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Cultura

Cruzeiros apresenta enredo sobre a dualidade do mundo: “Tudo a dois”

O grupo carnavalesco Cruzeiros do Norte apresentou na noite de ontem o seu enredo para 2020 denominado “Tudo a dois”, no Miradouro da Cruz João Évora. Foram revelados ainda a Rainha da bateria, Porta-bandeira, Mestre-sala, Rei e Rainha e a batucada Mindel Samba. A directora do carnaval dos actuais campeões, Maria José Évora, garante que este é um enredo vencedor, que vai mexer com os alicerces da sociedade porque traz a dualidade da vida: a origem e as transformações por que passa, tanto pelo lado positivo como negativo, bonito ou feio, branco ou preto, doce ou amargo, desde Adão e Eva até chegar aos dias de hoje.

“Entendemos que todo o ser humano nasce com um propósito, mas sofre transformações. Alguns vão pelo bom caminho, outros nem por isso. Temos é de descobrir o que podemos fazer para viver como foi prometido no inicio dos tempos. Vamos tratar esta questão por todos os ângulos: bom e mau, doce e amargo, feliz e infeliz, preto e branco. Enfim, vamos dissecar o ser humano e mostrar que, juntos, podemos mudar o rumo das coisas. A pergunta que se coloca é se conseguimos uma mudança para melhor”, explica Maria José, lembrando que o mundo em que estamos inseridos pode desviar as pessoas do seu caminho. “É isso que vamos mostrar no ´sambódromo` de São Vicente”.

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Este enredo, de acordo com esta fonte, é assinado pelo Ateliê Dibody, que comanda uma equipa de talentos de São Vicente. “Neste momento há muitas pessoas a produzir arte com qualidade em São Vicente. A nossa história é rica e muda todos os dias. A nossa cultura também evolui e transforma. O mesmo acontece com os nossos artistas, tanto os novos como os mais antigos, o Dibody é uma pessoas com quem costumamos trabalhar e cujo mérito é reconhecido. Assinar um enredo de Carnaval era algo que sempre almejou e posso garantir que ele e a sua equipa já estão a trabalhar.”

É este empenho e vontade que dão a Maria José a certeza de que este é um enredo vencedor. Mas esta responsável faz questão de deixar claro que o Cruzeiros respeita todos os grupos que, afirma, também estão a trabalhar com o mesmo propósito. “O Cruzeiros vem para defender o seu título, mas a disputa vai ser no asfalto. Desejo que ela seja feita com amor e compreensão porque todos estão a trabalhar para isso. Por exemplo, pela primeira vez todos os nossos andores foram feitos em maquetes. Digo isso, sem desrespeitar o carnavalesco Nóia e a sua forma de trabalhar. É apenas uma visão e forma diferente de trabalhar”, pontua.

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Nessa noite de espectáculo, a Porta-bandeira Hirondina Évora disse que é uma honra carregar o pavilhão de Cruz para Rua de Lisboa, após nove anos desfilando pelo Cruzeiros. “Será deslumbrate. É com muita honra que vou defender o título de porta-bandeira. De certeza que vamos trabalhar para isso”. Já o Mestre-sala, Cavera, afirmou ser difícil encontrar palavras para descrever o sentimento de assumir este posto de destaque no grupo. “É um orgulho e o objectivo é voltar a ganhar, ainda mais com a responsabilidade de revalidar o título de melhor mestre-sala.”

Orgulho também mostrava a Rainha Edna Santos, nascida e criada em Cruz, mas que agora reside nos EUA. “É um prazer ver o Carnaval de São Vicente e mais ainda fazer parte do Cruzeiros. Em 2019 desfilei pela primeira vez para um grupo oficial e tive o prazer de sair numa ala do Cruzeiros. Foi por isso que me preparei e decidi ser uma das rainhas. O Jailson aceitou a minha oferta. Em nome da minha zona vou fazer o meu melhor para ver o meu grupo no top,” disse numa mensagem em video.

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Na mesma linha, Maria de Fátima, “meninha d´Cruz”, mostra-se orgulhosa de fazer parte do reinado do grupo. “Espero que continuemos a fazer ´bnite` como temos estado a fazer. Em breve estarei em S. Vicente nos ensaios para dar o nosso máximo e fazer um carnaval belo.” Já o Rei Paulo Sérgio, que vive na Holanda, fez questão de frisar que é Cruzeiros, gosta de São Vicente e muito em particular da sua zona, mas que o Carnaval é a sua grande paixão. “Estive lá em 2019 e vi o trabalho maravilhoso que fizeram. Fiquei orgulho da forma como colocaram o Cruzeiros no topo. Em 2020 serei como orgulho e alegria rei do Cruzeiros. É o nosso ano.”

Para contar a história “Tudo a dois”, o Cruzeiros pretende desfilar com três carros alegóricos. O grupo espera ainda colocar nas ruas em torno de mil figurantes. A música que vai embalar o desfile está pronta, mas, segundo Maria José, a direcção optou por fazer a sua apresentação numa das duas outras actividades que pretende ainda realizar. “Em breve vamos começar a distribuir folhetos da música para as pessoas poderem ir familiarizando-se com a letra, para quando lançarmos a música, as pessoas o possam apreender rapidamente.”

Direcção reforçada com elementos novos

O Cruzeiros do Norte vai apresentar-se em 2020 com a mesma direcção – Jailson Juff (presidente), Edson Oliveira, José Ganeto e Maria José Évora, ainda reforçado com novos elementos. Mas todos os se autodenominam de “faz-tudo”. “Sempre digo que apoio não é dinheiro. É as pessoas estarem connosco. Por isso peço a todos para apoiarem o Cruzeiros, mas também para se aproximarem dos demais grupos para que possamos ter um bom Carnaval”, atiça Maria José, que se mostra tranquila em termos de execução do enredo porquanto, afirma, começaram a trabalhar cedo. Aliás, garante que neste momento já têm muito trabalho adiantado. “Já temos algumas peças prontas e, em termos de ferragem, também há começamos a fazer algumas peças, que serão montadas no estaleiro, em Janeiro.”

O projecto do Carnaval do Cruzeiros do Norte para 2020, refira-se, está orçado em cerca de 10 mil contos pelo que, segundo Maria José, já estão nas ruas e junto dos emigrantes na diáspora à procura de recursos. Trata-se de um valor, admite a nossa entrevista, ambicioso, mas que se justifica, tendo em conta os novos produtos que o grupo pretende usar e com os quais esperam surpreender os mindelenses. “Vamos deixar as pessoas atónitas e a questionar se, de facto, é mesmo o Cruzeiros do Norte que estão a ver quando surgirmos na avenida”, remata.

Constânça de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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