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Um estudo desenvolvido alunos e investigadores e publicado esta semana na revista científica internacional Frontiers in Marine Science revela que os tubarões identificados nas águas de Cabo Verde estão sob altas ameaças. Das 53 espécies encontradas no arquipélago, específica este levantamento, 66% das estão em perigo iminente de extinção.
O estudo, liderado por Jaquelino Varela, revela que 78 espécies de tubarões ocorrem na Macaronésia e Cabo Verde, e que dentro desta região, as Canárias apresentam a maior riqueza específica (56 espécies), seguido de Cabo Verde (53 espécies), Madeira (52) e Açores (45). Do ponto de vista da conservação, sublinha, Cabo Verde encontra-se sobre uma maior magnitude e diversidade de ameaças, com 66% das espécies em perigo iminente de extinção.
“A pesca, alterações climáticas e degradação de habitat são as principais ameaças. Os investigadores chamam a atenção para a pouca proteção que o atual quadro jurídico e governança oceânica oferecem aos tubarões no arquipélago”, detalha uma nota enviada à redação do Mindelinsite. Esta exemplifica dizendo que, em termos de áreas marinhas protegidas, Cabo Verde tem menos de 1% da sua Zona Económica Exclusiva protegida e deixando de fora zonas críticas para conservação de tubarões.
“Este estudo fornece dados valiosos e reforça a necessidade urgente de mais estudos e uma maior proteção de tubarões nas águas de Cabo Verde”, reforça o biólogo Jaquelino Varela, que é o primeiro autor do estudo e aluno de doutoramento do MARE- Marine and Environmental Science Centre.
O trabalho, explica, identificou as 10 espécies prioritárias de conservação para cada arquipélago e constatou que as seis primeiras são tubarões pelágicos, espécies que vivem em mar aberto. “Este resultado suporta a ideia anteriormente proposta de declaração de um corredor migratório na região que garanta alguma forma de proteção a estas espécies”, pontua.
Um achado interessante deste trabalho destacado por este biólogo é que a comparação das espécies de tubarões entre os arquipélagos estudados aponta para a exclusão de Cabo Verde da região biogeográfica da Macaronésia. Outro aspecto científico, que considera curioso, é que não se encontra nenhuma espécie ovípara (espécies que se reproduzem por meio de ovos) em Cabo Verde, enquanto seis foram encontradas nos outros arquipélagos.
O estudo foi desenvolvido por investigadores cabo-verdianos e portugueses da Universidade de Lisboa, MARE/ARNET, Associação Sphyrna, Inspeção Geral das Pescas, Associação Biosfera, Universidade Técnica do Atlântico e Universidade do Porto, no âmbito do projeto de investigação NGANDU, liderado pelo investigador Rui Rosa. Foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento.
O trabalho pode ser consultado na íntegra aqui.