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Pilotos rejeitam corte de salário proposto pela Administração da TACV

O Sindicato de Pilotos de Aviação civil (SNPAC) está contra o corte de salários que a administração da TACV tenciona aplicar, segundo noticia o Santiago Magazine. Este online revela que, em  carta endereçada ao Conselho de Administração da companhia aérea nacional, os pilotos insurgem-se contra a medida garantindo que “nunca irão abrir mão dos direitos”, ao mesmo tempo que acusam os gestores de estarem a confundir “a opinião pública e o principal accionista, acerca das principais causas, actos e opções de gestão, que minam e enfraquecem a transportadora no mercado”.

A noticia de corte de mais 50 trabalhadores e redução dos salários dos pilotos, máximos de 550 contos por mês, foi manchete neste online no passado dia 4 de julho, mas parece uma copia mal feita de uma decisão da TAP do passado dia 20 de junho, que resolveu baixar em 25% o nível dos salários dos colaboradores que recebem a partir dos 1410 euros. No caso dos pilotos, o corte chega aos 35%. 

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Em reação, o SNPAC enviou uma carta ao Conselho de Administração da TACV rejeitando esta proposta e aproveitou para atacar este órgão responsável pela gestão da companhia. “Nós os trabalhadores, particularmente, a Classe dos Pilotos, cientes e conscientes da situação reinante na Empresa, que vem arrastando desde longa data e, transversal as diversas administrações da mesma, pautamos sempre por uma postura de decoro, cautela e elevada ética no que tange aos sucessivos sobressaltos e turbulências a que a nossa Empresa tem vivenciada”, lê-se na missiva, a que o jornal teve acesso. 

Cortina de fumo

Enquanto classe profissional, prossegue, os pilotos nunca abrirão mãos de valores que juraram defender, independentemente do perfil dos gestores que passaram ou passem pela empresa. “Colidindo frontalmente com a nossa postura e valores que nos animam, a Administração, num evidente esforço para confundir a opinião pública e principal accionista, acerca das principais causas, atos e opções de gestão, que minam e enfraquecem a transportadora no mercado e, vis a vis à concorrência, opções e atos esses que apoquentam e desassossegam a todos, faz recurso a uma cortina de fumo perversa, despropositada e deselegante, resolve expor publicamente a classe de pilotos, divulgando valores auferidos pelos membros da mesma sem qualquer pudor, evidenciando um desatino impróprio e inusitado para quem procura lançar pontes e era suposto estar melhor preparada para gerir os destinos da empresa num contexto nacional e internacional tão conturbado e volátil”, acusa.

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Mais, “a superficialidade e ‘pequenez’ na abordagem, conjugada com a necessidade de tirar o foco das verdadeiras razões do fracasso desta gestão, levou a que se omitisse na comunicação, aspectos relevantes relacionados com os valores que passaram a auferir os pilotos, há mais de dois anos e meio, como por exemplo o facto destes estarem auferindo 70% dos seus salários devido à situação de lay-off e, com o término deste regime estarem a receber até o momento, 62,5% do salário e, nunca no prazo acordado ou razoável, registando-se atrasos significativos no processamento. A este propósito e já que constatamos haver um uso (in)conveniente de valores e dados, convém salientar que, contrariamente ao que se veicula em surdina, a profissão de Piloto além-fronteira é muita valorizada, dadas às responsabilidades inerentes à profissão, de entre outros aspetos relevantes e específicos do sector”.

Proposta sem data e sem assinatura

Em termos de volume, explicam que o salário médio praticado em Cabo Verde, na sua remuneração, está entre os mais baixos no mundo da aviação, e de acordo com um estudo feito pelo Banco Mundial em 2011, os pilotos cabo-verdianos auferem entre 30% a 40% menos que seus colegas da costa oeste Africana, sendo isso do conhecimento do accionista principal e da autoridade que supervisiona e regula o sector. “Importa sublinhar que na semana passada, a Administração, apresentou aos sindicatos, uma pretensa tabela, num canto de uma folha A4, sem data nem assinatura de quem quer que seja, aquilo que se pretende ser uma proposta de redução salarial, que varia entre 5% a 35%, demostrando claramente de forma escamoteada a intenção de atingir os pilotos, já que a maior fatia recaia sobre os mesmos, sem qualquer fundamentação expressa, nem apresentação do correspondente estudo do impacto de tal medida nas finanças da Empresa. Estranho e incompreensível é que até a presente data, nenhum plano de negócio viável e consistente foi elaborado pelo CA, estando os indicadores desta administração em total contramão, do atual ‘boom’ da industria da aviação na sua generalidade, cuja demanda está a atingir os valores de 2019, como é do conhecimento de todos”.

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No que tange a gestão da companhia, a carta, de 8 de Julho é explica: “enquanto que, por estas bandas insistimos em manter na era da pandemia, como justificativa da não tomada de medidas concretas, credíveis e competitivas ao mercado, este CA liderado pela Dra. Sara, faltos de consciência do que é  o mundo da aviação, passa a vida nos meios de comunicação social falando dos problemas de tesouraria da empresa, inibindo a demanda aos serviços da TACV, fomentando a desconfiança e incertezas de potenciais e tradicionais utentes/mercados”.

Indo ainda mais além, diz que “a cereja no topo do bolo e que põe a nú a falta de foco e desnorte da administração, está refletida neste último e triste episódio com a EASA (Certificação TCO) em que a operadora se vê inibida de voar para o seu principal e único mercado, por incumprimento numa matéria básica e incontornável para se garantir a presença no negócio sem sobressaltos. Esta ocorrência que levou ao cancelamentos dos voos programados compromete a empresa, bem como as autoridades cabo-verdianas responsáveis pela supervisão do setor, fragilizando as chances de uma retoma vigorosa e plena das operações da nossa querida companhia de bandeira”. 

Impreparação e incompetência do CA

“Com essa atribulada e desajeitada gestão, o CA demonstra uma total impreparação e incompetência para estar à frente dos destinos da nossa empresa neste contexto conturbado e imprevisível, pelo que gostaríamos de deixar bem claro que recusamos categoricamente as tentativas perversas de imputar culpas e responsabilidades a qualquer classe profissional, responsabilidades essas que têm rosto e nome que não os de diligentes e dedicados trabalhadores da Empresa”.

:Este rosto e nome são os do CA, que de forma imoral e sem fundamentos, pede sacrifícios vários aos seus trabalhadores, em grandes dificuldades financeiras, chantageando-nos com o fantasma da falência da empresa, caso não cedamos às suas propostas de redução salarial, sendo que o custo salarial total ronda os 16% do custo fixo da empresa, que está muito aquém dos 25% aceitáveis, e desses 16%, o custo com o salário dos pilotos ronda os 6%, o que não justifica tal pedido, por não ter impacto significativo, e não seria esta medida a salvar a empresa, sendo que nosso salário vem das bagas do suor do nosso trabalho, não do roubo na empresa”, finaliza.

Fonte: Santiago Magazine

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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