Método de deteção de equistossomose desenvolvido por investigadores cabo-verdianos testado com sucesso em Moçambique

O Parasimax – método inovador para a detecção de Schistossoma haematobium em amostras clínicas desenvolvido pela empresa Bioanalítica, em colaboração com a Universidade Jean Piaget, e anunciado em primeira-mão pelo Mindelinsite – foi testado com sucesso em Moçambique. E começa a despertar interesse de outros países, designadamente do Brasil e Afeganistão. Em Cabo Verde, ainda é visto com desconfiança, situação que a Bioanalítica espera reverter com a sua apresentação em um workshop sobre Equistossomose organizado pela Região Sanitária de Santiago Norte nos dias 13 e 14 de março.
De acordo com o cientista Maximiliano Fernandes, o Parasimax muda a forma de diagnóstico laboratorial, permitindo detectar em questão de segundos o patógeno em amostras clínicas, ao invés de vários minutos como nos métodos clássicos. Em termos concretos, explica, mostra uma eficácia superior aos métodos desenvolvidos até a atualidade a nível mundial.
Quanto ao Schistossoma haematobium, diz, infecta em torno de dois milhões de pessoas e causa morte de cerca de 200 mil anualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde. E está presente em Cabo Verde, o que o leva a congratular-se com o sucesso dos testes feitos em Moçambique. “O método de detecção do Shistossoma haematobium está a ser testado em Moçambique com sucesso. Foi feita uma primeira experiência, mas sempre optamos por repetir e elaborar os respectivos relatórios para confirmar. Nesse sentido, hoje mesmo recolheram novas amostras em uma província a cerca de 100 quilómetros do centro. E os resultados já nos foram enviados”, detalha.

Maximiliano Fernandes elogia o contributo dos seus pares moçambicanos – Silvia Muchanga e Nhacha Isac – que detectaram na província de Tete não só Schistossoma haematobium, mas também schistosoma mansoni, a espécie muito perigosa comum no Brasil. “Conseguiram detectar com sucesso espécie de Schistossoma haematobium aplicando o novo reagente Parasimax da Bioanalitica. As imagens obtidas no microscópio mostram uma vantagem muito superior deste em relação aos métodos usados no dia a dia de laboratórios de todo mundo. Com esse resultado houve um aumento de interesse dos profissionais de Moçambique de várias províncias“, assegura, indicando que essas pesquisas são realizadas tanto em Cabo Verde e Moçambique.
E mais, acredita na possibilidade de aplicação mais consistente do método a partir de agora. E a prova disso, frisa, é que Moçambique já solicitou mais reagente reativo Parasimax. “É um grande reconhecimento por parte de investigadores de outros países para além de Moçambique, caso, por exemplo, do Brasil e do Afeganistão, desde o nosso trabalho. Mas, infelizmente, em Cabo Verde ainda não houve muito interesse das autoridades da saúde por esta nossa invenção. Esperamos reverter este quadro no workshop a ser realizado em S. Miguel, onde vamos fazer uma apresentação do nosso método, especificamente para profissionais de saúde.”

Durante este encontro, que acontece nos dias 13 e 14 e tem por objectivo analisar a situação epidemiológica relativo à equistossomose em São Miguel e em Cabo Verde, serão apresentados os estudos já produzidos sobre a doença. Os participantes – técnicos e profissionais de saúde da Região Sanitária de Santiago Norte, técnicos e investigadores da área da saúde humana, ambiental e animal e líderes comunitários – vão ainda traçar um plano de intervenção com o intuito de controlar e eliminar a doença na pequena comunidade de Cutelo Gomes e em todo o arquipélago.
“Vamos fazer uma apresentação do nosso método de detecção da doença, sendo que para isso iremos levar o nosso próprio microscópio”, sublinha, mostrando-se, no entanto, desconfortável porquanto, afirma, as autoridades nacionais ainda estão um pouco cépticas com a descoberta. Por isso, a iniciativa de levar os seus equipamentos para fazer uma projecção para que possam esclarecer e acabar com as desconfianças. “Esperamos por uma mudança de atitude, sobretudo a nível das autoridades.”
Paralelamente, explica, a Bioanalítica já iniciou contactos visando levar este conhecimento para outros pontos do país para que estas também possam começar a fazer testes. Questionado sobre a relevância de realizar testes em outras regiões do país, sendo que não foi detectado nenhum caso nas ilhas de Barlavento, Maximiliano Fernandes justifica dizendo que, em outros tempos não muito distantes, a partir da vinda de imigrantes provenientes da Costa da África, foram elencados casos suspeitos nas ilhas de Boa Vista e Sal, que nunca se confirmaram porque não se realizaram os testes necessários.
“Os estudos epidemiológicos mostram que o continente africano como um todo é afetado pela doença. Somos um país de imigração, pelo que é imprescindível adoptar medidas preventivas”, observa Fernandes, para quem a realização deste workshop resulta, essencialmente, da divulgação pelo Mindelinsite do surto da doença em Cutelo Gomes. A notícia, garante, obrigou o Ministério da Saúde a se movimentar no sentido de avaliar as medidas que poderão ser tomadas para controlar a doença.
O workshop vai acontecer no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Miguel e deverá reunir entre 30 a 35 participantes, conforme a programação divulgada pela Região Sanitária de Santiago Norte. Esta diz esperar ter profissionais de saúde com maior nível de conhecimento sobre a equistossomose, alcançar maior engajamento dos intervenientes que irão trabalhar no terreno e produzir recomendações técnicas que serão implementadas com vista ao controlo e eliminação da doença.
Foram convidados vários especialistas – médicos infectologistas e especializados em Saúde Pública, Técnicos do Ministério da Saúde, representantes dos laboratórios de Entomologia e de Virologia do Instituto Nacional de Saúde Pública, Delegada de Saúde de Santa Catarina, Directora do Serviço de Pecuária do MAA e investigadores – para o workshop. Destaque ainda uma intervenção online da epidemiologista de campo-Brasil, Veruska Maia.

Foi em Janeiro de 2024 que este cientista anunciou a descoberta deste método para pesquisa de parasitas em humanos e animais. Na altura, Maximiliano Fernandes já perspectivava que a descoberta iria atrair a atenção de laboratórios internacionais para Cabo Verde. E isso já começou a acontecer.