a fonte de inspiração natural para os protagonistas da história.

– Que mensagem “La bambina dai piedi scalzi” pretende transmitir?

– O livro contém 10 contos temáticos para crianças, mas também para adultos. É fácil de ler. Julinha e os amigos Bety, Calù e o burrinho Ziplin são os protagonistas. As mensagens que pretendo transmitir são muitas: o valor da amizade, uma amizade saudável, capaz de viver a vitória com alegria e apoiar nos momentos de dificuldades; respeito pela natureza, pelo ambiente em que vivemos e pelos animais; a coragem para enfrentar obstáculos e medos, para não desistir; sonhar e acreditar nos seus sonhos. Em última análise, gostaria de dar a minha contribuição para que o mundo fosse um lugar melhor. Creio que através do divertimento, deveríamos educar e transmitir às próximas gerações, os valores como o respeito, a generosidade e o amor.

O livro já foi apresentado na Itália. Como reagiu o público?

– Foi também apresentado em algumas escolas italianas, com o objetivo de transmitir os valores acima mencionados e também de dar a conhecer o meu país de origem. Foi também apresentado nas livrarias, feiras nacionais e internacionais e outros eventos. Recebeu ainda duas menções de honra. O público tem reagido de forma muito positiva e com muita curiosidade. Foi bem avaliado e recebi lindos comentários, tanto de crianças quanto de adultos. A próxima apresentação será em Roma. O livro já foi traduzido em português e atualmente estou em contacto com uma editora local para uma possível publicação e apresentação em Cabo Verde.

Estás neste momento com a tua família na ilha do Sal. Que relação tens com Cabo Verde?

– Venho a Cabo Verde desde criança, a cada dois ou três anos. Falo bem a língua e aqui tenho a minha avó materna, tios e primos. Passei muitos meses de verão aqui e sou muito apegada às minhas origens. Também visitei São Nicolau em 2019 e adorei.

Estás a pensar numa próxima publicação?

– Estou quase a terminar a continuação da “La bambina dai piedi scalzi” e desta vez será ambientada nas restantes ilhas de Cabo Verde.

– Fala-nos do teu interesse pela música.

– A música é a outra grande paixão da minha vida. Como aconteceu com a escrita, é um dom que quero aproveitar para transmitir mensagens e valores positivos. Em 2023 lancei um EP em inglês “Have Faith” e um single em italiano “Solo al Mondo”. As letras são escritas por mim, a música é da minha criação, mas composta pelos meus produtores. Em 2024 participei do Todo Mundo Canta Internacional em Rotterdam, representando a Itália.

– És filha de artista?

-Na minha família há muitos artistas. Minha irmã Desy Capelli (na música é conhecida como Notamulata) é dubladora, cantora e compositora. A minha irmã Consuelo Dos Santos é dançarina e professora de dança. Meus tios desenham e tocam diversos instrumentos musicais. Entre eles está também Manuel Rendall, sobrinho de Luís Rendall.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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