O Presidente da República de Portugal Jorge Sampaio, que faleceu hoje em Lisboa aos 81 anos, visitou Cabo Verde por diversas vezes durante os seus dois mandatos, entre 1996 e 2006. Era um admirador assumido do “respeito pela democracia” no país, que passou por várias eleições sem conflitos de maior. Pessoa de uma simplicidade ímpar, em São Vicente, o Chefe de Estado luso fazia sempre questão de um passeio a pé pela rua de Lisboa.
Jorge Sampaio esteve em Cabo Verde em maio de 1996. Foi a sua primeira visita enquanto Presidente da República portuguesa para fora do país. Regressou em 1998 para participar na II Cimeira da CPLP, que teve lugar na cidade da Praia de 15 a 17 de julho e novamente em 2004. Desta vez trouxe consigo uma grande comitiva, tendo visitado as ilhas de Santiago, São Vicente e Fogo, acompanhado do então Presidente da República de Cabo Verde Pedro Pires.
Era uma viagem que fazia com gosto e o seu apreço pelo arquipélago era evidente nas suas declarações sobre o país. O exemplo disso foi uma declaração feita durante a visita oficial do Presidente Pedro Pires a Portugal, na sua primeira deslocação ao estrangeiro depois de eleito, em 2002, em que afirmou que “Cabo Verde é um exemplo vivo de que o desenvolvimento não depende da abundância de recursos, mas sim da sua maturidade política, do seu talento e indústria das suas gentes, do rigor dos seus governantes e da capacidade da sua administração”.
Em São Vicente, após cumprir os programas oficiais, Jorge Sampaio fazia sempre questão de dar um passeio a pé pela rua de Lisboa até a avenida Marginal, na Baía do Porto Grande, uma das mais belas do mundo. Era um trajecto descontraído, ainda que, de fato, o antigo chefe de Estado luso aproveitava para cumprimentar e ser saudado pelas pessoas, muitas vezes com apertos de mãos, abraços e alguns acenos mais tímidos e distantes de admiradores.
Ainda na mesma rua, também fazia questão de entrar no Café Portugal, um espaço icónico do centro da cidade do Mindelo, hoje encerrado. Antes, brincava com o facto de existirem dois cafés com fortes ligações a Portugal nesta rua, o Café Lisboa e o Portugal, optando sempre por este último por representar “o país inteiro, e não apenas a Capital”.
Foi-se o homem, mas ficam as lembranças.
