Pub.
Pub.
AtualidadeB5

Trabalhadores em quarentena na Boa Vista com receio de ir para casa fazer sem fazer teste ao Covid-19

Prestes a concluir o período de quarentena no Hotel Riu Karamboa na ilha da Boa Vista, mais de uma centena trabalhadores poderão ir para casa sem fazer testes para confirmar ou descartar infecção pelo novo coronavirus, apesar das garantias recebidas. Segundo informações chegadas ao Mindelinsite, as opções oferecidas são fazer um teste fisico e assinar um termo de responsabilidade em que se comprometem a manter o isolamento em casa, ou submeter a um teste de sangue e continuar mais uma semana  em um outro hotel, com condições inferior ao que estavam até agora. 

Estes trabalhadores começam por dizer que estão tristes e exaustos após 23 dias fechados numa das unidades hoteleiras da ilha, contribuindo para a sua protecção, das suas famílias e da sociedade em geral. “Aqui somos bem tratados. Comemos muito bem e temos conforto nos nossos quartos. Mas, mesmo assim, não deixa de ser uma prisão, ainda que de luxo. Trocaríamos tudo isso para estar em nossas casas e perto das pessoas que amamos”, revela um dos colaboradores, sob anonimato.  

Publicidade

Admitem que todos estão ansiosos para sair daquele empreendimento turístico e ir para casa. Só que, agora que se aproxima do dia, também estão com medo. Dizem que no dia 30 de março o presidente da Câmara da Boa Vista esteve no hotel e anunciou que, na semana seguinte, iriam fazer o teste e, se os resultados fossem negativos, iriam para casa. 

“Infelizmente, passou mais uma semana e nada de testes. Ao contrário, a equipa médica veio nos colocar contra a parede: fazemos um teste fisico e, se tudo estiver  bem, assinaremos um termo de responsabilidade comprometendo a não sair de casa ou fazemos um teste de sangue e ficaremos em quarentena mais uma semana, agora em uma outra unidade hoteleira que, pelas informações que temos, não são ideias.”

Publicidade

Questionado a precisar que condições está a referir, a fonte não se coibiu em destacar a alimentação. “Temos informações de que as pessoas comem mal e fazem as refeições sempre fora de horas. Dizem que em alguns dias, almoçam por volta das 16horas e têm de implorar por uma simples garrafa de água, que tem que gerir durante pelo menos 24 horas”, relata a fonte. 

Esses trabalhadores recusam ir para casa sem fazer o teste. Afirmam que, caso estiverem doentes, para além de contagiar a família, podem colocar toda a comunidade em risco. Porém, têm pavor em estender o isolamento por mais uma semana, sobretudo em condições precárias. “Porque não estão a fazer-nos o teste, conforme prometeu o presidente da CMBV? É justo passar todo esse tempo aqui fechado porque somos uma ameaça para a população e agora sair sem ter nenhuma garantia de que não estamos infectados?”, interrogam desesperados. 

Publicidade

Sem saber o que fazer, estes trabalhadores alegam que foram colocados no fio da espada. Lembram que, nesta altura, as pessoas querem apenas ir para casa, mesmo sem saber se têm ou não o vírus. “Sabemos que muitos dos nossos colegas estão satisfeitos porque vão para casa este domingo. Mas a questão é se é razoável perguntar a uma pessoa esfomeada se quer comida. E foi isso que aconteceu aqui”, desabafa outro colaborador do hotel, para quem fazer o teste, nesta altura, parece uma punição, ou seja, mais uma semana de isolamento e não nas melhores condições. 

Por isso, há quem acredita que esta estratégia é para que um mínimo de pessoas faça o teste de despistagem. “Não estão a pensar no nosso bem-estar ou da sociedade como um todo. Não queremos deixar a quarentena sem fazer o teste, mas também não queremos continuar presos e em pior condições.” 

Constânça de Pina

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Um Comentário

  1. Lamentável, depois do contributo destes cidadãos, é assim que são reconhecidos. Acho que estão a conomizar os testes e depois vende-los para o estrangeiro. Façam os testes aos coitados para poderem descansar a cabeça um pouco.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo