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UCID faz declaração política sobre São Vicente: A ilha está a “definhar” a sua economia e competitividade

A União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) traçou hoje no Parlamento um retrato preocupante da situação económica de Cabo Verde, em particular da ilha de São Vicente. A deputada Dora Oriana Pires focou a sua atenção essencialmente na perda de emprego, nos dados da taxa de desemprego, quebra do PIB, de entre outros, para mostrar o recuo do crescimento da ilha do Porto Grande.

O deputada dos democratas-cristãos socorre-se dos dados do INE para mostrar que São Vicente perdeu em 2018 cerca de 2.470 empregos, o que corresponde a uma quebra de 7 % relativo a 2017, valor este superior à media nacional, que se fixou em -4,3 por cento. “A taxa de desemprego e subemprego situa-se à volta dos 27 %, o que, diga-se em abono da verdade, deve ser considerado um valor muito elevado, se tivermos em linha de conta que o subemprego, na sua definição e no valor recebido pelos trabalhadores, espelha um desemprego encapuçado.

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Ainda com base nos dados do INE, Dora Oriana diz que o PIB de 2016 mostra que a riqueza produzida em São Vicente registou uma quebra de 2,8 %, relativamente a 2015, totalizando 24.612 milhões de escudos, tendo contribuído para uma diminuição do PIB nacional em 0,4 por cento. “O V Recenseamento Empresarial mostra que São Vicente tinha, em 2017, um total de 2216 empresas, sendo que, destas, 2009 estavam em efectividade de funções, empregando cerca de 14.419 pessoas, com um volume de negócios de 84.330.054 de escudos”, frisou, para quem estes dados falam por si e demostram de forma clara a realidade da ilha de São Vicente.

Entre as razões do entrave ao crescimento da ilha, o político cita os transportes marítimos e aéreos, lembrando que as medidas anunciadas pelo Governo ainda não começaram a produzir efeito. E, frisa, já se faz tarde. “A problemática do transporte aéreo de e para o exterior tem sido um pesadelo para os operadores económicos e para a população. Não se entende como é que vetores desta indústria que poderiam simplificar, e quiçá colocar à disponibilidade dos saovicentinos as mesmas possibilidades que as outras ilhas com aeroportos internacionais, são deixados no esquecimento, apesar destes terem sido varias vezes nesta casa parlamentar levantados”, refere o esta eleita nacional, para quem a retoma dos voos da CV Airlines deve merecer uma decisão política porque a ilha de S. Vicente está a definhar a sua economia e competitividade.

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Esta critica também o preço das passagens aéreas, sobretudo para o exterior, que custam três a quatro vezes mais a partir de São Vicente. Sobre este particular, a UCID responsabiliza o custo dos combustíveis que, afirma, é o dobro na ilha em relação aos outros aeroportos. “Não aceitamos a desculpa que o JET A1 é um produto não tabelado. Há mecanismos que o Governo deve utilizar para que a ilha possa ter combustível para avião ao mesmo preço”, adverte Dora Oriana Pires, para quem este custo acaba também por dificultar os voos internos entre as ilhas.

A operacionalização deficitária do aeroporto – que não funciona durante 24 horas -, a ausência de instrumentos de navegação em caso de bruma-seca e as limitações de peso de bagagem são outros handicap do aeroporto de São Vicente que, avisa Monteiro, precisam ser resolvidas.

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Relativamente ao transporte marítimo, a deputada da UCID alega que a dificuldade das ligações entre as ilhas é gritante e a propalada solução anunciada pelo Governo tarda em mostrar resultados. Já em termos de segurança, mostra-se particularmente preocupado com a formação dos marinheiros e oficiais de ponte e máquinas. “A nossa preocupação é redobrada quando se sabe que, para se obter os documentos necessários, estes homens do mar têm de expender montantes avultados. Não é a primeira vez que trazemos esta questão ao Parlamento mas, infelizmente, tem-se feito tábua rasa desta situação”, lamenta.

Pires pediu ainda na sua declaração política mais atenção à Cabnave, visando garantir as condições mínimas do seu funcionamento em segurança e qualidade e frisou que São Vicente pode dar muito mais a Cabo Verde se houver uma política de apoio à classe empresarial, voltada para a indústria transformadora.

Constânça de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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3 Comentários

  1. Este Governo é uma fraude e S. Vicente apesar da propaganda de grandes realizações está cada vez mais a caminhar para o abismo. Na Declaração da UCID faltam ainda muitas coisas e deixo aqui mais duas. Uma a do estado a que tem sido deixada a escola de engenharia local. Logo que comecem a funcionar as instalações que os chineses estão a construir na Praia a UniCV/FECM (ex-ISECMAR) fecha com certeza. Outra é o caso da ELECTRA que tem sede no Mindelo, mas o Concelho de Administração funciona na Praia e progressivamente muitos serviços centrais vão ficando por lá. Com a Vivo Energy está a acontecer o mesmo e com a ENACOL vamos caminhar para lá. Já é altura de a população se levantar massivamente contra esta situação.

  2. Vivemos como cidadãos, e como espécie, em permanente situação de emergência. Como em qualquer outro estado de sítio, as liberdades individuais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa. Todas essas restrições servem para que não sejam feitas perguntas, como por exemplo, estas: por que motivo os governantes cabo-verdianos dão mais atenção aos seus interesses…. Por que motivo se gastou, apenas no ano passado, Montes de dinheiro em viagem desnecessário dos governantes…. Por que razão os que hoje tentam proteger Os Mindelenses foram os que mais os maltratou-os…por que motivo se realizam mais seminários sobre segurança do que sobre justiça? Se queremos resolver e não apenas discutir a segurança caboverdiana, teremos que enfrentar ameaças bem reais e urgentes.

    Há uma arma de destruição massiva que está sendo usada todos os dias, em todo o cabo verde principalmente nas ilhas vizinhas de São Vicente e Santiago , sem que seja preciso o pretexto da guerra.

    Essa arma chama-se fome.

    Em pleno século XXI, um em cada seis seres humanos passa fome. O custo para superar a fome nos cabo-verdianos seria mais reduzida se os governantes parassem de gastar o dinheiro do povo….A fome será, sem dúvida, a maior causa de insegurança do nosso tempo.

    Mencionarei ainda uma outra silenciada violência: em todo Cabo Verde , uma em cada três mulheres foi — ou será — vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida. É verdade que, sobre uma grande parte do nosso planeta, pesa uma condenação antecipada pelo fato simples de serem mulheres.

    A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo. Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome e, como militares sem farda, deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e discutir razões. As questões de ética são esquecidas, porque está provada a barbaridade dos outros e, porque estamos em crise, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética nem de legalidade.
    Há muros que separam os cabo verdianos , há muros que dividem pobres e ricos, mas não há hoje, em Cabo Verde um muro, que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós, do sul e do norte, do ocidente e do oriente…para terminar direi o seguinte:
    Os que trabalham têm medo de perder o trabalho; os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho; quando não têm medo da fome têm medo da comida; os civis têm medo dos militares; os militares têm medo da falta de armas e as armas têm medo da falta de guerras.

    E, se calhar, acrescento agora eu: há quem tenha medo que o medo acabe.

  3. O centralismo neste pais tem contornos maquiavelicos. De uma maneira “soft” diria que culturalmente Praia e Mindelo, embora sendo do mesmo pais, sao diametralmente opostos. Em quase tudo, sempre tiveram um “STYLE” quase que de paises diferentes. Isso nunca agradou a Praia. Por isso, inicialmente Praia fez de tudo para tentar apagar e desprestigiar a cultura mindelense, atacando principalmente o crarnaval, o festival Baia das Gatas ao mesmo tempo que nos dava aquelas injecoes de tabanca, batuco e txabeta na TCV, acompanhadas de debates publicitarios dessa cultura da Praia na TCV, sobre estas actividades santiaguenses. A intensao era que todos passassemos a ter só a cultura santiaguense em Cabo-verde. Nao conseguiu porque a cultura mindelense é natural, expontanea mas principalmente honesta, e verdadeira, o que a torna naturalmdnte resistente, precisamente por nao ser uma farsa para competir com seja quem for. Dai que Praia decidiu comecar a investir na imitacao daquilo que Mindelo faz porque, para Praia, o importante nao é ter cultura mas sim, ter mais do que Mindelo. E como assim tem de ser de uma maneira ou de outra, porque senao nao seremos um pais serio, o governo decidiu criar o maior evento cultural (o AME) na Praia. Assim para acabar com todas as duvidas e todas as discussoes. É esse o pais que temos. Em que o cengralismo se tornou uma doenca patologica, uma obsecao.

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