Coordenador do Programa Nacional de Saúde Mental critica segregação de pessoas portadoras de doenças mentais
O coordenador do programa Nacional de Saúde Mental condenou hoje no Mindelo a institucionalização de pessoas portadoras de doenças mentais, referindo-se em concreto ao Centro de Acolhimento de Doentes Mentais da Vila Nova, que tem neste momento cerca de 40 doentes. Aristides da Luz, que falava à imprensa a margem do 1º Fórum de Saúde Mental de São Vicente, realizado pela Delegacia de Saúde, admite que a criação do centro é uma boa iniciativa da Câmara Municipal em querer ajudar, mas afirma que não é recomendável ter tantas pessoas com doença mental num mesmo espaço. “Esta é uma critica construtiva no sentido de ajudar”, declarou.
Segundo este psiquiatra, a questão da institucionalização de pessoas portadoras de doença mental é uma luta que vêm desde os anos 20 do século. “Temos de ter muito cuidados nas nossas acções na saúde mental porque muitas vezes pensamos que as pessoas portadoras das doenças mentais precisam de estar em um espaço, precisam de apoio. Mas este apoio deve ser sempre no sentido da sua integração social. Quando não é possível integrá-los na família, que é sempre o primeiro objectivo, pode-se sim apoiar estas pessoas em termos de moradia. Mas não ter espaços com pessoas com doenças mental. Não podemos fazer isso para não alimentar o estigma em relação à estes doentes.”
O estigma é aliás, afirma Aristides da Luz, um dos principais perigos da institucionalização das pessoas portadoras da doença mental, porquanto pode resultar na cronificação da doença. Isto porque uma pessoa com doença mental que vive num hospital psiquiátrico ou em instituições com outras pessoas com problemas similares tem a tendencia a agravar ainda mais o seu quadro, assevera. “Vemos isso todos os dias. Já uma pessoa que vive com a família e trabalha, mesmo que seja algo mais simples possível, consegue ultrapassar o problema e tem uma melhor qualidade de vida”, diz.
Questionado sobre o panorama em SV, Aristides da Luz afirma que os serviços estão se adaptando e estão cada vez mais próximos das pessoas. “Há vários problemas de saúde mental seja em SV ou nas outras ilhas. Todos nós podemos ver a quantidade de pessoas consumindo substâncias psicoativas. É algo que já ultrapassa a própria saude. Por isso a saúde mental deve ser uma responsabilidade de todos porque as pessoas conseguem a droga porque ela está aqui. Há factores culturais e crenças em relação ao consumo do álcool. Então, para termos uma população com uma boa saúde mental temos que trabalhar todas estas vertentes. Não somente tratar a doença, que é a fase final de todo este processo”, assevera este psiquiatra, para quem a droga e o álcool são as principais causas das urgências psiquiátricas. São sobretudo jovens com alterações comportamentais derivado do consumo.
Relativamente ao Plano Estratégico Nacional de Saúde Mental para o período 2021/2025 apresentado esta manhã aos participantes do 1º Fórum de Saúde Mental de São Vicente, tem como ponto focal a integração dos cuidados de saude mental no pacto geral da Saúde, sobretudo nos cuidados primários. Preconiza igualmente a integração psicossocial das pessoas portadoras da doença mental crónica. O plano propõe uma visão territorial da doença, respeitando as diferenças demográficas, sociais e culturais das diferentes ilhas. Tem cinco eixos estratégicos: o desenvolvimento da criança, do adolescente e do actual; serviços de saúde mental; reabilitação; formação e investigação.