Pub.
Pub.
Cultura

CCM enche de leitores ávidos por nova obra de Germano Almeida

O auditório do Centro Cultural do Mindelo esteve bem composto no inicio da noite de ontem, com pessoas ávidas para “descobrir” a nova obra literária de Germano Almeida, intitulada A Confissão e a Culpa, que faz parte da Trilogia Mindelo que engloba ainda os livros Fiel Defunto e O Último Mugido. A apresentação esteve a cargo da escritora Fátima Bettencourt, exímia contadora de histórias que conseguiu prender a atenção dos presentes com os seus conhecimentos e entendimento do enredo que, afirmou, obriga a várias leituras para certificar todos os detalhes.

Publicidade

Fátima Bettencourt deu uma verdadeira aula sobre a literatura em geral, recheada de humor, para contextualizar Germano Almeida, entre os seus escritores de eleição a nível nacional e mundial, a maioria dos quais já distinguidos com premio Camões, um deles inclusive Nobel, mas também outros que ainda espera ver galardoados antes de morrer. Mesmo assim, afirmou que só foi chamada para apresentar esta obra porque o escritor a viu no “fundo do poço” e pensou que só um livro a tiraria dali. “Estendeu-me então A Confissão e a Culpa”, disse a escritora, realçando que, mais uma vez mais, Germano Almeida mostra uma nova forma de ver a sociedade cabo-verdiana, afastando-se do comum e utilizando de forma simples e natural algo que é próprio do cabo-verdiano, o humor, a ironia, o sarcasmo, o que torna os seus textos iluminados. Atributos que sempre estiveram na fala do povo, mas que o escritor conseguiu dar um novo rumo, instalar-se no meio urbano, Mindelo em particular. 

Plateia do CCM

Neste livro, diz, entende Fátima Bittencourt que o titulo lembra algo muito caro a igreja, o arrependimento, embora nunca o autor utiliza esta palavra. Mas está lá na confissão e na culpa. “Germano Almeida não abriu mão de nada: cemitério, defunto, velório, funeral. Tudo está aqui, até um homicídio que ele, como o personagem, evita mencionar. Há uma vítima assassinada, mais talvez não seja necessário usar uma palavra tão forte. Este crime percorre toda a trilogia. No livro “Fiel Defunto” assistimos ao funeral do renomado escritor Miguel Lopes Macieira, um romance que termina quando a multidão dirige ao cemitério em ultima homenagem ao consagrado escritor assassinado por seu melhor amigo, o engenheiro Edmundo do Rosário, no dia do lançamento do seu livro “O Último Mugido. É mais uma sinistra coincidência, no momento em que a vítima é abraçada por seu algoz”, descreve a escritora.

Publicidade

Sem nunca fazer uma conclusão, Fatima Bittencourt entende que Germano Almeida deixa espaço a interpretação, tanto nesta como nas suas demais obras, um artificio para prender os leitores, criar duvidas e expectativa para os próximos livros. Mas antes, ainda voltam algumas vezes ao mesmo a procura de detalhas que possam ter escapado na primeira leitura. Em “A Confissão e a Culpa”, afirma, os personagens são homens e mulheres que se debatem entre paixões, intrigas, enganos, deslealdade, traições. Fingem que não sentem e negam o que sentem, O adultério e o ciúmes parecem ser os motivos do crime, mas todos negam até as maiores evidenciais. 

Uma leitura que agradou o autor, que agradeceu Fatima Bettencourt pela “belíssima” interpretação”. Para este, Fatima Bettencourt é a pior contadora de historia de Cabo Verde e não poderia ter escolhido melhor pessoa para fazer a apresentação da obra. O escritor mostrou-se ainda surpreso e agradado com a grande plateia, em plena pandemia, afirmando ser motivo de felicidade ver o carinho das pessoas que leem os seus livros. “Sou um contador de historias. Tenho vindo a contar historias da nossa gente, Conheci S. Vicente jovem/adulto, o que me permite entrar no meio sem entrar. Vejo sempre S. Vicente de fora. Não pertencendo a esta sociedade, consigo examiná-la. Isto me permite ter uma visão de sociedade e escrever sobre ela”, pontuou. 

Publicidade

Em jeito de remate, o escritor afirmou que pretende é fazer um retrato das ilhas, contar as suas historias, que nem sempre foram boas mas que a todos devem orgulhar e que precisa ser explorado porque o homem cabo-verdiano tem o dom de rir de si próprio de de viver numa eterna esperança.

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo