Tolentino pede “envolvimento genuíno” na questão de Defesa e Segurança Nacional para evitar escândalos como o das FA
O antigo Ministro da Defesa Jorge Tolentino mostra-se preocupado com a Defesa e Segurança Nacional e interroga se haverá, nesta X Legislatura, serenidade e vontade política para se discutir as questões que exigem o genuíno envolvimento de todos. Numa publicação no Facebook, esse ex-governante do Executivo liderado pelo PAICV desafia quem de direito a fazer o que precisa ser feito, sob pena de se continuar em regime de angústia pelos escândalos que vão estalando. Evoca como exemplo o caso recente de abuso sexual nas Forças Armadas e que, diz, podem acontecer em outras corporações.
Segundo Tolentino, não quer continuar a calafetar e nem tentar contornar o nó dos problemas. Também, diz, não adianta alardear bandeiras, exemplificando com a “eterna” reforma das FA, cujo sentido e contornos em boa verdade de há muito deixaram de ser exprimidos com o necessário grau de convencimento e empenho. “É só analisar o definhamento institucional do sector da Defesa Nacional… É só perguntar pelo real e substancial contributo de uns e de outros, para lá das proclamações”, enfatiza Jorge Tolentino, para quem urge sair deste “rame-rame”.
Cabo Verde tem de ambicionar algo diferente, melhor necessariamente, mais eficaz com certeza, que garanta resultados e seja menos dispendioso, desafia o ex-ministro, augurando que nesta X Legislatura, em matéria de Defesa e Segurança Nacional, o Governo aja no “ataque”. Tolentino cita uma breve passagem de um texto da sua autoria intitulado “Estado de Direito e (in)Segurança em África”, partilhado em Janeiro de 2020, no qual refere um desafio essencial: o da construção de consensos nas matérias relativas à Defesa e Segurança.
“A politização dessas matérias nas últimas campanhas eleitorais foi um erro tremendo. Eu disse isso logo em 2016, enquanto convidado do ‘Jornal de Domingo’ da RTC. Continuo a pensar que vamos a tempo de controlar os estragos. Todos, mas sobretudo a classe política, temos de ser capazes de contribuir para um pacto de regime em matéria de Defesa e Segurança”, pontua, realçando que um desdobramento de tal pacto tem de ser o consenso constitucional para refundação do Sistema Nacional de Defesa e Segurança.
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É que, afirma Tolentino, o modelo vigente já está esgotado. “Precisamos de um novo e mais ousado desenho que melhor responda à nossa condição de pequeno Estado, arquipelágico, atlântico, vulnerável e sujeito a ameaças globais. Dar a Cabo Verde esse novo desenho equivale a um desafio geracional. Julgo que o Parlamento deveria ter a sagacidade de constituir um comité de personalidades para debater esta matéria e propor cenários.”
E declara que não haverá discussão produtiva se ela se confinar aos espaços contaminados pelas lógicas corporativistas e ou pelo despique partidário-parlamentar. “É preciso sair dos outeiros tradicionais e entrar nas estradas largas normalmente percorridas pelas academias, pelas fundações, por think-tanks, por pessoas que estudam e reflectem profundamente”, salienta Jorge Tolentino, para quem Cabo Verde precisa também neste domínio de pensamento crítico.