PAICV denuncia ausência das autoridades públicas e diz que expectativa de “três por dia” para muitas famílias acabou em SV
O Presidente da Comissão Política do PAICV em São Vicente denunciou hoje, em conferência de imprensa, a ausência das autoridades públicas nesta ilha, onde se registam os maiores problemas sociais e económicos do país. Adilson da Graça Jesus garantiu ainda, citando uma moradora de Espia que a expectativa das famílias de fazer três refeições por dia acabou.
De acordo com Adilson Jesus, ao contrário daquilo que a ilha do Porto Grande demonstra como potencial de desenvolvimento nas mais diversas áreas, a sua capacidade de criar e encetar projetos para alavancar o seu desenvolvimento, tem sido reduzida, e por vezes, inexistente. “Os jovens, as famílias e as empresas vivem momentos difíceis, resultante de vários fatores, com especial atenção para a falta de emprego, baixos salários e aumento generalizado dos preços dos produtos e serviços”.
Por conta disso, afirma, muitas famílias hoje não conseguem honrar os seus compromissos com a renda de casa, eletricidade, água, gás e mais grave, com a saúde, educação e com a alimentação dos filhos. “A insegurança alimentar é provavelmente aquela que mais apoquenta as pessoas. É grave quando uma família não consegue fazer nenhuma das três refeições diárias. Como nos disse uma senhora na zona de Espia, hoje ela já não tem a expectativa de ter “os três por dia”. Disse-nos ela, “Dôs por dia, já era bom, má, um tava contentá em dá nhis mnine, pelo menos um prote d’cmida tud dia”, reforça.
Mas esta não é uma situação isolada em São Vicente. Segundo Adilson Jesus, as cinturas de pobreza da ilha escondem situações de miserabilidade que não podem ser aceites e têm que ser denunciadas. Situações que têm levado ao insucesso e abandono escolar, ao aumento de pessoas a viverem de e na prostituição e ao aumento de pessoas a pedirem nas ruas da cidade. Isto porque, quando as pessoas passam fome, recorrem a qualquer trunfo “pá escapá chitada d’fome”.
Aumento do consumo de drogas e álcool
“Parece-nos que esta pressão social terá uma relação direta com o aumento do consumo de drogas e álcool, pelos jovens e adolescentes e, por isso, com o aumento da criminalidade e da violência urbana. São Vicente já conheceu melhores dias. Já houve tempo em que se poderia andar pelas ruas da ilha, sem nos preocuparmos com a possibilidade de sermos assaltados ou sofrermos algum ‘cassibody’ com o perigo de sermos espancados violentamente”, pontua, exemplificando com os assaltos às casas e a estabelecimentos comerciais, como também ao uso de técnicas mais arrojadas que se tem ouvido falar.
O presidente da CPR citou ainda as perdas de vidas humanas, sobretudo jovens que poderiam ser o futuro da ilha e do país. “Os conflitos entre os grupos rivais, voltaram a ser uma realidade em São Vicente. O desporto que poderia ser uma grande zona de escape para os jovens, não merece nenhuma atenção das autoridades municipais ou centrais. Pois, muitos dos equipamentos desportivos existentes estão danificados e aqueles que foram prometidos, nunca foram construídos,” acusa, aproveitando para criticar o governo do MpD que, refere, acabou com os Centros de Juventude, que desempenharam um papel fundamental na integração dos jovens dos bairros mais problemáticos.
Em suma, diz, as pessoas em São Vicente não sentem nenhuma presença positiva das autoridades no seu dia. Isto porque, assegura, do governo central há muito que não se houve falar e, da Câmara Municipal, não fosse pela existência do edifício na Pracinha da Igreja, se poderia dizer que esta não existe, com exceção dos momentos de festas e festivais. “Estamos a viver uma época perdida em termos de direcionamento e orientação de políticas para o desenvolvimento da ilha. Não se vislumbra qualquer ação que se possa dignar a chamar de política pública. Estes dois principais atores, responsáveis pelo desenvolvimento da ilha, o Governo e a CMSV, estão perdidos sobre o que fazer por São Vicente e as suas gentes”, enfatiza o presidente do CPR do PAICV.
Falta de projectos
Lembra que o mandato vai a meio e ainda não se sabe o que o Governo pensa fazer com e para a ilha. E desconhece-se o problema é só incompetência ou um descaso consciente para com São Vicente. Por isso, aproveitou para apelar às forças vivas da ilha para, juntos, convocar o Governo e a CMSV, para assumirem o papel que os eleitores lhes confiou. Apelar ainda aos eleitos do MpD e da UCID para, junto com o PAICV, exigir que os poderes Central e Local cumpram o seu compromissos com a ilha.
“Não vamos falar de obras, porque isso já seria pedir demais. Queremos que a CMSV e o governo acordem e deem a cara, implementando medidas e ações de políticas económicas, sociais e de ensino que contrariam a continua degradação da situação das famílias e assim, evitar a depressão social generalizada. Coloquemos as nossas diferenças pessoais, ideológicas e partidárias de lado e foquemos na resolução dos problemas de São Vicente.”