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Bombeiros de São Vicente suspendem serviço devido a falta de equipamentos: Comandante admite falta de condições e risco pessoal

Os Bombeiros Municipais de São Vicente, com maior ênfase os de ambulância, resolveram suspender a prestação de serviço devido a falta de equipamentos. A  comunicação foi feita na manhã desta terça-feira ao comandante Jorge Leite, que diz concordar com esta posição dos seus subordinados devido ao risco pessoal, para os familiares e os mindelenses em geral. A situação é tão critica que, dizem, não dispõe dos equipamentos mais elementares, designadamente luvas e máscaras.

Ao que o Mindelinste conseguiu apurar, desde o inicio da manhã de hoje pelo menos três chamadas ficaram sem resposta da equipa de serviço no quartel dos bombeiros. Os soldados da paz recusam prestar qualquer tipo de serviço, nem mesmos os regulares, devido a falta de equipamentos. “Estamos sem os equipamentos básicos. Não temos nem luvas e nem mascaras para atender os casos de doenças, ferimentos ou outros. Os receios iniciais aumentaram significativamente após a noticia da existência de um caso suspenso de coronavírus na ilha”, desabafa um bombeiro, que falou a nossa reportagem sob anonimato por temer um processo disciplinar.

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Para se ter ideia o quão critica é a sua situação, uma outra fonte garantiu que há algum fizeram uma requisição de luvas simples, que demorou três meses para ser atendido. “Diariamente somos obrigados a usar luvas no terreno pois atentemos os mais variados casos de doença, incluindo algumas contagiosas. Mesmo assim, tivemos de aguardar três meses para receber luvas. Imagina então outros equipamentos como fatos de protecção completa, máscaras ou outros. Não estamos a fazer greve de zelo, apenas não temos condições de prestar serviço”, acrescenta. 

Corporação não está preparada

O Comandante dos BM de São Vicente, Jorge Leite, admite que a corporação não está preparada para prestar atendimento neste momento. “Desde que esta crise  do coronavirus despontou lá fora solicitamos alguns equipamentos necessários, mas ainda estamos a espera. Agora mesmo acabei de falar com o vereador do Pelouro da Protecção Civil, tutela dos BM, informando da decisão do pessoal de não prestar serviço. A sua resposta é que já entrou em contacto com o Serviço Nacional de Protecção Civil e com o Direcção Nacional da Saude e que estes vão fazer um esforço no sentido de enviar alguns equipamentos o mais rápido possível”, diz.

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Segundo Leite, neste momento precisam de todo o tipo de equipamento de protecção pessoa, desde luvas, mascaras, filtro e fatos completos. “Os nossos bombeiros precisam estar protegidos da cabeça aos pés. Felizmente, ainda não recebemos nenhuma chamada especifica sobre o coronavirus, mas estamos com medo de que isso venha a acontecer mais cedo ou mais tarde porque não estamos preparados. Ontem ficamos em alerta depois da noticia sobre o escrito Germano Almeida, que esteve em contacto com o seu colega chileno Luís Sepúlveda confirmado com a doença. A nossa preocupação aumentou ainda mais”, constata. 

É que, afirma, pela especificidade da sua profissão, contactam todos os dias um número indeterminado de pessoas pelo que, se qualquer um dos soldados for exposto, o risco de alastramento dispara. “É complicado quando não temos zero equipamentos. Foi neste sentido que os bombeiros me informaram na manhã de hoje da sua decisão de suspender o serviço. E não posso obrigar o pessoal a trabalhar pela sua saude e a minha também. Estamos a falar da segurança de todos”, frisa este responsável, realçando que assunto é muito sério e a ilha inteira está com medo. 

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Questionado se ficou surpreendido com a decisão dos bombeiros, o Comandante garante que já era previsível, tendo em conta a falta de condições de trabalho. “Estamos a falar de um serviço que enfrenta o Coronavírus de cara. Então, não foi surpresa nenhuma. Primeiro temos de criar segurança interna e pessoal, só depois que podemos garantir a segurança das outras pessoas. O mais grave é que o mercado local não dispõe de equipamentos também. Sabemos que a procura por mascaras e luvas aumentou exponencialmente, mas não há capacidade de resposta.”

Jorge Leite diz não possuir qualquer conhecimento médico, mas garante que a sua forma de ver e a de qualquer cidadão comum, é que a propagação do vírus é muito rápida e difícil de prevenir, tendo em conta que cumprimenta-se pessoas na rua – abraços, beijos e aperto de mãos -, o que contribui para o seu alastramento. Perante este cenário, o seu conselho neste momento é para as pessoas evitarem o contacto.

Triplica procura por equipamentos de protecção

De referir que, desde que começaram a circular noticias relativas ao coronavirus na China a procura por equipamentos de proteção, sobretudo mascaras e luvas, aumentou. Mas, de ontem para hoje, com o anúncio de um caso suspeito na ilha, esta busca triplicou. Numa breve consulta pelas farmácias no Centro do Mindelo, o Mindelinsite, confirmou uma enorme afluência de pessoas que querem comprar mascaras, álcool e luvas, que estes estão esgotados. Neste momento o mercado mindelense oferece apenas Vitamina C, cuja procura também aumentou. Em alternativa, os mindelenses estão a recorrer ao álcool etílico para higienizar as mãos. 

Constança de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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