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Cantora Vanessa apresenta álbum “Mudjer kriola” na Itália: Homenagem sobretudo às “vendedeiras ambulantes” de Cabo Verde

“Mudjer kriola” é o segundo álbum da jovem cantora Vanessa Delgado da Luz que vai ser lançado no dia 7 de Maio próximo, na cidade de Roma. O álbum é uma homenagem da cantora a todas as mulheres crioulas e sobretudo às vendedeiras ambulantes de Cabo Verde. Vanesa é uma jovem que luta para superar os obstáculos e que confia em si mesmo e no seu talento. Começou a cantar em casa, mas já passou por palcos como o Morna Jazz e Festival Kavala Fresk. Nesta entrevista, explica que, para a realização deste sonho, contou com apoio de toda a sua família, cujos membros acreditaram e apostaram no seu talento.

– Por Maria de Lourdes de Jesus –

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– Para começar esta conversa, diga-nos onde nasceu e quem são os seus familiares em Cabo Verde?

Vanessa: Nasci na cidade do Mindelo há 26 anos. Sou filha de Sandra Delgado e Funa da Luz. Do lado da minha mãe somos quatro filhos, do lado do meu pai somos cinco. A minha família era muito modesta, mas eu e todos os meus irmãos fomos para a escola. Depois do liceu, inscrevi-me num curso profissional como secretária administrativa e assessoria. Aos 18 anos comecei a trabalhar na Empresa IACV (Indústria Alimentar de Cabo Verde), fiz ainda um estágio na Enapor, trabalhei na Cabnave como recepcionista e no Terminal de Cabotagem, mas não tinha um trabalho fixo.

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E o canto, quando nasceu esta paixão?

– Na minha família havia três primos, do lado do meu pai, que eram tocadores. Mas, quando começaram a tocar, eu já cantava. Na nossa casa, a minha mãe e os meus avós gostavam muito de ouvir música. Assim, durante todo dia, desde que nasci, ouvia música sempre e por todo lado. A minha mãe gostava de cantar, mas sem nenhuma pretensão. Comecei a cantarolar por volta dos 4 anos. Cantava na nossa casa e na de outros familiares, quando brincava, nas festas e no jardim. Cantava também as músicas que ouvia na televisão e na rádio, mesmo em inglês. Assim como as ouvia, cantava e, para a minha satisfação, recebia muitos elogios. Voltando à tua pergunta, acho que o meu talento musical é um dom. Nasceu comigo.

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– Quando foi lançado o teu primeiro álbum?

– A minha vida deu uma reviravolta quando aos 16 anos comecei a cantar com o grupo MindelSom e depois com o Trio Mocotó. Participava inicialmente em pequenos eventos como aniversários, casamentos, campanha eleitoral, noites cabo-verdianas… Comecei a crescer em termos artísticos e a ser chamada para outros eventos mais importantes como Festival de Kavala, Festa do Dia da Mulher Cabo-verdiana, Festival Morna Jazz, na Ribeira Bote..Nessa altura também comecei a receber convites para as outras ilhas.

Aconteceu que, em 2017, quando o meu pai esteve de férias na Soncente gostou muito de me ouvir cantar a nível profissional. Estava mesmo muito orgulhoso da sua filha. A atitude dele reforçou muito a minha autoestima porque sabia que acreditava em mim e no meu talento. Apostou e ganhou. Em 2019, fez-me a proposta de gravar o meu primeiro álbum, “Sonho realizod”, que compreende seis faixas musicais: uma canção da minha autoria e arranjo musical de Djoy Delgado, Toy Vieira e Funa da Luz como produtor executivo. Ele foi uma figura muito importante na realização do meu primeiro e deste segundo álbum.

Foto cedida por Maria de Jesus


– Fale-nos um pouco da tua vinda para Itália?

– Cheguei em Itália no mês de outubro carregada de entusiasmo, na certeza que conseguia avançar na profissão que gostaria de exercer. Não perdi tempo. Comecei logo a ensaiar num estúdio muito bem equipado na  casa do meu pai. Foi uma grande oportunidade porque não precisava pagar para ensaiar. Meu pai pensou em tudo. A minha primeira exibição em palco foi no mês de Dezembro, na cidade de Prato. Depois veio Firenze, Bolonha, Roma e, no dia 7 de Maio, novamente no palco da Cidade Eterna para o lançamento do meu segundo álbum, “Mudjer Criola”.

– Qual foi a reação do público cabo-verdiano?

– O contacto com o público cabo-verdiano tem-me dado muita satisfação. Até agora foi um grande sucesso e espero que assim continue. Sei que tenho ainda muito por fazer. Mas, o facto de ter recebido convites para outras cidades italianas e também na nossa diáspora é um grande incentivo. Recebi também um convite para participar no dia 13 deste mês num grande show em Roterdão, juntamente com artistas como Nhone Lima, Djila Silva e Jacqueline Fortes.

– Está satisfeita de ter vindo para Italia?

– Exceto quando a saudade de ‘Soncente ta perta na peito’, estou mesmo muito satisfeita de viver aqui com o meu pai, sua companheira e a minha irmã mais nova. Ainda não consegui exercer a minha profissão porque cheguei há pouco tempo mas estou preste a começar a trabalhar numa fábrica de tecidos aqui na cidade de Prato, em Toscana.

Neste momento estou muito entusiasmada pelo lançamento de “Mudjer criola”. O álbum tem nove faixas musicais, nos géneros coladeira, morna, cabozouk, funanà, colá San Jon e afrohouse. No primeiro e no segundo álbum foram gravadas duas canções dedicadas a nha Soncente, que amo muito.

A tua carreira como artista motivou a tua emigração para Itália?

– Sim, porque em Cabo Verde é muito difícil participar em eventos importantes a nível profissional. O artista tem de ter talento, ser disciplinado, ter determinação e estar disponível para fazer sacrifícios, para alcançar um mínimo de sucesso que compense e reforce a autoestima. Mas não é suficiente. A carreira musical não progride sem apoio económico em Cabo Verde porque é um ambiente muito pequeno e não se consegue avançar. No meu caso, poder contar com a minha família do ponto de vista afectivo e económico foi fundamental. Meu pai é o meu produtor. Organiza os eventos e é meu companheiro nas minhas atuações. A verdade é que agora vivo num país com um grande mercado discográfico e que oferece muitas oportunidades aos artistas. 

Vivo agora na Itália graças ao meu pai que fez de tudo para que pudesse viver com ele. Levou três anos a lidar com a burocracia para que pudesse obter o visto de entrada. É desgastante, mas ele nunca desistiu. Só em Outubro de 2022 concederam o visto que tanto desejava. A minha gratidão para o meu pai não tem limite.


Termino essa conversa com Vanessa transcrevendo um parágrafo da sua página no Facebook que me parece ser a melhor síntese do seu carácter:

“Foram tantas dificuldades, mas com a minha garra, dedicação, empenho e o apoio da minha família, colegas, form invest e pessoas especiais consegui chegar até aqui. Essa é só mais uma etapa que está iniciando na minha vida. Peço a Deus para guiar o meu caminho para que possa alcançar os meus objetivos.”

Fotos enviadas pela autora

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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