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UCID acusa Governo de repetir erros na TACV: “Quatro avales em quatro meses”

A União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID) acusou hoje o Governo do MpD de estar a cometer os m esmos erros do executivo anterior ao conceder quatro avales à TACV em quatro meses – de novembro de 2020 a janeiro de 2021 – aumentando a dívida da companhia para 30 milhões de contos. Para António Monteiro, não se compreende esta postura do Governo, até porque o MpD sempre disse que a TACV era um perigo para o sistema financeiro nacional. “Se era um perigo com 15 milhões de contos, com 30 milhões de contos então o que é”, interroga o líder democrata-cristão, para quem esta injeção de dinheiro é um preceito meramente eleitoralista.  

O anúncio do novo aval de 4 milhões de euro para cobrir este novo empréstimo na banca nacional feito pelo vice-PM e o ministro dos Transportes, segue um outro no montante de cerca de 1 milhão de contos e outros já concedidos, sem que se conheça a real situação da TACV. “Não se sabe quanto tem custado aos cabo-verdianos, através dos seus impostos e da dívida pública, apoiar esta empresa maioritariamente detida por um grupo de investidores externos que compraram a sua posição na companhia pela modica quantia de 130 mil contos, que sequer pagaram na totalidade.”

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Questiona ainda a desculpa de crise provocada pela pandemia da Covid-19, quando se sabe que a empresa estava em queda-livre devido as perdas ocasionadas por elevados custos de aluguer dos aviões e fraco desempenho comercial, além de outras ineficiências operacionais. Também não se entende como, diz, em contexto de encerramento de fronteiras e do fraco movimento de passageiros, o Governo garantir mais um financiamento, acumulando com os outros que a companhia nunca vai poder pagar.

Vão ser pagos pelos cabo-verdianos, pelo que seria bom o Governo esclarecer como o dinheiro vai ser utilizado, particularmente os montantes que irão cobrir os custos de gestão, de aluguer de aviões e de combustíveis. Todos eles ligados a interesses particulares dos acionistas externos maioritários. Desde que a companhia entrou em paralisia estes não meteram um único centavo na TACV para ajudar a companhia, nem mesmo os montantes que lhes cabiam no âmbito do lay-off”, revela.

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A UCID pede por isso ao Governo para esclarecer que fundos têm esses investidores detidos na companhia sem garantias. É que, a seu ver, a intenção da LoftLeidir nunca foi gerir bem a companhia. Ao contrário, foi sempre alugar os seus aviões, construídos há algumas dezenas de anos e com toda a ineficiência energética que isso acarreta. “Venderam-nos a fantasia dos 11 aviões e o Governo, embalado nesta fantasia, esqueceu de cobrar o valor devido no processo de privatização por negociação directa, isto é, sem concurso publico. A UCID também gostaria que o Governo esclarecesse o porque, a menos de dois meses das eleições, este decide meter mais dinheiro na CVA, mas mantém a gestão maioritária desses investidores.”

Avales eleitoralistas

Para a UCID, os propósitos eleitoralistas desta medida estão claros para todos verem, mas o Governo não tem escrúpulos em prejudicar o país desde que isso sirva os seus propósitos de manter no poder. “Cada vez mais o Governo mete mais dinheiro na empresa sob forma de garantia, mas o país fica refém dos actuais donos maioritários, complicando a adoção de outras, como por exemplo a não manutenção da actual parceria danosa. Impõe-se por fim a este desmando, incompetência e irresponsabilidade pública e política na gestão dos parcos recursos do país que neste momento muito das dívidas internas e externas para pagar as suas contas”, declara, destacando, em oposição, o facto de Governo ter colocado o país atrás dos nossos concorrentes turísticos mais directos que tem planos para vacinar 70% da sua população este ano, enquanto CV planeia atingir os 23% só em 2023.

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Questionado o que faria a UCID caso fosse governo, Monteiro afirma que dar quatro avales em quatro meses, mostra que não se sabe o que se está a fazer ou então tanto o Governo como a actual gestão perderam a noção. “Não há umas pesrspectiva de medio é longo prazo para se manter a companha a voar. É preciso ter capacidade de fazer esta previsão ou então estamos a trabalhar em cima dos joelhos. Por causa disso, quando se precisar pagar os funcionários recorre-se ao governo para se conceder um aval. O mesmo acontece quando se lembra que os juros da dívida vão vencer.”

Desculpa da pandemia

Para este político, a desculpa da pandemia não pode servir para tudo, até porque neste ano já era tempo de perspectivar e tomar medidas necessárias, o que não aconteceu. No caso da UCID, alega, o partido prioriza os interesses dos trabalhadores que estão em lay-off cujos salários têm de ser pagos, mas não com base em empréstimos bancários. “É preciso encontrar outros mecanismos. O Governo não pode continuar a injetar dinheiro na companhia, que já tinha um défice de 15 milhões de contos que foi absorvida por uma empresa criada para o efeito. E já vai a TACV já vai no mesmo valor, ou seja, acumula agora mais 15 milhões de contos em avales. Está-se a repetir os mesmos erros do governo anterior. Se o Governo quer injectar dinheiro, então tem de assumir uma posição de força na companhia.”

É que, frisa, 30 milhões em dívidas corresponde a cerca de metade do Orçamento de Estado, valor que podia ser canalizado para a melhoria da Saúde, da política social, agricultura e pescas. “Injectar dinheiro na TACV é uma medida eleitoralista, mas a UCID nada pode fazer senão informar a população. Em 2015, o actual Governo, então na oposição junto com a UCID, batemos fortemente no PAICV por causa dos 15 milhões de contos, resultantes da gestão danosa da companhia. Na altura, o MpD garantiu que tinha solução, que vemos agora passava pelo endividamento da empresa no mesmo nível. Temos de dizer isso à população e que cada um tire ilações.”

Relativamente à dívida pública de 142% do Produto Interno Bruto, Monteiro admite que a UCID disse no Parlamento que, para garantir a economia, para o sustento das famílias e funcionamento das empresas, não teria problema nenhum em o Governo “um pouco” endivida-se para ultrapassar estes tempos difíceis. Mas admite que esta questão não foi devidamente equacionada, porque ela foi aumentada de forma significativa e, sequer contempla, os avales do Governo. Aliás, se estes forem absorvidos, não duvida de que esta ultrapassaria tranquilamente os 150% do PIB.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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