Os alunos do 10 e 11º ano da disciplina de Língua e Cultura Cabo-verdiana do Liceu Ludgero Lima decidiram celebrar o Dia Internacional da Língua Materna, que se assinala esta quarta-feira, 21, com uma exposição de trabalhos no átrio da instituição sobre coerência textual em diferentes variedades da língua materna, aplicando o Alfabeto Cabo-verdiano (Alupec), uma conversa aberta e uma palestra intitulada “Valorizá nós linga d’berse”.
As atividades iniciaram no passado dia 21 de janeiro com a realização de trabalhos de grupos, onde os alunos, sob a coordenação da docente da disciplina de Língua e Cultura Cabo-verdiana, Claúdia Santos, produziram textos seguindo a coerência textual em diferentes variedades da língua materna, aplicando o Alfabeto Cabo-verdiano (ALUPEC), revela a docente, em entrevista ao Mindelinsite.
Desses trabalhos, prossegue, os alunos desenvolveram três temas: Carnaval (produção de músicas), Língua Cabo-verdiana e São Valentim (produção de poemas). Os trabalhos encontram-se em exposição no átrio do Liceu Ludgero Lima. “Na terça-feira tivemos uma palestra, com Ricardo Fidalga sobre Interferências linguisticas na língua Cabo-verdiana, ou seja, empréstimos de palavras no crioulo. Foi em jeito de comédia, que é uma forma também de passar mensagem. Entendemos que os alunos têm no crioulo uma forma mais fácil de prender e também de dinamizar a disciplina de Língua e Cultura CV.”
Antes, a professora de História, Irasónia Lopes, animou a conversa “Um dia de xtória” com o tema “Povoamento das ilhas de Cabo Verde e o nascer da língua materna”. Hoje, conforme a programação, os professores do LLL foram convidados a lecionar na Língua Materna. A comemoração vai culminar no dia 23 de fevereiro, sexta-feira, com numa palestra intitulada “Valorizá nôx linga d´berse”, ministrada pelo escritor e autor, Manuel Melo, autor do livro “Manual de estudo da língua cabo-verdiana e projeto de gramática cabo-verdiana para o ensino do “Krill” e pelo professor/pastor Renato Monteiro.
“Esta palestra será mais longa, com dois oradores, o escritores e linguista Manuel Melo e o professor de Fisico-Química Renato Monteiro. Este último vai incidir, basicamente, na forma como podemos ensinar qualquer disciplina, sobretudo as de número na nossa língua materna, ou seja, no crioulo. A seguir, tendo em conta que a língua materna faz parte da nossa identidade cultura, os alunos das quatro turmas de Língua e Cultura do 10 e 11º ano vão confeccionar um lanche tradicional.”
Todas estas atividades, de acordo com esta docente, visam valorizar a língua materna que, do seu ponto de vista, ainda pouco reconhecida pela sociedade cabo-verdiana. “Infelizmente, ainda não temos esta cultura de valorizar a nossa língua materna. Ainda ouvimos pessoas a dizerem que não precisam aprender porque já falam na sua língua. Mas posso atestar que os alunos apreendem mais quando ensinamos na nossa língua, por isso é preciso que ela seja valorizada”, acrescenta Santos.
Segundo esta docente, o objectivo é incutir no seio da sociedade, no caso dos alunos e professores, formas de valorizar a língua materna, que é muito rica, tendo em conta que possui nove variantes. Confrontada com a existência de resistência ao uso da Língua Materna, esta docente justifica com o desconhecimento. “Muitas pessoas alegam que não precisam de ninguém para lhes ensinar a falar crioulo. É um facto, mas uma língua não é apenas a parte oral. A sua constituição engloba também a parte escrita. E não é verdade que cada um escreve da sua forma e todos nos entendemos”, assevera.
O Dia Internacional da Língua Materna é comemorado anualmente a 21 de fevereiro, para promover a conscientização sobre a diversidade linguistica e cultural e promover o multilinguismo. Foi anunciado pela primeira vez pela UNESCO a 17 de novembro de 1999 e formalmente reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas com a adoção da resolução 56/262 em 2002. Faz parte de uma iniciativa mais ampla para promover a preservação e proteção de todas as línguas usadas pelos povos do mundo, conforme adotado pela Assembleia Geral da ONU em 16 de maio de 2007 na resolução 61/266 da ONU, que também estabeleceu 2008 como o Ano Internacional das Línguas.