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Cessação de actividades da Biosfera no Ilhéu Raso: Coordenador do Programa GEF do PNUD “muito preocupado”

O coordenador do programa “Pequenas Subvenções para as Ongs” do PNUD (GEF – SGP), parceira da Biosfera, afirmou em entrevista ao Mindelinsite que respeita, mas está muito preocupado com a decisão desta associação ambiental de cessar as suas actividades de proteção no Ilhéu Raso. “É muito preocupante e pode ser considerado por alguns um bocadinho extremista, mas há que respeitar”, declarou Ricardo Monteiro.

De acordo com este responsável, enquanto parceiro da Biosfera, estão neste momento na segunda subvenção. “Somos neste momento parceiro em um projecto no montante de 50 mil dólares para a pesca sustentável. O projecto arrancou no início de 2020 e termina em novembro próximo e, nele, aplica-se as regras das boas práticas da pesca sustentável. Trabalha com pescadores de Salamansa que capturam recursos no complexo de Santa Luzia e Ilhéus.”

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Enquanto parceiro, o coordenador da GEF SGP do Pnud afirma que apoia a decisão da Biosfera de cessar actividades no Ilhéu Raso, mas é “muito preocupante” porque vai deixar uma reserva integral desprotegida. “A Biosfera é nossa parceira no trabalho em um complexo tão importante como é o de Santa Luzia e dos ilhéus. Vir dizer que vai suspender as suas actividades é muito complicado. Imagino o impacto que esta decisão vai ter em outros parceiros e no trabalho das próprias instituições que investiram recursos humanos e financeiro? Estando o complexo à deriva por abandono temporário da Biosfera, a depredação que já é acirrante vai naturalmente aumentar”, constata Ricardo Monteiro.

O mais grave, diz este entrevistado do Mindelinsite, é que este abandono ocorre no momento de emigração das cagarras de volta do Sul para nidificação em Cabo Verde. Neste sentido, refere Ricardo Monteiro, o impacto pode ser elevado, quando já se investiu muito na sua protecção. “A Fundação Mava investiu 800 mil dólares em Cabo Verde em um projecto para proteger a cagarra. Nós, os cabo-verdianos, temos de valorizar, apropriar, tirar as devidas oportunidades e reforçar a conservação da nossa biodiversidade. Por isso é que digo que é muito preocupante a decisão desta ong.”

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Neste sentido, e para evitar males maiores, este responsável disponibiliza-se para apoiar um diálogo e ajudar a sair deste impasse. “Como também estaremos abertos para apoiar as instituições que são responsáveis pelos recursos tanto nas áreas protegidas do Raso, dos ilhéus e da própria Santa Luzia para que se possa chegar a um denominador comum, que naturalmente existe e é claro para todos nós”, acrescenta, não sem antes deixar um alerta para se encontrar formas de trabalhar junto e potenciar todo o trabalho que a Biosfera vem fazendo ao longo dos anos.

Confrontada com a justificação de segurança avançada pela Biosfera de ameaças e risco de vida para as suas equipas, Ricardo Monteiro reconhece que é um problema, que vivenciou quando trabalhava no projecto de Conservação Marinha Costeira, em 2006-2009. Nesta altura, diz, já se sentida a pressão dos pescadores sobre a Biosfera porque alegam ter legitimidade para fazer e usar qualquer tipo de engenho.

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“Os anos passam e a pressão só aumenta. A Biosfera está há mais de 15 anos a sofrer este tipo de ameaças e pressão. Por isso, a que entender porque tomaram a decisão de suspender a sua actividade. A Biosfera quer e eu entendo que as pessoas sentem à mesa e resolvam para o bem do meio ambiente, dos pescadores e das pessoas que utilizam os recursos de Santa Luzia”, adverte.

Em jeito de remate, Ricardo Monteiro lembra que os recursos marinhos são dos cabo-verdianos e, portanto, é preciso ter uma ideia clara e objectiva de que precisam ser conservadas e propor medidas que permitam utilizar os recursos disponíveis hoje e que possam continuar a existir amanhã.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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