O PAICV convocou a imprensa hoje na Praia para pedir explicações ao Governo sobre o alegado envio de emissários à Venezuela no caso da detenção de Alex Saab que, a seu ver, colocou o país no meio de uma tempestade diplomática, envolvendo outros países e que está a criar um mal-estar entre os governos de Cabo Verde e da Venezuela. O Secretario-geral, Julião Varela, garantiu que o Governo, tentando disfarçar esta grave situação, quer agora passar as culpas para os outros, incluindo o PAICV, que de maneira nenhuma aceita ser cúmplice deste “imbróglio”.
Segundo Varela, desde ontem o país assiste a um grave incidente, envolvendo duas personalidades que ocupam ou ocuparam altas responsabilidades em cargos nomeados pelo Governo e que, tanto quanto se sabe, exercem influências no sistema MPD e costas quentes, inclusive para criticar publicamente dirigentes do PAICV.“O Governo, para lavar as mãos as suas mãos, toma a decisão de demitir um dos seus homens de confiança do cargo de PCA de uma empresa estratégica para o país de importação, comercialização e distribuição dos produtos farmacêuticos- Emprofac”, indica o SG tambarina.
Julião Varela diz entender que o Governo queira abafar esta questão e encerrar esta polemica incomoda que, a seu ver, demonstra falhas graves no mosaico diplomático cabo-verdiano. Estes diz entender ainda que se queira atirar ao PAICV, com o objectivo de transformar esta questão num objeto de barganha política entre os partidos e tentar, mais uma vez, ludibriar os cidadãos que se revelaram muito preocupados com, ao que tudo leva a crer, mais um deslize diplomático do MpD.
“O que o Governo tem que explicar, de forma clara, para todos compreenderem é se Gil Évora e Carlos Anjos foram ou não a Venezuela, como noticiados pelos órgãos de comunicação social estrangeiras e nacionais, com detalhes de uma investigação que parece baseado em bases e fontes seguras”, pontua, realçando que os cabo-verdianos precisam saber e o Governo, enquanto responsável pela gestão dos negócios do Estado, não pode esconder. Exige ainda saber porque e o que foram fazer.
Custos da viagem
O SG mostra-se ainda curioso em saber que assumiu os custos desta deslocação que, afirma, envolve avião privado semelhante ao que teria transportado Alex Saab. Segundo Varela, embora o Governo queira insinuar que se trata de uma viagem normal de cidadãos livres que, de sua livre criação, foram visitar este país da América Latina, para um turismo de curta estadia, tem de entender que não é qualquer cidadão neste país que tem o poder de compra para alugar um jatinho, como diz a informação largamente difundida, de Portugal para a Venezuela.
“Aqui entra, mais uma vez, a questão de custo porque uma viagem com estas despesas tem que ter um retorno que compense o investimento e que garanta lucros de negócios que todos nós desconhecemos”, indica este dirigente, para quem, o Governo tem de esclarecer também como é que estes cidadãos, ligados ao poder, conseguem no meio da Covid-19 circular com facilidade para países com fronteiras parcial ou grandemente condicionadas.
Pela sensibilidade e delicadeza do caso Alex Saab, diz Varela, o PAICV preferiu deixar as instituições da Justiça fazerem o seu trabalho, sem pressão e nem interferência política que pudesse condicionar as decisões legítimas dos Tribunais. Fez isso de forma responsável, não obstante saber que a questão tem contornos jurídicos, mas também políticos. No entanto, frisa, as informações veiculadas nos últimos dias, a confirmar-se, metem o país num escândalo que não pode contar com a cumplicidade do PAICV, sob pena de trair as suas responsabilidades para com os cabo-verdianos.
Para Varela, o Governo não pode esquecer que se está perante um alto funcionário de Estado que tem deveres acrescidos e cujas decisões podem comprometer a imagem do País. Por isso mesmo, esta questão não se resolve com uma demissão e a peregrina ideia do encerramento definitivo do caso, adverte, criticando ainda o facto desta ter acontecido no meio desta tempestade, sem esclarecimentos convincentes e sem inquéritos prévios para se apurar e divulgar os factos e as responsabilidades. “As coincidências acontecem, e estamos cientes disso, mas parece ser coincidência à mais, a viagem, as notícias, a demissão apressada e os comunicados com os quais o Governo pretende pôr ponto final a esta discussão”, ironiza.
Termina dizendo que o PAICV defende que a diplomacia deve continuar a ser uma questão de regime, estribada na verdade, na responsabilidade, na seriedade, na cumplicidade, no respeito mútuo e na valorização da competência de uma classe diplomática que tem cumprido o seu papel de forma exemplar e que orgulha o país.