Os cidadãos Carlos Santos e João Brito procuraram o Mindeliniste para denunciar aquilo que classificam de “negócio dos testes” de Covid-19 em São Vicente. Alegam que são contactos directos de pessoas próximas que testaram positivo para o Sars-Cov-2, procuraram os serviços de Saúde para fazer o despiste e foi-lhes negado esse direito. Um deles porque, afirma, a Delegacia de Saúde estava a trabalhar no dia 31 de dezembro “exclusivamente” para as pessoas com cartões de festa. Já o segundo, após uma maratona que passou pelo Centro de Testagem de Oeiras e os centros de Saúde de Monte Sossego e Craquinha, acabou por desistir de fazer o exame e foi para casa.
Segundo Carlos Santos, por volta das 11 horas do dia 31 de dezembro estava no trabalho quando recebeu um telefonema da esposa informando-o que estava com Covid-19. De imediato, conta, dirigiu-se à Delegacia de Saúde de São Vicente. “Fui impedido de entrar nas instalações da DS por um segurança, que me informou que não estavam a trabalhar. O atendimento era apenas para pessoas com cartões de festas de fim-de-ano. Fiquei estupefacto, inclusive disse ao segurança que não tinha cabimento rejeitar atendimento a um contacto directo de um caso positivo, em detrimento de festas.”
Perante esta afirmação, prossegue o entrevistado deste online, o segurança alegou nada poder fazer, pelo que decidiu dirigir-se ao Centro de Testagem de Oeiras. “Para meu espanto, deram-me a mesma resposta. Ou seja, não seria possível fazer o teste, salvo se eu apresentasse um documento do contacto positivo ou de um médico. Fiquei sem entender nada, mas acredito que estavam a cumprir ordens superiores. Decidi então procurar uma clínica e paguei 2.500 escudos por um teste. E o resultado foi positivo”, pontua Santos, que diz ter voltado para a Delegacia e Centro de Saúde para informa-lhes do resultado, mas bateu com a cara na porta, pelo que foi para casa fazer a quarentena. “Na clínica fui informado que seria contactado pela DS, mas até agora nada.”
Maratona para fazer teste
Já o outro indivíduo, o artista plástico João “Boss” Brito, revela que na última terça-feira procurou o Centro de Testagem da ilha para fazer um teste porque desde o final do ano ele e a esposa vinham apresentando sintomas de gripe, com dores de cabeça e pelo corpo. Chegaram por volta das 5h30 da manhã e ficaram a aguardar na fila. Por volta das 8 horas o pessoal de Saúde comunicou aos presentes que seriam atendidos apenas os viajantes. “Fomos aconselhados a procurar um Centro de Saúde. Como já estávamos em Monte Sossego, dirigimo-nos ao desta zona. Lá encontramos alguns militares a montar uma tenda. Éramos os primeiros da fila, mas logo de seguida começaram a chegar mais pessoas. O pessoal de saúde chegou por volta das 10 horas e começou a chamar alguns nomes. Fui tentar saber quem eram as pessoas que estavam a chamar e a informação que recebi é que eram contactos.”
Das pessoas chamadas, apenas duas estavam presentes, segundo Boss, que critica sobretudo a forma como um funcionário respondeu a esposa, quando esta argumentou que estavam na fila desde as 5h30 da manhã. “Ele simplesmente respondeu que, se alguém decidiu ir para a fila muito cedo, era o seu problema. As pessoas que estavam na fila ficaram incomodadas com o tom de voz e a expressão usada por este funcionário em resposta a uma pessoa que queria apenas saber se está ou não contaminada”, desabafou este entrevistado Mindelinsite.
Segundo Boss, mais calmo, o funcionário veio clarificar que poderiam atender as pessoas na fila após os contactos. Mas como “alegria de pobre dura pouco”, este voltou depois para informar que iriam atender apenas os moradores de Monte Sossego. “Voltamos a argumentar que estávamos na fila há muito tempo e que somos contactos, mas ele foi irredutível. Teríamos de procurar um Posto de Saúde da nossa zona de residência. Tive o cuidado de informá-lo que os centros não estavam a fazer testes, inclusive estava uma mulher de Espia na fila e que não foi atendida no Posto de Fonte Inês por suspeita da estar com Covid. O funcionário decidiu telefonar para confirmar e voltou para nos informar que devíamos dirigir-nos novamente ao Centro de Oeiras. Recolheu os nossos nomes e enviou para este centro”.
Quando chegaram ao Centro de Testagem, diz, estavam a distribuir números. Argumentaram que os seus nomes tinham sido encaminhados pelo Centro de Saúde de Monte Sossego. Para a sua surpresa, foram aconselhados a regressar no dia seguinte. “Fiquei revoltado porque percebi que não estão interessados em dar combate ao vírus. Retornei-me ao CS de Monte Sossego e não fomos atendidos. Desisti e fui para casa. No caminho, passamos pelo CS de Craquinha e havia uma fila de funcionários da CMSV que iam fazer teste, a minha mulher ficou na fila e lá conseguiu fazer o teste. Mas eu optei por ir para casa. Ainda ela está à espera de resposta”, acrescenta.
Cansados, tanto Carlos Santos como João Brito disseram não entender esta recusa em fazer testes a contactos confirmados, que apenas querem saber se estão com Covid-19. Interrogam ainda como as autoridades sanitárias podem priorizar pessoas que vão para festas em detrimento dos cidadãos que estão empenhados a combater o vírus. “Não estão preocupados com as pessoas, apenas em vender mais testes. A pandemia da Covid-19 está a transformar-se em um negócio. É cada um por si, cada um que dê o seu expediente”, dizem os nossos entrevistados.
As muitas tentativas de ouvir a versão do Delegado de Saúde de São Vicente, Elísio Silva, foram todas infrutíferas, pelo que poderemos voltar ao assunto, caso este atender o telemóvel ou retornar as nossas ligações.